São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jovem com paralisia cerebral é aprovada no exame da OAB

Flávia Cristiane, 26, passou na prova do ano passado, que teve só 15,9% aprovados

Após passar na terceira tentativa, ela se tornou a primeira advogada do Estado com paralisia cerebral, segundo a OAB

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Flávia Cristiane Fuga e Silva, 26, tem paralisia cerebral. Com dificuldades motoras e de fala, depende de cadeira de rodas e de ajuda para realizar tarefas como comer e tomar banho.
As dificuldades, porém, não impediram que Flávia se tornasse advogada, após ser aprovada no ano passado no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Considerada uma das mais difíceis do país, a prova de São Paulo teve naquela edição a aprovação de apenas 15,9% dos inscritos. Antes de passar, Flávia prestou o exame duas vezes.
A jovem recebeu ontem a carteira da Ordem, em uma cerimônia em São José dos Campos (91 km de SP), onde mora. Tornou-se a primeira advogada do Estado com paralisia cerebral, segundo a OAB-SP.
A paralisia cerebral é uma lesão de parte do cérebro. No caso de Flávia, foi causada por uma complicação no parto, que provocou falta de oxigenação no cérebro por 15 minutos.
Portadores da doença têm inteligência normal -a não ser que tenham sido afetadas áreas do cérebro responsáveis pelo pensamento e pela memória, o que não é o caso de Flávia.
Nascida em Campinas, Flávia se mudou com a família para São José dos Campos quando tinha um ano e meio. Freqüentou escola especial até os 14 anos. A partir daí, passou a estudar em colégios públicos convencionais.
Em 2001, prestou vestibular para direito -uma funcionária da faculdade assinalava as opções indicadas por ela- e conseguiu bolsa na Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Formou-se em 2005.
"Flávia freqüentava as aulas e prestava atenção às explicações dos professores. Para que pudesse estudar em casa, tirávamos cópia das anotações dos colegas. Já os professores ajudavam na hora das avaliações, preparando provas de múltipla escolha, já que ela não consegue escrever", conta o pai de Flávia, Eliezer Gomes da Silva.
No exame da OAB, Flávia contou com três horas a mais (total de oito) para concluir a prova da segunda fase. O tempo foi aumentado com a permissão da Comissão de Estágio e Exame de Ordem da OAB-SP.
"Foi uma forma de estabelecer um equilíbrio para que ela pudesse fazer o exame em iguais condições aos demais concorrentes", diz o presidente da comissão, Braz Martins Neto. São-paulina, Flávia gosta de sair, de ir ao cinema e a pizzarias. Desde o início do ano, ajuda o pai em seu escritório de advocacia, especializado em direito de família. Com a ajuda de um programa de computador, escreve peças judiciais, clicando em uma letra de cada vez.
Questionada ontem se estava feliz, Flávia sorriu e concordou com a cabeça. "Ela está conseguindo fazer com que os portadores de necessidades especiais obtenham respeito da sociedade", disse o pai dela.


Colaborou TALITA BEDINELLI


Texto Anterior: Caso Isabella: Provas contra casal são frágeis, diz defesa
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.