São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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Família perde doações em nova enchente

Aposentado que havia perdido móveis há 12 dias em Pernambuco viu cheia levar cestas básicas e roupas anteontem

Mais três mortes foram registradas em Alagoas, subindo para 57 o total de vítimas das chuvas nos dois Estados

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A BARREIROS (PE)

Há 12 dias, a família de Cícero dos Santos Alves, 38, perdeu tudo na enchente do rio Una, em Barreiros (PE).
Alojados em um abrigo, ele, a mulher e as duas filhas voltaram para casa no último domingo. Levaram cestas básicas e roupas doadas. Na segunda-feira, o rio voltou a subir. E tudo o que haviam recebido de doação foi arrastado pela água. "Achava que não ia chover e perdi tudo pela segunda vez", disse Alves. "Voltamos para casa e o rio encheu de novo."
Ontem, foram registradas mais três mortes causadas por novas cheias em Alagoas, informou a Defesa Civil. Com isso, são ao menos 57 os mortos no Estado (37) e em Pernambuco (20) em decorrência dos temporais das últimas duas semanas.
A Defesa Civil não registrava mortes desde a sexta. Em Barreiros, o aposentado Alves, além da cesta básica da família, perdeu na chuva outras três, doadas para os irmãos e que ele também havia levado para casa.
"Guardei no andar de cima, junto com as roupas, mas a água subiu e levou."
Alves já havia perdido os móveis de casa na cheia do dia 18. Um dia antes, pagara a última das dez prestações de R$ 180,15 da compra de mesa, geladeira e armário.
"A água subiu até o primeiro andar e tivemos de sair pelo telhado, sem levar nada", disse. "No sábado bateu um solzinho e resolvemos ir para casa no dia seguinte."

FILHA DOENTE
Na segunda enchente, as paredes do sobrado que o aposentado levou 13 anos para construir racharam. A família voltou a deixar o local, mas teve que se separar.
A filha mais nova do casal, Rayane, 2, começou a vomitar e foi levada para Recife com a mãe. A mais velha, Rafaela, 6, foi para a casa de um tio, na cidade de Abreu e Lima, região metropolitana. Alves procurou abrigo na casa da sogra, Maria de Lurdes. No local, passa o dia tentando consertar a TV e a geladeira, resgatadas da água. "A cidade está uma carniça, mas quando as coisas voltarem ao normal vamos reconquistar tudo de novo." Aposentado por invalidez, ele vive com um salário mínimo por mês.
Na primeira enchente, Barreiros, a 114 km de Recife, registrou duas mortes. A nova cheia do rio Una reativou o caos. Desabrigados acamparam às margens da rodovia PE-60 e pedem ajuda com placas voltadas para pista.
"Na estrada as pessoa dão comida e roupas", disse Cláudia Maria da Silva, 67, que dorme há dias no acostamento com seis pessoas de três famílias desabrigadas.

MORTES
As três mortes confirmadas ontem em Alagoas ocorreram em União dos Palmares (81 km de Maceió), onde houve outros seis casos.
O Estado tem mais de 74 mil pessoas fora de suas casas e 69 desaparecidos -ainda não localizados. Há dez suspeitas de leptospirose. Das 28 cidades atingidas, 15 estão em estado de calamidade pública; 4, em situação de emergência. Ontem, foi montado um hospital de campanha em Murici. Anteontem, outro havia sido instalado em Branquinha.
Em Pernambuco, mais de 82.600 pessoas saíram de casa. São 27 municípios em situação de emergência e 12 em calamidade pública.


Colaborou JOÃO PAULO GONDIM


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