São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Risco de morte maciça de plantas é grande, principalmente da palmeira licuri, natural da caatinga baiana

Clima de São Paulo é ameaça a espécies

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Palmeiras nos canteiros centrais na Faria Lima; nem todas sobrevivem fora do seu local de origem


DA REPORTAGEM LOCAL

O transplante de árvores adultas exige uma verdadeira operação tecnológica, segundo engenheiros agrônomos e florestais ouvidos pela Folha. Nem toda espécie se adapta em São Paulo, principalmente se plantadas no inverno, tempo de pouca água e luminosidade. Porém a operação é feita hoje em ritmo industrial. Resultado: possibilidade de morte em massa de plantas de R$ 2.000.
Os especialistas implicaram com uma das palmeiras do projeto -a licuri, típica do Nordeste. A Folha consultou cinco viveiros de São Paulo e um do Mato Grosso do Sul. Nenhum trabalha com licuris adultas, como exige uma das sete licitações da Emurb.
"A única vez que vi essa planta numa cidade foi em Feira de Santana (BA), cuja prefeitura as retirou da mata. Deveria ser exigida certificação de que as espécies vieram de viveiro. Caso contrário, é crime ambiental", afirma Felisberto Cavalheiro, geógrafo e engenheiro agrônomo da Universidade de São Paulo, com doutorado em paisagismo na Alemanha.
Em um dos editais de licitação do projeto Centros de Bairro, é prevista a compra de 144 licuris de seis metros a oito metros de altura mínima (R$ 800 a unidade). Uma planta dessas leva cerca de dez anos para atingir o porte exigido.
"Óbvio que as chances de sobrevivência desse tipo de planta é menor em São Paulo. Em geral, as palmeiras são suscetíveis. Dependem de um solo rico e não se adaptam a variações de temperatura. Imagine isso saindo da Bahia", afirma Antônio Natal Gonçalves, professor doutor de ciências florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba, no interior do Estado.
De acordo com ele, as palmeiras imperiais têm outro problema: o espádice da planta, que fica no topo, pode despencar. Em forma de espada, esse pedaço da palmeira chega a pesar 4 kg. A árvore ultrapassa os 20 metros de altura. "Em Ribeirão Preto, um homem foi morto assim", diz.
"Não é preciso ir tão longe", afirma Felisberto Cavalheiro. "Mesmo as folhas que caem costumeiramente da palmeira imperial podem ser um transtorno em uma avenida como a Faria Lima", diz. "Na verdade, é preciso pensar três vezes antes de plantar uma árvore na cidade", completa o engenheiro florestal Carlos Bantel.
Na opinião de João Batista Baitello, diretor do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, nem seria preciso buscar palmeiras em outro Estado. "A jerivá é típica da cidade. Era encontrada na várzea do rio Tietê. Há uma lista imensa de árvores que compõem a nossa paisagem", afirma.
Carlos Bantel se diz um fã incondicional das palmeiras. "Podem ser soluções bem-boladas, mas são restritas. Nem sempre atendem à função da árvore na silvicultura urbana, que é complexa", afirma. "Com R$ 2.000, eu faço uma praça inteira."
A operação tecnológica de transplante pode incluir até caminhões refrigerados, dependendo da espécie. Para replantá-las, é necessário um guindaste.
O sucesso da operação é garantido pela procedência da planta, que, de acordo com Cavalheiro, tem de ser apenas um: o viveiro. "Cultivar árvores urbanas exige domá-las. Podar as raízes de ano em ano é uma forma de fazer isso", diz o professor. (SD)

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