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Família perde doações em nova enchente
Aposentado que havia perdido móveis há 12 dias em Pernambuco viu cheia levar cestas básicas e roupas anteontem
Mais três mortes foram registradas em Alagoas, subindo para 57 o total de vítimas das chuvas nos dois Estados
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A BARREIROS (PE)
Há 12 dias, a família de Cícero dos Santos Alves, 38,
perdeu tudo na enchente do
rio Una, em Barreiros (PE).
Alojados em um abrigo, ele, a
mulher e as duas filhas voltaram para casa no último domingo. Levaram cestas básicas e roupas doadas.
Na segunda-feira, o rio voltou a subir. E tudo o que haviam recebido de doação foi
arrastado pela água. "Achava que não ia chover e perdi
tudo pela segunda vez", disse Alves. "Voltamos para casa e o rio encheu de novo."
Ontem, foram registradas
mais três mortes causadas
por novas cheias em Alagoas, informou a Defesa Civil. Com isso, são ao menos
57 os mortos no Estado (37) e
em Pernambuco (20) em decorrência dos temporais das
últimas duas semanas.
A Defesa Civil não registrava mortes desde a sexta.
Em Barreiros, o aposentado Alves, além da cesta básica da família, perdeu na chuva outras três, doadas para
os irmãos e que ele também
havia levado para casa.
"Guardei no andar de cima, junto com as roupas,
mas a água subiu e levou."
Alves já havia perdido os
móveis de casa na cheia do
dia 18. Um dia antes, pagara
a última das dez prestações
de R$ 180,15 da compra de
mesa, geladeira e armário.
"A água subiu até o primeiro andar e tivemos de sair
pelo telhado, sem levar nada", disse. "No sábado bateu
um solzinho e resolvemos ir
para casa no dia seguinte."
FILHA DOENTE
Na segunda enchente, as
paredes do sobrado que o
aposentado levou 13 anos para construir racharam. A família voltou a deixar o local,
mas teve que se separar.
A filha mais nova do casal,
Rayane, 2, começou a vomitar e foi levada para Recife
com a mãe. A mais velha, Rafaela, 6, foi para a casa de um
tio, na cidade de Abreu e Lima, região metropolitana.
Alves procurou abrigo na
casa da sogra, Maria de Lurdes. No local, passa o dia tentando consertar a TV e a geladeira, resgatadas da água.
"A cidade está uma carniça, mas quando as coisas voltarem ao normal vamos reconquistar tudo de novo."
Aposentado por invalidez,
ele vive com um salário mínimo por mês.
Na primeira enchente,
Barreiros, a 114 km de Recife,
registrou duas mortes. A nova cheia do rio Una reativou o
caos. Desabrigados acamparam às margens da rodovia
PE-60 e pedem ajuda com
placas voltadas para pista.
"Na estrada as pessoa dão
comida e roupas", disse
Cláudia Maria da Silva, 67,
que dorme há dias no acostamento com seis pessoas de
três famílias desabrigadas.
MORTES
As três mortes confirmadas ontem em Alagoas ocorreram em União dos Palmares (81 km de Maceió), onde
houve outros seis casos.
O Estado tem mais de 74
mil pessoas fora de suas casas e 69 desaparecidos -ainda não localizados. Há dez
suspeitas de leptospirose.
Das 28 cidades atingidas,
15 estão em estado de calamidade pública; 4, em situação
de emergência. Ontem, foi
montado um hospital de
campanha em Murici. Anteontem, outro havia sido
instalado em Branquinha.
Em Pernambuco, mais de
82.600 pessoas saíram de casa. São 27 municípios em situação de emergência e 12 em
calamidade pública.
Colaborou JOÃO PAULO GONDIM
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