São Paulo, sábado, 30 de julho de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Pilotos do voo 447 também erraram, afirma relatório

Para agência francesa, após falhas técnicas, eles fizeram manobras inadequadas

Documento parcial aponta que Air France não os treinou para reagir a situações de risco em grande altitude

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Os pilotos do voo 447 da Air France não foram treinados pela companhia para reagir a situações de risco em grande altitude e fizeram manobras inadequadas que levaram à queda da aeronave, disse o BEA, agência francesa que investiga o acidente.
A aeronave caiu no Atlântico em 31 de maio de 2009, no trajeto Rio-Paris; as 228 pessoas a bordo morreram.
Divulgado ontem em Paris, o terceiro relatório parcial da agência informa que, não fossem falhas dos dois copilotos que estavam no comando, a tragédia poderia ter sido evitada -o comandante saíra da cabine para descansar.
O documento indica falha de treinamento pela Air France e não menciona problemas da Airbus, fabricante do A-330. Em relatório de maio, o BEA já apontara outro fator fundamental para a queda: o congelamento dos tubos pitot (sensores de velocidade), que pararam de funcionar.
O novo relatório diz que os pilotos também falharam.

NARIZ PARA CIMA
A análise revela uma série de problemas por conta das falhas no pitot. A Airbus, antes do acidente, recomendara a troca dos tubos, o que a Air France só fez depois.
O avião "estolou", o que significa perder a sustentação que lhe permite voar.
Segundo Jean-Paul Troadec, diretor da agência, mesmo com as velocidades incoerentes transmitidas pelas sondas pitot, o Airbus não cairia se o nariz do avião fosse colocado para baixo de modo a ganhar velocidade e recuperar a sustentação.
Nos minutos antes da colisão com o mar, após desviar de uma zona de turbulência, o copiloto no comando fez manobra inversa: manteve o nariz empinado. O avião perdeu velocidade e caiu em três minutos e meio, a 200 km/h.
Essa decisão é tida como a principal falha humana. O BEA, porém, diz ser cedo para concluir que um erro humano é a causa da tragédia.
"Os pilotos podem ter ficado confusos com os alarmes intermitentes na cabine e não teriam entendido que o avião perdia sustentação. O mais difícil será compreender o que orientou a ação dos pilotos", disse Alain Bouillard, chefe das investigações.
A transcrição das gravações na cabine revela que os pilotos não sabiam se o avião descia ou subia. O alarme de perda de sustentação disparou várias vezes.
Vinte segundos antes de o avião cair, o copiloto no comando afirmou: "Você subiu". Recebeu como resposta do outro copiloto: "Eu subi?".
Os investigadores não souberam explicar por que o comando foi assumido pelo copiloto menos experiente. Outra problema: o comandante deixara o posto sem distribuir com clareza as funções.
Os passageiros não foram alertados pela tripulação sobre o estado de emergência.

FAMÍLIAS
Os familiares das vítimas do voo 447 no Brasil e na França criticaram o relatório.
"É brincadeira culpar alguém que não está aqui para se defender. Especialistas renomados disseram que foi defeito de peças do avião.
Houve falha mecânica. Repudiamos as acusações contra os pilotos", disse Nelson Marinho, presidente da associação de vítimas brasileiras.
A francesa Danielle Lamy, que perdeu o filho no acidente, acredita que o BEA esteja tentando "desviar a atenção de um problema técnico para um problema humano".
Para Carlos Camacho, do Sindicato Nacional dos Aeronautas do Brasil, as recomendações do relatório ("pífias") atendem aos interesses de Airbus e Air France.
"Culpar o piloto é fácil. Eles não tiveram treinamento adequado e não souberam reagir a um avião completamente automatizado."
O documento do BEA faz também dez recomendações de segurança. O relatório final será o próximo a sair, no primeiro semestre de 2012.

Colaboraram ANDRÉ MONTEIRO e DIANA BRITO


Próximo Texto: Air France acusa Airbus, que culpa ação de pilotos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.