São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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ENSINO PÚBLICO

Universidade propõe isenção de taxa do vestibular, cursinho para aluno da rede pública e cria campus na zona leste

USP busca alternativas à política de cotas

DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana passada, 800 estudantes da USP atenderam ao chamado da universidade. Candidatavam-se a uma das vagas abertas para monitores do Pró-Universitário, o curso pré-vestibular que a USP abrirá na zona leste e que dará aulas de reforço a 5.000 alunos carentes do ensino médio da região. O objetivo: capacitá-los a enfrentar com mais chances de sucesso a competição do vestibular.
A expressão "inclusão social" nunca foi tão mencionada nas universidades quanto no último mês, desde que o governo Lula lançou dois projetos de lei visando ampliar a participação de estudantes carentes e afrodescendentes no corpo discente das instituições federais de ensino superior.
Uma das propostas do Ministério da Educação, já enviada para o Congresso, prevê a reserva de 50% das vagas nas universidades federais para estudantes egressos do ensino médio de escolas públicas e para negros e pardos, na proporção de sua incidência na população de cada Estado.
Outro projeto pretende trocar isenção de tributos nas instituições privadas por bolsas integrais de estudo para jovens pobres.
A Unicamp, que também preza o critério de mérito como forma de acesso, baixou a guarda na semana passada com a aprovação, já para 2005, do Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social, que estabelece 30 pontos extras na prova do vestibular para os secundaristas da rede pública. Para os alunos de escolas públicas que se autodeclararem negros, pardos ou índios, serão 40 pontos.
A USP, que sempre se posicionou contra projetos de cotas, quer mostrar que existem alternativas de "inclusão social" que preservem o critério de mérito para ingresso no ensino superior. Assim, em vez de facilitar o acesso, a USP pretende reforçar a competitividade dos jovens pobres.
A idéia do cursinho na zona leste tem essa origem. A educadora Sônia Teresinha de Sousa Penin, pró-reitora de Graduação da USP, explica que uma deficiência básica dos alunos carentes refere-se a horas de estudo. Enquanto um estudante de bons colégios tem algo como seis horas diárias de aulas, entre escola e cursinhos de línguas ou de reforço, o jovem que vem de escolas públicas tem de se haver com quatro.
Ao fim dos 11 anos regulares de ensino básico, o jovem oriundo de bons colégios contabilizará pelo menos 3.960 horas de aulas a mais do que aquele que freqüenta a escola pública. Isso equivale a fazer quatro vezes um cursinho pré-vestibular extensivo.
"Estudar mais é necessário e faz diferença na hora de enfrentar o vestibular", explica a pró-reitora. "É aí que entra o Pró-Universitário, como forma de ampliar as horas de estudo qualificado", diz. Outra ação da USP para facilitar o acesso das populações pobres materializou-se na isenção da taxa de inscrição no vestibular, tida por muitos como fator excludente. O projeto ganhou fôlego: pulou de 20 mil isenções em 2004 para 60 mil em 2005. Com isso, a taxa a ser paga pelos demais candidatos subiu de R$ 75 para R$ 90.
O último e mais ambicioso projeto de inclusão social da USP é o da construção de um campus na zona leste da cidade de São Paulo.
Ao custo de R$ 53,3 milhões para as obras, a USP Leste ocupará uma área de 1,25 milhão de metros quadrados (o equivalente a 175 campos de futebol). No primeiro ano, admitirá 1.020 calouros divididos nos três períodos.
A USP Leste fornecerá cursos de gestão ambiental, sistemas de informação, gestão de políticas públicas, marketing, licenciatura em ciências da natureza, lazer e turismo, tecnologia têxtil e da indumentária, ciências da atividade física, gerontologia e obstetrícia. As aulas devem começar em fevereiro de 2005. E, para 2006, o campus da zona leste já tem outros dois cursos aprovados pelo conselho universitário da instituição: os bacharelados em tecnologia musical e em mídias digitais. (LAURA CAPRIGLIONE E FERNANDA MENA)


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