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Morador paga até perícia para se livrar de barulho
Contribuintes pagam cerca de R$ 2.000 por laudos para processar barulhentos
Insatisfeitos com o atendimento do Psiu, moradores tentam acabar com ruído por meio de ações judiciais
JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
"Eu posso fazer barulho
até as 22h!", respondeu o
pastor da Igreja Mundial do
Poder Deus, na Vila Santa
Catarina, quando sua vizinha, a artista plástica Claudinéia Ferreira Martins, adentrou o culto dominical aos
berros para reclamar da altura dos louvores de seus fiéis.
Foi a gota d"água para que
ela tomasse uma atitude
drástica e cara.
Cansada de ligar para o
Psiu (Programa de Silêncio
Urbano) e não ser atendida,
resolveu contratar um perito
judicial para emitir um laudo
técnico que comprovasse
que a igreja cometia abuso.
O perito José Gonzalez foi à
sua casa em dois domingos e
comprovou que a igreja estava fora da lei.
Antes das 9h, os cânticos
atingiam 54 decibéis (dB) -o
som de uma TV- dentro do
quarto, ambiente em que os
ruídos não devem ultrapassar os 45dB, segundo norma
da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Do lado de fora, o barulho
era ainda maior e, pelos dados coletados pelo perito, ultrapassavam até o limite permitido durante o dia.
Insatisfeitos com o atendimento do Psiu, cada vez mais
moradores apelam para ações na Justiça comum contra vizinhos barulhentos.
Para isso, muitos recorrem
a profissionais especializados em atestar o abuso.
São engenheiros e arquitetos que passam madrugadas
inteiras nas casas dos reclamantes para emitir laudos de
emissão sonora que custam,
em média, R$ 2.000.
E esse é só o começo de um
processo muitas vezes lento,
desgastante e caro.
Os moradores do condomínio Rio Branco, na avenida de mesmo nome, também
investiram em um laudo contra uma casa noturna.
"Ligamos para o Psiu diversas vezes. Eles diziam que
viriam ao apartamento fazer
a medição, mas não vieram.
Resolvemos agir", diz a síndica Jacira Costa Silva.
PROBLEMA SEU
O laudo, no entanto, não
resolve tudo. A pedido da Folha, o perito José Gonzalez
foi ao apartamento da coordenadora de suporte Anna
Gadelha, na praça Benedito
Calixto, de frente para a casa
noturna Open Bar.
Segundo Anna, ela e seus
vizinhos já fizeram inúmeras
reclamações junto ao Psiu
por causa da música alta. "A
janela chega a vibrar", diz.
Porém, o perito atestou
que, apesar do barulho, a casa está dentro da lei, pois o
ruído do trânsito daquela
área se sobrepõe à música.
"Não dá para precisar a origem do ruído", diz Gonzalez.
Nesses casos, os especialistas oferecem, em vez do
laudo, outro serviço: o projeto de adequação acústica.
O engenheiro Hamilton
Tambelini, da empresa Ruído Menor, diz que, em geral,
os clientes querem pular essa parte. "Já fiz projeto de R$
150 mil, incluindo materiais
e laudo. Às vezes, uma janela antirruído resolve grande
parte do problema, mas cada
uma custa entre R$ 2.000 e
R$ 5.000. Infelizmente, o silêncio tem preço."
Conheça casos curiosos de
ações por barulho
folha.com.br/ct742572
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