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São Paulo tem só um carro para vigiar a coleta de lixo
Veículo é usado pela prefeitura para fiscalizar serviço feito em 15 mil km de ruas da cidade
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo
mantém apenas um veículo para fiscalizar a coleta de lixo nos
cerca de 15 mil km de ruas da cidade. Ou seja, é com apenas esse único veículo que a gestão
Gilberto Kassab (PFL) controla
a operação feita por 402 caminhões e 3.200 funcionários e
que movimenta 15 mil toneladas de resíduos por dia.
Se esse único veículo fosse
percorrer todas as ruas da cidade a uma velocidade média de
30 km/hora, a fiscalização levaria 62,5 dias úteis -considerando sua utilização por oito
horas diárias.
Ao longo dos anos, o setor de
lixo acumula uma série de suspeitas de desvios de verbas e de
pagamentos por serviços não
realizados. O contrato em vigor, de R$ 10 bilhões por 20
anos, é o maior da administração paulistana. O serviço é feito
pelas concessionárias Loga e
EcoUrbis.
Além disso, o Limpurb, órgão
da prefeitura que responde pelo gerenciamento da coleta de
lixo na cidade, descumpre suas
próprias metas de fiscalização
do serviço, segundo auditoria
técnica do TCM (Tribunal de
Contas do Município). A auditoria concluiu também que o
Limpurb não dispõe de pessoal
qualificado para realizar a fiscalização.
As conclusões dos auditores
serão ainda apreciadas pelos
conselheiros do tribunal, que
são os responsáveis pelo julgamento da regularidade das contas da prefeitura. De acordo
com planilhas do Limpurb, o
número de fiscalizações realizadas entre novembro e dezembro do ano passado, mês
em que foram feitas as amostragens, ficou bem abaixo do
estipulado em comunicado expedido pelo órgão no ano passado.
Meta
O Limpurb estabeleceu como meta realizar 1.095 ações
fiscalizatórias por mês, mas
tanto em novembro (com 201
vistorias, ou 18,36% da meta)
como em dezembro (167, ou
15,25%) isso não ocorreu.
Procurada ontem, a Secretaria Municipal de Serviços, que
responde pelo Limpurb, afirmou que há um processo de licitação em andamento para a
locação de veículos para reforçar a frota de fiscalização (leia
texto nesta página).
A falta de controle, além da
mudança que ocorreu na forma
de prestação do serviço, provocou um aumento das queixas
contra a coleta de lixo levadas à
Ouvidoria Geral do Município.
Em todo ano de 2004, foram
168. Somente no segundo trimestre deste ano, número mais
atualizado, houve 176.
Impasse
Os contratos de coleta de lixo
não têm sido cumpridos integralmente desde o início do ano
passado, quando o então prefeito e atual candidato ao governo do Estado José Serra
(PSDB) questionou os valores
pagos pela prefeitura às concessionárias.
Em razão do impasse, Serra
determinou que as concessionárias suspendessem os investimentos previstos no contrato
(implantação de aterros, de
centrais de triagem e coleta por
contêineres) -a prefeitura tem
pago só pela coleta.
Ainda não houve acordo,
mas, em outubro de 2005, a
prefeitura determinou um corte de 31% no valor mensal pago
às duas empresas.
O contrato prevê que as empresas invistam R$ 1,16 bilhão
durante a concessão, sendo
R$ 497 milhões nos primeiros
cinco anos.
Como o ajuste contratual não
ocorreu, a Loga está ameaçando desativar o aterro Bandeirantes, que recebe 4.500 t de lixo por dia. Em ofício encaminhado à prefeitura e à Câmara
Municipal, a EcoUrbis, alegando enfrentar dificuldades financeiras, diz que o serviço está próximo de um ""colapso".
Em resposta ao impasse, o
secretário Antonio Marsiglia
Netto (Serviços) afirmou que,
caso as empresas cumpram as
ameaças, vai transferir a concessão a outros grupos.
O conselheiro do TCM Edson Simões afirma que ""as dificuldades [em relação à coleta
de lixo] vêm desde a administração anterior". ""Se forem tomadas medidas referentes a isso, pode-se resolver tudo. Acredito que o Executivo está tomando providências", disse Simões.
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