São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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Garotinho restringe polícia em favela

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de três casos nos últimos 15 dias em que policiais são suspeitos de matarem moradores em favelas, a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio decidiu baixar ontem resolução determinando que todas as incursões policiais em morros ou favelas sejam feitas com autorização expressa de um comandante ou oficial de um batalhão da PM e de um delegado (no caso da Polícia Civil).
O secretário Anthony Garotinho anunciou ainda a criação de uma comissão de avaliação técnico-operacional que ficará encarregada de investigar os casos de mortes de civis em confronto com a polícia. A comissão terá a participação da Inspetoria Geral de Polícia e das corregedorias internas da PM e da Polícia Civil.
A medida, diz Garotinho, pretende identificar se os policiais cometeram abusos ou assassinatos com a vítima indefesa. Desde janeiro de 2003, 1.589 pessoas foram mortas em confrontos com a polícia no Estado. O último caso ocorreu anteontem na favela Vila Cruzeiro (zona norte). Walter Landy Chery, 17, foi morto com um tiro na cabeça. Os moradores acusam PMs. A polícia nega e diz que a vítima pertencia ao tráfico.
No último sábado, Wilton Cesário da Silva, 13, foi morto com um tiro na cabeça no morro da Pedreira (zona norte). Testemunhas identificaram anteontem três PMs que teriam supostamente participado da incursão que resultou na morte do rapaz.
Segundo a polícia, a operação não era oficial. Seis PMs estão presos administrativamente e deverão ser soltos hoje caso não haja provas técnicas contra eles.
Garotinho disse que já era dever dos policiais informar aos seus superiores sobre incursões, mas que muitos não o fariam. Agora, a autorização terá que ser feita por escrito. "Os comandantes e oficiais de batalhão e os delegados serão os responsáveis pelos êxitos ou fracassos nas operações."
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, deputado Geraldo Moreira, disse que investiga 32 casos em que policiais são suspeitos de matarem inocentes.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar, Vanderlei Ribeiro, disse ser contra as novas medidas.
"A polícia vai ficar mais fragilizada e as organizações criminosas ficarão mais estimuladas para partir para o confronto."
A secretaria anunciou ainda a demissão ontem de 13 policiais civis com base em denúncias ao programa da secretaria Linha Direta. Segundo Garotinho, os principais crimes cometidos por eles foram extorsão e roubos e furtos de automóveis. Ele afirmou que há cerca de cem policiais presos por desvio de conduta.


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