São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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MARIA IGNEZ LONGHIN DE SIQUEIRA (1922-2008)

E a memória da psicóloga de São Carlos

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Justo ela, mulher tão culta, que mesmo idosa "impressionava com o conhecimento em palavras cruzadas", foi ser acometida pelo mal que temia -ela, que lia três jornais por dia, depois um pouco de poesia e algum romance grosso ou livro de psicologia. Maria Ignez Longhin de Siqueira, aos poucos, não lembrou de mais nada.
Nasceu em São Carlos (SP), a mais nova de sete filhos do casal de italianos do Vêneto que se conheceram no navio a caminho do Brasil. Dos sete, seis eram mulheres -dessas, cinco se formaram em magistério. Maria teve um caminho longo. Tinha seis quando o pai morreu e ia à escola com jornais nos pés, na falta de meias quentes.
"Era muito moderna para a época." Foi para São Paulo em 1941, morar em um pensionato, fazer "um concurso público atrás do outro" e lecionar na Escola Normal. Época em que conheceu o marido em um baile de Carnaval no Clube Piratininga.
Maria fez pedagogia e especializou-se em psicologia, com o registro no Conselho Regional, diz a filha, de número 0904. Atendeu em consultório, deu aulas em universidades e na antiga Escola Experimental da Lapa, onde se aposentou. Tinha 70 anos quando voltou a estudar, gerontologia social, e ligou para a filha, em Londres.
"Filha, hoje aprendi sobre o mal de Alzheimer. Pelo amor de Deus, quero morrer de qualquer coisa, não disso." Faz nove anos que se deu conta, ao visitá-la e se perder, que a memória se esvaía. Tinha dois filhos e quatro netos. Morreu na quinta, aos 85, de infarto.


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