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Presidente da Anac vai a Lula reclamar de atrito com Dilma
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Sentindo-se desautorizado e
humilhado pela ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) durante
reunião de ministros com dirigentes da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o presidente da agência, Milton Zuanazzi, reclamou diretamente
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e perguntou se deveria renunciar ao cargo. Lula
respondeu que não.
Na reunião, Dilma teria interrompido Zuanazzi várias vezes, insistindo na culpa da Anac
na crise aérea e exigindo medidas urgentes. Em alguns momentos, chegou a alterar a voz,
numa postura classificada de
"grosseira" por participantes
do encontro.
Ao se queixar com Lula, Zuanazzi se disse muito pressionado e, se o presidente quisesse
que ele saísse, ele poderia deixar o cargo livre a qualquer momento para evitar constrangimentos ao governo. Conforme
a Folha apurou, Lula foi quase
paternal com ele, disse que não
se poderia jogar toda a culpa
em uma pessoa ou um órgão só
e teria dito: "Deixa disso. Vamos trabalhar. Estamos nervosos, mas a Dilma é sua amiga".
Zuanazzi ponderou que, se
fosse de fato sua amiga, a ministra teria feito cobranças e
críticas reservadamente, não
em público, em meio a ministros e aos demais diretores da
Anac.
Indicado para a presidência
da agência por Dilma e pelo ministro Walfrido Mares Guia
(Relações Institucionais), seu
ex-chefe no Ministério do Turismo, Zuanazzi se queixou
com ele também.
Mares Guia fez então um
jantar para Zuanazzi na sua casa de Brasília, onde ouviu muitas queixas, inclusive quanto ao
comportamento da ministra, e
aconselhou o seu apadrinhado
a "resistir firme" no cargo.
O ministro voltou a repetir o
mesmo conselho num telefonema para Zuanazzi na última
sexta-feira, quando já circulava
na internet a possibilidade de
renúncia coletiva da Anac, algo
que ele desmente: "Isso [a renúncia] não passa de futrica",
disse Mares Guia.
Vexame
Apesar da versão e das notícias, cuja origem Zuanazzi e outros diretores atribuem à Casa
Civil da Presidência, ele tem
trabalhado normalmente e tem
dito que não vai renunciar. Os
diretores da Anac foram indicados pelo presidente, aprovados
pelo Congresso e têm mandato
de cinco anos. Seria "um vexame" renunciar, declarou um
dos diretores.
Como o clima é de enorme
tensão na agência, seus integrantes estão se desentendendo entre eles e há os que acusam a diretora Denise Abreu, ligada ao ex-chefe da Casa Civil
José Dirceu, de participar da
articulação para pressionar a
queda de toda a Anac, mandando recados via imprensa.
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