São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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FUMAÇA

Pesquisa da sociedade de cardiologia mostra que percentual saltou de 10% para 20,5% no país; entre os homens, houve queda

Aumenta o número de mulheres fumantes

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres, especialmente as moradoras na região Sudeste, estão fumando mais. Na última década, o percentual de mulheres tabagistas saltou de 10% para 20,5%, segundo dados preliminares de uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), divulgada ontem, Dia Nacional de Combate ao Fumo.
Entre os homens, o processo foi inversamente proporcional. Os fumantes representam hoje 28% da população masculina entrevistada -há dez anos, eram 38%. Para a pesquisa, foram entrevistadas 2.550 pessoas em 74 cidades brasileiras. O total de brasileiros fumantes não se alterou: permanece em torno de 24%.
O fato de o Sudeste reunir, proporcionalmente, o maior percentual de mulheres fumantes (25,2%) pode ser explicado por elas estarem mais expostas ao estresse causado pela sobreposição de atividades (cuidar dos filhos e da casa, além de trabalhar fora), na avaliação da médica Silvia Cury, coordenadora das campanhas antitabagistas da SBC.
Já a região Nordeste concentra o maior percentual de mulheres que abandonaram o vício (20,3%). Entre os homens, os ex-fumantes concentram-se no Norte e Centro Oeste (32,1%). Não há uma razão conhecida para isso.
Segundo o cardiologista Raimundo Marques do Nascimento, diretor da SBC/Funcor, as mulheres têm mais dificuldade de parar de fumar e também apresentam maior chance de recaídas em comparação aos homens. Os dados referentes a essas situações ainda não foram tabulados.
Outra vez, os fatores emocionais seriam a explicação. "As mulheres usam o cigarro como antidepressivo", diz Nascimento.
A publicitária Cristina Lima, 46, é um exemplo. Fumante desde 14 anos, ela já tentou parar de fumar três vezes, mas a abstinência não passou de dois meses. "Faltou força de vontade. O cigarro virou uma muleta que eu uso para controlar a ansiedade", confessa.
Além dos riscos cardiovasculares, a mulher fumante tem mais chances de se tornar infértil.

Abandono
A pesquisa mostrou também que 21% do total de entrevistados relataram que deixaram o cigarro nos últimos dez anos. Mas só boa vontade não basta. "Em muitos casos, é preciso unir a força de vontade a medicamento e terapia. Ainda assim, o índice de recaída é de 50%", afirma o médico.
O problema é acesso ao tratamento. Anunciado no ano passado pelo governo federal, o tratamento da dependência do tabagismo na rede do SUS não saiu do papel, segundo Silvia Cury. Os centros de atendimento esbarram na falta de adesivos, gomas de mascar de nicotina e medicamentos -terapia necessária para 40% dos 23 milhões de fumantes brasileiros, segundo o governo.
No Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo (PrevFumo) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), por exemplo, 70% dos pacientes têm grau de dependência que demanda tratamento com medicação.
O núcleo atende 5.000 pessoas por ano e pelo menos dois terços dos pacientes têm dificuldades de bancar a terapia antifumo -que custa de R$ 120 a R$ 200 mensais.
O levantamento da SBC detectou ainda que a faixa etária com maior índice de tabagistas está entre 35 e 44 anos, com 28,1% do total de entrevistados. A terceira idade (acima de 54 anos) foi a que apresentou maior taxa de ex-fumantes: 31,6%.
A pesquisa sobre tabagismo integra o Projeto Corações do Brasil, um estudo inédito realizado pela SBC que traça uma radiografia da incidência dos principais fatores de risco para o coração.
Além do tabagismo, foram levantados dados sobre hipertensão, colesterol, diabetes, sedentarismo, hereditariedade, alcoolismo, estresse, depressão, drogas e doença vascular periférica.


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