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SP 450
Criação da universidade, que completará 70 anos em 2004, impulsionou pesquisa acadêmica e formação de professores
USP trouxe uma revolução no ensino
KIYOMORI MORI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pouca gente que
olhar a histórica foto
da primeira turma da
Universidade de São
Paulo, tirada em
1936, perceberá a ausência de um de seus
formandos: Marcello
Damy, na época com
22 anos.
Sem dinheiro para
comprar o smoking e
pagar a festa de formatura, Damy não
saiu no retrato. O jovem, de uma família
humilde de Campinas, e que durante a
Revolução de 1932
havia fabricado morteiros para o Exército, teve de comemorar em casa a conquista do diploma,
enquanto os colegas
posavam para o momento histórico com
roupas de gala.
Atualmente com
89 anos e mesmo
aposentado desde
1966, Damy continua
na USP, mas agora
orientando gratuitamente alunos da pós-graduação do Ipen
(Instituto de Pesquisas Nucleares).
Criada em 1934,
por decreto do então
governador Armando de Salles Oliveira, a nova instituição, na verdade, consistiu na
reunião, em uma única universidade, de faculdades já existentes
em São Paulo.
Com isso, cursos como o de direito do Largo São Francisco, a
Faculdade de Medicina e a escola
Politécnica passaram a integrar,
com a recém-criada Filosofia,
Ciências e Letras, a Universidade
de São Paulo.
"A criação da USP não foi apenas uma medida burocrática, para unir faculdades espalhadas,
mas, sim, uma revolução no ensino. Pela primeira vez se discutia
no Brasil a necessidade de pesquisa pura", afirma Damy.
Formação
O professor lembra que havia
muito debate no meio acadêmico
e nos jornais sobre a necessidade
da criação de uma
universidade para
São Paulo. Ele cursava o terceiro ano de
engenharia na época
e, convidado por um
professor, largou os
estudos da Politécnica para seguir o curso de física da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras.
"Foi uma decisão
difícil, mas a criação
da universidade
trouxe um novo
conceito do magistério, com professor
de dedicação integral, e novos cursos
que passaram a se
preocupar com a
formação desses
profissionais", explica.
Segundo Damy,
não havia antes, no
Brasil, cursos que
formassem professores universitários.
O professor de engenharia era um engenheiro que dedicava
algumas horas para
a universidade, o de
direito era um advogado que deixava o
escritório à tarde para dar aulas.
"Eles eram bons
profissionais, mas
faltava a didática pura do magistério. O
professor chegava à
aula e apenas lia o que estava nos
livros escolares, que ele havia decorado na noite anterior. A diferença do conhecimento do professor para o aluno era de algumas horas. O aluno ficava quieto e
apenas copiava o que estava no
quadro negro."
Além disso, a USP trouxe para
seus quadros professores estrangeiros, especialmente italianos,
franceses e alemães, com novas
idéias e conceitos sobre ensino,
que ajudaram a mudar a educação no Brasil.
Até mesmo a aula inaugural foi
ministrada por um francês, o professor Pierre Deffontaines, da cadeira de Geografia Física e Humana. "Os novos professores obrigavam o aluno a pensar, a questionar o conhecimento existente e a
participar da aula, uma verdadeira revolução no ensino", diz.
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