São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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CONVÊNIOS

Decisão enfraquece protesto de médicos contra operadoras de seguros-saúde, previsto para hoje em São Paulo

Hospitais e clínicas não aderem a boicote

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O sindicato que reúne hospitais, clínicas e laboratórios do Estado de São Paulo divulgou comunicado ontem em que veta a participação de seus associados no boicote a seguradoras de saúde previsto para hoje na capital.
São filiados à entidade um total de 360 hospitais, 433 laboratórios e 3.878 clínicas no município. A APM (Associação Paulista de Medicina), uma das organizadoras do boicote, informou ter sido surpreendida pela orientação e pedido que o Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de SP) retirasse o comunicado. "Não foi esse o termo da nossa conversa. Vai dar confusão", afirmou José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM.
A associação orientou os médicos a denunciar os estabelecimentos que vetassem o boicote contra os valores pagos pelas empresas.
De acordo com o presidente do Sindhosp, Dante Montagnana, se as clínicas aderirem ao boicote, correm o risco de ser acusadas de cobrar caução -uma garantia em cheque para o atendimento do segurado, vetada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, pesquisa feita em 2000 com os 34 mil profissionais então atuantes na capital mostrou que a maioria tem mais de um vínculo profissional -67% trabalham em hospitais e unidades da rede pública, 60% em hospitais e clínicas da rede privada e 55% em consultórios próprios.
As entidades médicas escolheram oito seguradoras como alvo do movimento: Bradesco Saúde, SulAmérica, Porto Seguro, Unibanco AIG, Marítima, Notre Dame, Itaúseg e AGF Brasil.
Durante o boicote, os médicos referenciados pelas seguradoras -aqueles que constam dos catálogos de serviços das empresas- devem atender somente pelo sistema de reembolso, segundo os organizadores.
O cliente terá de pagar o valor de referência definido pelas entidades médicas e depois, munido de recibo, buscar o ressarcimento na seguradora. Hoje, parte desses profissionais listados pelas operadoras atende pelo sistema de guias. O segurado assina um comprovante do atendimento, e a empresa é que paga o profissional.
Os médicos referenciados só poderão pedir reembolso de acordo com o definido na classificação de valores referenciais. O valor da consulta médica é de R$ 42.
No comunicado, o sindicato orienta os estabelecimentos a não admitir "em suas dependências cobranças que podem induzir (...) a pensar que tal conduta foi determinada pela empresa".
Segundo o presidente do Sindhosp, a maioria das clínicas tem contratos com as operadoras -é residual o número de estabelecimentos em que os profissionais assinam diretamente o compromisso com as seguradoras.
Ele afirma que só poderia participar do boicote quem tem contrato direto com a operadora. Mesmo assim, a cobrança teria de ser feita diretamente pelo profissional, e não pela tesouraria do hospital, clínica ou laboratório.
Segundo Montagnana, uma nova reunião deve ocorrer hoje com a associação de médicos.
O que ainda pode comprometer o movimento na capital é o fato de o município ter uma concorrência acirrada no setor -um médico para 264 habitantes, enquanto o padrão da Organização Mundial da Saúde é de 1/1.000.


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