São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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FORA DA LEI

Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia do Rio, moradora de morro viu assassinato de jovens

Testemunha acusa policiais, diz deputado

DA SUCURSAL DO RIO

Uma testemunha disse a deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio que viu os dois jovens rendidos no morro da Providência serem mortos por policiais na última segunda-feira, durante operação na favela.
Segundo o presidente da comissão, deputado estadual Geraldo Moreira (PSB), a testemunha, cujo nome é mantido em sigilo e prestou declarações informalmente, disse que os dois jovens, Charles Machado da Silva, 16 e Luciano Custódio Sales, 24, bateram na porta de sua casa porque havia tiros no morro, localizado na zona portuária do Rio.
Meia hora depois, de acordo com o relato da moradora, os policiais arrombaram a porta de sua casa e retiraram a dupla.
O parlamentar afirmou que, logo depois, a moradora contou que os policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil) jogaram os dois rapazes no chão e atiraram primeiro em Luciano. Em seguida, segundo ela, os agentes levantaram Charles pelo queixo e desferiram um tiro no peito dele.
A testemunha, de acordo com o deputado, disse que viu tudo da casa de uma vizinha. No momento em que os policiais invadiram sua residência, ela estava com três crianças, uma delas de apenas dois meses.
A mesma testemunha também foi ouvida ontem pela Corregedoria da Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual. Segundo Geraldo Moreira, a forma como a delegada da Corregedoria interrogou a moradora fez com que ela não dissesse diretamente ter presenciado o assassinato. A delegada não quis dar entrevistas.
A assessoria de imprensa do Ministério Público Estadual informou que o depoimento da testemunha à promotora Dora Beatriz foi contraditório. Primeiro, ela disse que só ouviu os tiros. No final, confirmou ter visto apenas Charles ser assassinado pelos agentes e disse que um policial segurava uma faca ensangüentada.
Até o fechamento desta edição, o corregedor da Polícia Civil, Paulo Passos, não havia sido encontrado para comentar o depoimento da testemunha.
A mãe de Charles, Elivânia Maria Machado voltou a afirmar ontem que o filho levou uma facada no ombro antes de ser morto. O laudo do IML, no entanto, não aponta isso.
A acusação contra os policiais surgiu em razão da seqüência de fotografias publicadas anteontem no jornal "O Dia". A primeira foto mostrou os dois rapazes sob a mira de armas da Core, tropa de elite da Polícia Civil. Em outra fotografia, tirada minutos depois, os policiais carregam os corpos ensangüentados da dupla.
As fotografias foram feitas por uma equipe do jornal que estava no helicóptero da polícia que sobrevoava a favela. Cinco policiais que participavam da operação, além do titular da Core, delegado Gláucio Santos, foram afastados por ordem da governadora Rosinha Matheus (PMDB).
Em depoimento, os suspeitos disseram que renderam os jovens na favela. Logo em seguida, teriam sido alvejados a tiros por traficantes que queriam resgatá-los. Os rapazes rendidos teriam fugido, entrado em uma casa e usado fuzis para atirar nos policiais.


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