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FUMAÇA
Pesquisa da sociedade de cardiologia mostra que percentual saltou de 10% para 20,5% no país; entre os homens, houve queda
Aumenta o número de mulheres fumantes
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As mulheres, especialmente as
moradoras na região Sudeste, estão fumando mais. Na última década, o percentual de mulheres tabagistas saltou de 10% para
20,5%, segundo dados preliminares de uma pesquisa da Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC),
divulgada ontem, Dia Nacional de
Combate ao Fumo.
Entre os homens, o processo foi
inversamente proporcional. Os
fumantes representam hoje 28%
da população masculina entrevistada -há dez anos, eram 38%.
Para a pesquisa, foram entrevistadas 2.550 pessoas em 74 cidades
brasileiras. O total de brasileiros
fumantes não se alterou: permanece em torno de 24%.
O fato de o Sudeste reunir, proporcionalmente, o maior percentual de mulheres fumantes
(25,2%) pode ser explicado por
elas estarem mais expostas ao estresse causado pela sobreposição
de atividades (cuidar dos filhos e
da casa, além de trabalhar fora),
na avaliação da médica Silvia
Cury, coordenadora das campanhas antitabagistas da SBC.
Já a região Nordeste concentra o
maior percentual de mulheres
que abandonaram o vício
(20,3%). Entre os homens, os ex-fumantes concentram-se no Norte e Centro Oeste (32,1%). Não há
uma razão conhecida para isso.
Segundo o cardiologista Raimundo Marques do Nascimento,
diretor da SBC/Funcor, as mulheres têm mais dificuldade de parar
de fumar e também apresentam
maior chance de recaídas em
comparação aos homens. Os dados referentes a essas situações
ainda não foram tabulados.
Outra vez, os fatores emocionais seriam a explicação. "As mulheres usam o cigarro como antidepressivo", diz Nascimento.
A publicitária Cristina Lima, 46,
é um exemplo. Fumante desde 14
anos, ela já tentou parar de fumar
três vezes, mas a abstinência não
passou de dois meses. "Faltou força de vontade. O cigarro virou
uma muleta que eu uso para controlar a ansiedade", confessa.
Além dos riscos cardiovasculares, a mulher fumante tem mais
chances de se tornar infértil.
Abandono
A pesquisa mostrou também
que 21% do total de entrevistados
relataram que deixaram o cigarro
nos últimos dez anos. Mas só boa
vontade não basta. "Em muitos
casos, é preciso unir a força de
vontade a medicamento e terapia.
Ainda assim, o índice de recaída é
de 50%", afirma o médico.
O problema é acesso ao tratamento. Anunciado no ano passado pelo governo federal, o tratamento da dependência do tabagismo na rede do SUS não saiu do
papel, segundo Silvia Cury. Os
centros de atendimento esbarram
na falta de adesivos, gomas de
mascar de nicotina e medicamentos -terapia necessária para 40%
dos 23 milhões de fumantes brasileiros, segundo o governo.
No Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo
(PrevFumo) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), por
exemplo, 70% dos pacientes têm
grau de dependência que demanda tratamento com medicação.
O núcleo atende 5.000 pessoas
por ano e pelo menos dois terços
dos pacientes têm dificuldades de
bancar a terapia antifumo -que
custa de R$ 120 a R$ 200 mensais.
O levantamento da SBC detectou ainda que a faixa etária com
maior índice de tabagistas está entre 35 e 44 anos, com 28,1% do total de entrevistados. A terceira
idade (acima de 54 anos) foi a que
apresentou maior taxa de ex-fumantes: 31,6%.
A pesquisa sobre tabagismo integra o Projeto Corações do Brasil, um estudo inédito realizado
pela SBC que traça uma radiografia da incidência dos principais fatores de risco para o coração.
Além do tabagismo, foram levantados dados sobre hipertensão, colesterol, diabetes, sedentarismo, hereditariedade, alcoolismo, estresse, depressão, drogas e doença vascular periférica.
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