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MARIA IGNEZ LONGHIN DE SIQUEIRA (1922-2008)
E a memória da psicóloga de São Carlos
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Justo ela, mulher tão culta,
que mesmo idosa "impressionava com o conhecimento
em palavras cruzadas", foi
ser acometida pelo mal que
temia -ela, que lia três jornais por dia, depois um pouco de poesia e algum romance grosso ou livro de psicologia. Maria Ignez Longhin de Siqueira, aos poucos, não
lembrou de mais nada.
Nasceu em São Carlos
(SP), a mais nova de sete filhos do casal de italianos do
Vêneto que se conheceram
no navio a caminho do Brasil.
Dos sete, seis eram mulheres
-dessas, cinco se formaram
em magistério. Maria teve
um caminho longo. Tinha
seis quando o pai morreu e ia
à escola com jornais nos pés,
na falta de meias quentes.
"Era muito moderna para
a época." Foi para São Paulo
em 1941, morar em um pensionato, fazer "um concurso
público atrás do outro" e lecionar na Escola Normal.
Época em que conheceu o
marido em um baile de Carnaval no Clube Piratininga.
Maria fez pedagogia e especializou-se em psicologia,
com o registro no Conselho
Regional, diz a filha, de número 0904. Atendeu em
consultório, deu aulas em
universidades e na antiga Escola Experimental da Lapa,
onde se aposentou. Tinha 70
anos quando voltou a estudar, gerontologia social, e ligou para a filha, em Londres.
"Filha, hoje aprendi sobre
o mal de Alzheimer. Pelo
amor de Deus, quero morrer
de qualquer coisa, não disso."
Faz nove anos que se deu
conta, ao visitá-la e se perder,
que a memória se esvaía. Tinha dois filhos e quatro netos. Morreu na quinta, aos
85, de infarto.
obituario@folhasp.com.br
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