São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2005

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DIVERSIDADE SEXUAL

Segundo a polícia, o evento teve 1,8 milhão de pessoas; militantes falavam em 2,5 milhões e celebravam recorde

Parada Gay tem ampla presença feminina

André Porto/Folha Imagem
Bandeira do movimento GLBT estendida sobre a avenida, logo após o início da Parada Gay, ontem à tarde; público foi de 1,8 mi


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Na gíria, ""bolachas"" são as lésbicas. E as lésbicas Lucia Lourenço, a Gal, 33, e Karina Melo, 26, há quatro anos morando juntas, cantavam e dançavam a música com refrão: "Sou bolacha, sou criança, sou bolacha", enquanto acompanhavam um dos 23 trios elétricos que animaram a 9ª edição da Parada Gay de São Paulo.
Gal trabalha em telemarketing e Karina é operadora de máquina. As duas celebravam a presença maciça do mulherio. "Viu como tem mulher aqui? É um monte de armários se abrindo para a vida."
No trio elétrico da Amam, Associação das Mulheres que Amam Mulheres, a advogada Maria Stella Moreira Pires, a Mana, 62, dizia nunca ter visto parada gay com tamanha participação de mulheres. "Talvez já sejamos maioria."
Motoqueiras com jaquetas de couro, senhoras com perfil de professoras universitárias, jovens estudantes ou darks, como Aline da Silveira Correa, 19, "bissexual", segundo a própria definição dela, piercing no lábio inferior, comissária de bordo. "Viemos para mostrar que não temos vergonha do nosso prazer livre e feliz."
O evento que reuniu tantas bolachas começou ontem à tarde na avenida Paulista, em frente ao Colégio Objetivo, de onde saiu uma passeata rumo à praça da República, no centro de São Paulo.
Do alto do trio elétrico da organização, uma drag queen militante do Grupo Gay da Bahia proclamava a proeza: "Já somos 2,5 milhões na avenida. Este é o novo recorde mundial de uma parada gay". Enquanto isso, a Polícia Militar quantificava a presença de público em 1,8 milhão de pessoas, com base num levantamento concluído às 17h30 e realizado com a ajuda do helicóptero Águia.
Foi uma enorme brincadeira, regada a litros e litros de cerveja, uísque falsificado e vinho barato. Uma diferença e tanto em relação à Marcha para Jesus, realizada há três dias no local, onde o álcool cedeu lugar ao refrigerante. Aqui e ali, viam-se manifestantes fumando um cigarro de maconha, enquanto dançavam ao som de Ivete Sangalo, Cazuza e Cássia Eller.
O dia foi de mulheres recém-destrancadas do armário, como as avós Mathilde Carvalhaes da Motta, 58, e Adelita Munhoz de Albuquerque, 62.
Adelita chegou às 11h com a namorada Mathilde na Paulista. Foi sua primeira Parada Gay. "Se tem lésbica no horário nobre da Globo, se eu pago meus impostos e sou dona do meu nariz, quem vai me proibir de vir com minha namorada?", perguntou, enquanto tascava em Mathilde um beijo tão casto quanto os "selinhos" de Hebe Camargo em convidados do SBT.
As "bolachas" ainda são mais tímidas. Ao lado delas, muito mais à vontade, desfilavam gays como Rogério de Mattos Cardoso, 19, e Cleomilson Bezerra de Souza, também 19, delineador marcando os enormes olhos castanhos. Sem camisa, corpos esquálidos, eles trocavam beijos lascivos, enquanto beliscavam um o corpo do outro. Também mordiam-se e abriam a braguilha das calças.
O professor universitário Jean Wyllys, primeiro gay assumido a ganhar o "reality show" "Big Brother Brasil", da Globo, foi o famoso mais aplaudido. Do alto do trio, respondia aos gritos histéricos dos fãs jogando beijos.
Outro que arrancou suspiros foi o ator Bruno Gagliasso, que faz na novela "América" o papel de um garoto que está descobrindo sua homossexualidade.
Gagliasso protagonizou o momento hétero de um grupo de bolachas atrás do palco. Com namoradas de mãos dadas, elas esqueceram suas duplas ao saber que o galã escondia-se em uma van. Com gritinhos de fãs, procuraram papéis onde o rapaz pudesse escrever um autógrafo. Conseguida a assinatura, voltavam a segurar as mãos das namoradas.
A polícia não registrou ocorrências graves no evento até o fechamento desta edição.
Colaborou FABIO SCHIVARTCHE

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