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Rabino pop ensina a cabala
em área nobre do Rio e de SP
Shmuel Lemle diz ter congregação própria, e sua aula sai R$50
AUDREY FURLANETO
DO RIO
"Sou carioca, pô! Sou fluminense, gosto dos Beatles,
dos Rolling Stones e de
"Lost'", diz o rabino Shmuel
Lemle, 41.
E Lemle não é pop só pelo
gosto musical e televisivo. Às
segundas e quintas, o rabino
leva uma legião de alunos ao
Leblon, na zona sul do Rio,
para ensiná-los cabala, vertente mística do judaísmo.
A maior parte dos alunos é
de classe A e B e costuma até
usar seus I-Phones para anotar as explicações de Lemle.
No Rio, são três aulas na
segunda-feira e três na quinta (à noite). Em São Paulo (na
rua Oscar Freire, endereço
que ele chama de "equivalente" à sede carioca do curso, na rua Dias Ferreira), são
outras duas aulas, às terças.
"As pessoas buscam plenitude e satisfação. A cabala
oferece respostas de como a
pessoa, através de transformação pessoal, pode aprender a lidar melhor com dificuldades da vida", diz Lemle.
Exemplo prático: na última quinta, Lemle recebeu a
visita de uma mulher, dona
de uma rede de cafés no Rio,
que tinha problemas com o
síndico do condomínio onde
estava uma de suas lojas.
"Ela precisava de alguém
para dizer: "Calma, é só um
café! Você tem seis outros cafés, sabe?". O professor espiritual não pode tomar decisões pela pessoa, só ajudá-la
a ver. Ela saiu daqui bem
mais calma", explica Lemle.
Nessa mesma semana,
Lemle deu aula na loja da grife Louis Vuitton, em Ipanema, na zona sul. A aula, aberta só para convidados, teve
como tema "A cabala e a indulgência ao luxo".
A ideia da grife era apresentar a Louis Vuitton a novos clientes, muitos deles já
alunos de Lemle.
O rabino explica o fato de
seus alunos pertencerem, de
forma geral, a camada mais
abastada da população: "Para poder procurar pelas respostas da alma, é preciso estar com o pão na mesa."
"Se você não tem o pão,
não tem tranquilidade para
pensar em espiritualidade",
continua o rabino.
O próprio Lemle carrega
uma bolsa Loius Vuitton, repleta de livros de Yehuda
Berg -cabalista dos EUA em
cujo centro de estudos uma
água para "limpeza da alma"
não sai por menos de R$ 10.
A VIDA É MAIS
Filho de médico e neto do
rabino Henrique Lemle, que
atuou na ARI (Associação Religiosa Israelita), uma das
principais congregações do
Rio, Shmuel Lemle estudou
engenharia na PUC.
Um dia parou e se perguntou: "A vida é só isso? Pagar
as contas, ir ao clube no domingo, ficar à beira da piscina falando quanto ficou o Fla
X Flu ontem?" Não era.
Lemle foi estudar cabala
em Los Angeles. Filiou-se ao
Kabbalah Center, empresa
que forma e espalha pelo
mundo professores da antiga
sabedoria judaica -desligou-se da rede recentemente, para iniciar carreira como
cabalista autônomo.
Assistir a uma aula de
Lemle custa R$ 50. O curso
todo inclui três módulos (do
básico ao avançado), com oito aulas cada.
Lemle nega, mas os poucos que compartilharam o
momento contam que foi ele
quem preparou a cerimônia
do shabat (dia sagrado do judaísmo) para a cantora Madonna na sua temporada carioca, em dezembro de 2008.
Outros aprendizes famosos do rabino pop são o ator
Cássio Reis (ex-marido de
Dannielle Winitts) e o publicitário Nizan Guanaes.
AUTOAJUDA
Junto com a popularidade
de seus cursos, vieram insinuações de que estaria promovendo a "comercialização" da sabedoria judaica.
"Isso é inveja", diz Lemle.
Desligado de grupos judaicos do Rio, ele diz que tem
sua "própria congregação".
Para rabinos como Nilton
Bonder, 51, autor de vários livros sobre a cabala e membro
da Congregação Judaica do
Brasil, o problema é o reducionismo do ensinamento.
"Quando você tenta adaptar a cabala ao que o freguês
quer ouvir, você sai da sabedoria. Sabedoria é, justamente, dizer o que não se quer ouvir", avalia Bonder.
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