São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rabino pop ensina a cabala em área nobre do Rio e de SP

Shmuel Lemle diz ter congregação própria, e sua aula sai R$50

AUDREY FURLANETO
DO RIO

"Sou carioca, pô! Sou fluminense, gosto dos Beatles, dos Rolling Stones e de "Lost'", diz o rabino Shmuel Lemle, 41.
E Lemle não é pop só pelo gosto musical e televisivo. Às segundas e quintas, o rabino leva uma legião de alunos ao Leblon, na zona sul do Rio, para ensiná-los cabala, vertente mística do judaísmo.
A maior parte dos alunos é de classe A e B e costuma até usar seus I-Phones para anotar as explicações de Lemle.
No Rio, são três aulas na segunda-feira e três na quinta (à noite). Em São Paulo (na rua Oscar Freire, endereço que ele chama de "equivalente" à sede carioca do curso, na rua Dias Ferreira), são outras duas aulas, às terças.
"As pessoas buscam plenitude e satisfação. A cabala oferece respostas de como a pessoa, através de transformação pessoal, pode aprender a lidar melhor com dificuldades da vida", diz Lemle.
Exemplo prático: na última quinta, Lemle recebeu a visita de uma mulher, dona de uma rede de cafés no Rio, que tinha problemas com o síndico do condomínio onde estava uma de suas lojas.
"Ela precisava de alguém para dizer: "Calma, é só um café! Você tem seis outros cafés, sabe?". O professor espiritual não pode tomar decisões pela pessoa, só ajudá-la a ver. Ela saiu daqui bem mais calma", explica Lemle.
Nessa mesma semana, Lemle deu aula na loja da grife Louis Vuitton, em Ipanema, na zona sul. A aula, aberta só para convidados, teve como tema "A cabala e a indulgência ao luxo".
A ideia da grife era apresentar a Louis Vuitton a novos clientes, muitos deles já alunos de Lemle.
O rabino explica o fato de seus alunos pertencerem, de forma geral, a camada mais abastada da população: "Para poder procurar pelas respostas da alma, é preciso estar com o pão na mesa."
"Se você não tem o pão, não tem tranquilidade para pensar em espiritualidade", continua o rabino.
O próprio Lemle carrega uma bolsa Loius Vuitton, repleta de livros de Yehuda Berg -cabalista dos EUA em cujo centro de estudos uma água para "limpeza da alma" não sai por menos de R$ 10.

A VIDA É MAIS
Filho de médico e neto do rabino Henrique Lemle, que atuou na ARI (Associação Religiosa Israelita), uma das principais congregações do Rio, Shmuel Lemle estudou engenharia na PUC.
Um dia parou e se perguntou: "A vida é só isso? Pagar as contas, ir ao clube no domingo, ficar à beira da piscina falando quanto ficou o Fla X Flu ontem?" Não era.
Lemle foi estudar cabala em Los Angeles. Filiou-se ao Kabbalah Center, empresa que forma e espalha pelo mundo professores da antiga sabedoria judaica -desligou-se da rede recentemente, para iniciar carreira como cabalista autônomo.
Assistir a uma aula de Lemle custa R$ 50. O curso todo inclui três módulos (do básico ao avançado), com oito aulas cada.
Lemle nega, mas os poucos que compartilharam o momento contam que foi ele quem preparou a cerimônia do shabat (dia sagrado do judaísmo) para a cantora Madonna na sua temporada carioca, em dezembro de 2008.
Outros aprendizes famosos do rabino pop são o ator Cássio Reis (ex-marido de Dannielle Winitts) e o publicitário Nizan Guanaes.

AUTOAJUDA
Junto com a popularidade de seus cursos, vieram insinuações de que estaria promovendo a "comercialização" da sabedoria judaica. "Isso é inveja", diz Lemle.
Desligado de grupos judaicos do Rio, ele diz que tem sua "própria congregação".
Para rabinos como Nilton Bonder, 51, autor de vários livros sobre a cabala e membro da Congregação Judaica do Brasil, o problema é o reducionismo do ensinamento.
"Quando você tenta adaptar a cabala ao que o freguês quer ouvir, você sai da sabedoria. Sabedoria é, justamente, dizer o que não se quer ouvir", avalia Bonder.


Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: O Brasil do desemprego zero
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.