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Jovem com paralisia cerebral é aprovada no exame da OAB
Flávia Cristiane, 26, passou na prova do ano passado, que teve só 15,9% aprovados
Após passar na terceira tentativa, ela se tornou a primeira advogada do Estado com paralisia cerebral, segundo a OAB
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Flávia Cristiane Fuga e Silva,
26, tem paralisia cerebral. Com
dificuldades motoras e de fala,
depende de cadeira de rodas e
de ajuda para realizar tarefas
como comer e tomar banho.
As dificuldades, porém, não
impediram que Flávia se tornasse advogada, após ser aprovada no ano passado no exame
da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil).
Considerada uma das mais
difíceis do país, a prova de São
Paulo teve naquela edição a
aprovação de apenas 15,9% dos
inscritos. Antes de passar, Flávia prestou o exame duas vezes.
A jovem recebeu ontem a
carteira da Ordem, em uma cerimônia em São José dos Campos (91 km de SP), onde mora.
Tornou-se a primeira advogada
do Estado com paralisia cerebral, segundo a OAB-SP.
A paralisia cerebral é uma lesão de parte do cérebro. No caso de Flávia, foi causada por
uma complicação no parto, que
provocou falta de oxigenação
no cérebro por 15 minutos.
Portadores da doença têm inteligência normal -a não ser
que tenham sido afetadas áreas
do cérebro responsáveis pelo
pensamento e pela memória, o
que não é o caso de Flávia.
Nascida em Campinas, Flávia se mudou com a família para São José dos Campos quando tinha um ano e meio. Freqüentou escola especial até os
14 anos. A partir daí, passou a
estudar em colégios públicos
convencionais.
Em 2001, prestou vestibular
para direito -uma funcionária
da faculdade assinalava as opções indicadas por ela- e conseguiu bolsa na Univap (Universidade do Vale do Paraíba).
Formou-se em 2005.
"Flávia freqüentava as aulas
e prestava atenção às explicações dos professores. Para que
pudesse estudar em casa, tirávamos cópia das anotações dos
colegas. Já os professores ajudavam na hora das avaliações,
preparando provas de múltipla
escolha, já que ela não consegue escrever", conta o pai de
Flávia, Eliezer Gomes da Silva.
No exame da OAB, Flávia
contou com três horas a mais
(total de oito) para concluir a
prova da segunda fase. O tempo
foi aumentado com a permissão da Comissão de Estágio e
Exame de Ordem da OAB-SP.
"Foi uma forma de estabelecer
um equilíbrio para que ela pudesse fazer o exame em iguais
condições aos demais concorrentes", diz o presidente da comissão, Braz Martins Neto.
São-paulina, Flávia gosta de
sair, de ir ao cinema e a pizzarias. Desde o início do ano, ajuda o pai em seu escritório de advocacia, especializado em direito de família. Com a ajuda de
um programa de computador,
escreve peças judiciais, clicando em uma letra de cada vez.
Questionada ontem se estava
feliz, Flávia sorriu e concordou
com a cabeça. "Ela está conseguindo fazer com que os portadores de necessidades especiais obtenham respeito da sociedade", disse o pai dela.
Colaborou TALITA BEDINELLI
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