São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Y viva España!


Há algo de pornográfico em matar um animal, em vê-lo sofrer e seu sangue jorrar para delírio do público

OLÉ, ESPAÑA! Fantástica seleção espanhola que nos deixou babando de inveja. Arriba!
Bravo, Rafa Nadal! Ganhou Wimbledon em três sets corridos como quem vai à esquina comprar maçãs para completar a sangria.
Majestoso Alberto Contador. Aos tapuias não diz muito, mas é o ciclista que levou a Volta da França de 2010 numa vitória e tanto.
A rainha Sofia e o rei Juan Carlos devem ter se esfalfado de aplaudir seus conterrâneos. Haja sucesso!
Tem também o motociclista Jorge Lorenzo, vencedor do GP dos EUA, o triatleta Javier Gomez, que ganhou a etapa de Londres do Mundial e, claro, há ainda aquele piloto de F-1 -como se chama mesmo?- que desbancou Michael Schumacher. Duas vezes. E que andou vencendo o GP da Alemanha da semana passada para desgosto do segundo piloto da Ferrari, aquele outro menino, esqueci o nome.
Não bastasse isso, a Telefónica, segundo expressão usada pelo "Wall Street Journal", venceu a "batalha pela Vivo" e promete dominar a minha vida e a sua.
A Espanha virou um caso seríssimo. Nos últimos anos, seus rebentos têm consumido como norte-americanos e produzido como sul-americanos. Ainda assim, sua instituição bancária de alcance mundial continua aí com saúde para dar e vender, um fenômeno de bem-estar que a gente torce para que continue ad eternum, mesmo sabendo que um dia a Europa terá de pagar a conta por estes últimos tempos de gastança e crédito desmesurados.
Gostaria de celebrar a Espanha hoje, aqui, neste meu acanhado espaço, por um motivo muito importante. E, para demonstrar minhas boas intenções, retiro desde já toda a ironia embutida no parágrafo anterior, do qual já me arrependi.
Vamos lá: de todas as glórias que o país experimentou recentemente, nenhuma, na minha modestíssima opinião, se iguala ao Parlamento catalão ter proibido as touradas a partir de 2012.
Quem diria que viveríamos para ver um ritual de sacrifício que é ligado aos primórdios da história do Mediterrâneo, considerado patrimônio cultural e identificado como parte formadora do caráter de uma gente se tornar anacrônico durante o nosso tempo de vida?
O canastrão do Hemingway que vá reclamar pessoalmente com Jesus Cristo e que leve Picasso (outro que gostava de touradas) para desfiar o rosário com ele se quiser.
Eu digo que há algo de pornográfico e de macabro em matar um animal, depois de vê-lo sofrer e seu sangue jorrar para delírio e gáudio do público pagante.
Dentro do Coliseu de Roma é quase possível apalpar a distância que nos separa dos antigos romanos, medida que foi estabelecida por um código de ética cristão que prega a compaixão a todos os seres vivos.
Ver-se empolgado com touradas e brigas de galo é atentar contra o processo civilizatório do homem.
Diante da importância do voto contra as touradas como ato simbólico contra a crueldade, todas as considerações sobre a independência da Catalunha acabam tomando o assento do passageiro.
O respeito aos animais é sagrado por vários motivos. Entre outros, porque nos civiliza. Olé!

barbara@uol.com.br

@barbaragancia

www.barbaragancia.com.br



Texto Anterior: Análise: Após 20 anos de queda, país tende a diminuir mortes com menos rapidez
Próximo Texto: Há 50 Anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.