São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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Dirigente de hospital deixa cargo após morte de 20 bebês

Ministério Público diz que condições na Santa Casa de Belém (PA) são precárias

Segundo dados do hospital, de janeiro a maio, 121 bebês morreram na UTI, o que representa 44,9% do total de 269 recém-nascidos

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA

A morte de 20 recém-nascidos na Santa Casa de Belém desde o último dia 20 causou a saída do presidente do hospital, Anselmo Bentes, que entregou anteontem à noite seu cargo ao governo do Pará. Com ele, também deverão sair os outros quatro diretores da instituição.
A gerência interina do hospital, uma autarquia estadual, será feita por Silvia Comaru, chefe de uma comissão multiprofissional instalada há uma semana para levantar as causas das mortes e propor mudanças.
"Ele [Bentes] já vinha manifestando a vontade de sair", disse a secretária da Saúde do Estado, Laura Rossetti. "Isso é só mais um problema a ser resolvido." A reportagem ligou ontem para dois telefones de Bentes, mas ninguém atendeu.
A comissão é composta por cinco médicos e cinco engenheiros está levantando os dados de mortes de crianças na UTI do hospital nos últimos cinco anos e os problemas de infra-estrutura.
Segundo o Ministério Público do Pará, faltam médicos e equipamentos na maternidade da Santa Casa, cujas instalações estão deterioradas, com infiltrações, baratas e ratos.
Dados da própria Santa Casa mostram que, de janeiro a maio deste ano, 121 bebês morreram na UTI, o que representa 44,9% do total de 269 recém-nascidos internados no período. No mesmo intervalo de 2007, a taxa chegou a 55,8%. A secretária da Saúde diz que as mortes têm ligação com a falta de atenção básica à saúde das gestantes.
"Porque 50% dessa população atendida vem do interior do Estado e não passa por uma unidade intermediária."
Segundo ela, a secretaria parte do princípio de que as mortes seriam evitáveis. "Por isso, [elas são] mais lamentáveis."
Na sala de espera da UTI neonatal da Santa Casa, a reportagem ouviu ontem mães que se disseram temerosas pela saúde dos filhos após divulgação das mortes.
"É muita tensão. Estamos esperando de tudo", afirmou ontem a empregada doméstica Helle Pantoja, 30, cujo filho, nascido no dia 17, está com uma grave infecção. "Ontem ele estava bem, hoje está entubado."


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