São Paulo, sábado, 30 de julho de 2011

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ANÁLISE

Texto é contundente, mas deixa questões técnicas sem resposta

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo relatório francês é um contundente ataque aos procedimentos adotados por empresas aéreas, mas é no silêncio sobre questões técnicas em que talvez resida sua maior eloquência.
A Air France sai mal na foto até aqui. O relato transparece displicência da tripulação, e isso não tem nada a ver com o fato de o piloto principal estar descansando quando os problemas começaram.
A soneca é normal, o que soa estranho é o piloto deixar poucas ordens claras e o copiloto menos experiente como o responsável primário pelos controles do avião.
O relatório não culpa ninguém. Nem é sua função, sendo esta dar recomendações de segurança a partir dos fatos. Mas serve de baliza para entender o que aconteceu.
Se usa termos duros para com os pilotos, vale também a máxima de que morto não tem direito a réplica. E a indústria, da também muito francesa Airbus, sai relativamente ilesa no texto.
É reafirmado o congelamento das sondas que medem a velocidade do avião, os pitots. Com isso, os computadores foram alimentados com dados contraditórios, levando a uma situação para a qual os copilotos não haviam sido treinados, de perda de sustentação em alta altitude.
Só que apenas são citados os parâmetros da queda, inclusive o mais perturbador de todos: desde que o alarme de perda de sustentação disparou, os estabilizadores horizontais da cauda travaram num ângulo de 13 -estavam em 3 durante o voo.
Os estabilizadores, ou profundores, são as duas asinhas na cauda do avião, essenciais para mantê-lo no ar e fazê-lo subir ou descer.
Com a inclinação, ele ficou com o bico apontado para cima, perdendo velocidade e consequentemente "estolando" (caindo como pedra).
Os estabilizadores podem, segundo hipótese defendida pelo especialista alemão Gerhard Hüttig (que assessora as famílias das vítimas), ter travado por uma ordem errada do computador do avião -que estava enlouquecido com as leituras divergentes de velocidade.
A Airbus nega isso, mas segundo Hüttig a empresa recentemente fez um alerta sobre como controlar manualmente estabilizadores em caso de perda de sustentação.
Seja como for, os estabilizadores inclinados por culpa do computador ou dos pilotos impediram a retomada de controle do A-330.
Não é preciso ser teórico em conspirações para entender a suspeita dos advogados das famílias: indenizações por problemas técnicos são muito mais objetivas do que por erros de pilotos mortos, e tanto Airbus quanto Air France têm participação acionária do Estado francês.
A resposta estará no relatório final da investigação.


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