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EDUCAÇÃO
Patrocinadores viabilizariam a compra do kit para os alunos da rede pública municipal; proposta causa polêmica
Serra libera anúncio em uniforme escolar
RENATA BAPTISTA
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito de São Paulo, José
Serra (PSDB), decidiu permitir
que os uniformes escolares da rede pública municipal de ensino
tenham propagandas.
Segundo a proposta, em troca
da publicidade, as empresas vão
bancar a compra das roupas dos
900 mil alunos beneficiados. O kit
escolar incluirá agasalho, calça,
meias e até roupa íntima, num total de nove peças.
A medida será viabilizada por
meio de um acordo com a Abravest (Associação Brasileira do
Vestuário), que irá procurar patrocinadores para os kits.
O coordenador da ONG Ação
Educativa, Sérgio Haddad, afirmou que considera a idéia uma
"invasão do setor privado no espaço público".
"A melhor maneira de as empresas ajudarem é pagando os
seus impostos. Ou financiando
projetos específicos. Alguém perguntou para as crianças?"
Segundo o secretário da Educação, José Aristodemo Pinotti, alunos, professores e pais não foram
consultados formalmente. Pinotti
diz ter feito uma pesquisa informal com as crianças em três escolas que visitou recentemente. Recebeu a "aprovação" depois de dizer que, com os R$ 70 milhões que
gasta por ano com as roupas, fará
mais escolas. "Eu estou favorável
desde que isso não agrida as
crianças", disse Pinotti.
O promotor da Infância e da Juventude Vidal Serrano disse que o
órgão acompanhará a mudança e
afirma não haver irregularidade,
desde que não haja exagero na
propaganda. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe que os
menores sejam expostos a situações vexatórias.
Serra acredita que não dará
tempo para que os uniformes patrocinados sejam entregues no
primeiro semestre do próximo
ano. Por esse motivo, a aquisição
dos uniformes de verão para o início do ano letivo de 2006 ficará
ainda por conta da prefeitura. Os
novos, com propaganda, seriam
distribuídos no segundo semestre, com roupa de inverno.
"Essa campanha da Abravest
para arrecadar recursos entre
seus associados pode ter sucesso
total ou parcial, ou ainda não dar
certo", disse Serra.
Já o presidente da Abravest, Roberto Chabad, acha que será possível captar os recursos para doação dos kits escolares já para o início do próximo ano. Segundo ele,
os alunos do último ano de moda
da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) entregarão protótipos de uniformes até a próxima
sexta-feira, que serão enviados à
prefeitura para seleção.
"Já entramos em contato com
bancos, supermercados, Fiesp e
redes de telefonia para saber se
têm interesse em fazer a propaganda nas roupas", afirmou.
De acordo com Chabad, os locais destinados à propaganda nos
uniformes provavelmente serão
nas duas mangas da camisa e na
coxa da perna direita. "O prefeito
viu e achou muito sutil."
De acordo com Pinotti, a prefeitura vetou propagandas de cigarros e bebidas e terá de aprovar todos os patrocinadores.
O presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São
Paulo), Cláudio Fonseca, disse ser
contrário à utilização de propagandas nos uniformes escolares.
"Os alunos não devem ser usados como outdoors." Segundo
Fonseca, a economia que a prefeitura vai conseguir com a medida
não é justificada. "Existem recursos orçamentários destinados a
este fim", disse.
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