São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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Morador paga até perícia para se livrar de barulho

Contribuintes pagam cerca de R$ 2.000 por laudos para processar barulhentos

Insatisfeitos com o atendimento do Psiu, moradores tentam acabar com ruído por meio de ações judiciais

JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO

"Eu posso fazer barulho até as 22h!", respondeu o pastor da Igreja Mundial do Poder Deus, na Vila Santa Catarina, quando sua vizinha, a artista plástica Claudinéia Ferreira Martins, adentrou o culto dominical aos berros para reclamar da altura dos louvores de seus fiéis.
Foi a gota d"água para que ela tomasse uma atitude drástica e cara.
Cansada de ligar para o Psiu (Programa de Silêncio Urbano) e não ser atendida, resolveu contratar um perito judicial para emitir um laudo técnico que comprovasse que a igreja cometia abuso.
O perito José Gonzalez foi à sua casa em dois domingos e comprovou que a igreja estava fora da lei.
Antes das 9h, os cânticos atingiam 54 decibéis (dB) -o som de uma TV- dentro do quarto, ambiente em que os ruídos não devem ultrapassar os 45dB, segundo norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Do lado de fora, o barulho era ainda maior e, pelos dados coletados pelo perito, ultrapassavam até o limite permitido durante o dia.
Insatisfeitos com o atendimento do Psiu, cada vez mais moradores apelam para ações na Justiça comum contra vizinhos barulhentos.
Para isso, muitos recorrem a profissionais especializados em atestar o abuso.
São engenheiros e arquitetos que passam madrugadas inteiras nas casas dos reclamantes para emitir laudos de emissão sonora que custam, em média, R$ 2.000.
E esse é só o começo de um processo muitas vezes lento, desgastante e caro.
Os moradores do condomínio Rio Branco, na avenida de mesmo nome, também investiram em um laudo contra uma casa noturna.
"Ligamos para o Psiu diversas vezes. Eles diziam que viriam ao apartamento fazer a medição, mas não vieram.
Resolvemos agir", diz a síndica Jacira Costa Silva.

PROBLEMA SEU
O laudo, no entanto, não resolve tudo. A pedido da Folha, o perito José Gonzalez foi ao apartamento da coordenadora de suporte Anna Gadelha, na praça Benedito Calixto, de frente para a casa noturna Open Bar.
Segundo Anna, ela e seus vizinhos já fizeram inúmeras reclamações junto ao Psiu por causa da música alta. "A janela chega a vibrar", diz.
Porém, o perito atestou que, apesar do barulho, a casa está dentro da lei, pois o ruído do trânsito daquela área se sobrepõe à música. "Não dá para precisar a origem do ruído", diz Gonzalez.
Nesses casos, os especialistas oferecem, em vez do laudo, outro serviço: o projeto de adequação acústica.
O engenheiro Hamilton Tambelini, da empresa Ruído Menor, diz que, em geral, os clientes querem pular essa parte. "Já fiz projeto de R$ 150 mil, incluindo materiais e laudo. Às vezes, uma janela antirruído resolve grande parte do problema, mas cada uma custa entre R$ 2.000 e R$ 5.000. Infelizmente, o silêncio tem preço."

Conheça casos curiosos de ações por barulho
folha.com.br/ct742572


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