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Presos driblam bloqueador de celular
Detentos modificam antena para conseguir sinal de dentro do presídio de segurança máxima de Bangu 2
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A presença de bloqueadores
de celulares no presídio de segurança máxima Bangu 2 (zona
oeste do Rio de Janeiro) não
impede que os detentos continuem usando os aparelhos
dentro da cadeia.
Registros de apreensões feitas na unidade, aos quais a
Folha teve acesso, revelam
que, entre os dias 26 de julho e
11 de setembro deste ano, pelo
menos 32 telefones celulares
foram encontrados.
Em quatro dessas ocorrências, os detentos foram flagrados falando ao celular.
Em uma das apreensões feitas, há a suspeita de que um
preso estaria praticando uma
extorsão. O detento fazia
ameaças e pedia dinheiro
quando foi flagrado.
A maior apreensão ocorreu
no dia 25 de agosto quando, segundo agentes penitenciários,
foram achados 25 celulares e
vários carregadores.
Os bloqueadores de telefonia
celular foram instalados nos
quatro presídios de segurança
máxima de Bangu em 2003.
Segundo relatos de guardas
de Bangu 2, para driblarem o
bloqueador, os presos improvisam as antenas dos aparelhos
com antenas de televisão e as
alçam sobre os respiradores
das celas (buracos no teto) de
forma que elas fiquem a uma
altura fora da área bloqueada
(no caso as galerias e as celas).
Com isso, conseguem falar ao
telefone normalmente a qualquer hora do dia.
Os aparelhos são repassados
de galeria em galeria por meio
de buracos que os detentos fazem nas paredes das celas.
Ao contrário dos vizinhos
Bangu 1 e 3, o presídio não tem
câmeras filmando as galerias, o
que facilita a ação dos presos.
Os agentes afirmaram que
não tem como fazer o controle
porque, por dia, trabalham
apenas 11 guardas, sendo que
somente quatro ficam nas galerias para tomar conta de cerca
de 800 presos.
No dia da apreensão dos 25
celulares, por exemplo, os vigilantes só acharam os aparelhos
porque um preso, que estava
sendo ameaçado pelos outros,
delatou os companheiros.
Os guardas relataram que os
telefones costumam entrar nas
partes íntimas das mulheres,
que vão visitar os detentos. Para evitarem ser descobertas durante as revistas, as visitas estariam usando colas cirúrgicas
para manterem os celulares escondidos.
Quando há pente-fino nas
celas, os detentos costumam a
esconder os aparelhos na rede
de esgoto. Bangu 2 é dividido
por 18 galerias sendo que apenas 16 estão em funcionamento. Em cada uma, há 32 celas
com capacidade para apenas
dois presos.
O presídio abriga detentos
vinculados à facção criminosa
TCP (Terceiro Comando Puro), cuja principal base da atuação é a zona oeste do Rio.
Em Bangu 3, os presos usam
radiotransmissores que, segundo a própria Secretaria de
Administração Penitenciária,
não são bloqueados.
Como esses aparelhos não
tem longo alcance, para falar
com cúmplices fora da cadeia,
os presos do CV (Comando
Vermelho) se comunicam com
os de outra penitenciária de
Bangu onde não há bloqueador
de celular -a Vicente Piragibe
é uma delas- para que os comparsas façam uma ponte com o
pessoal que está nas favelas ou
na rua.
No final de agosto, um radiotransmissor foi apreendido
com uma mulher que visitaria
um preso. Estava escondido
nas partes íntimas e enrolado
em uma camisinha.
O presídio tem câmeras dentro das galerias que não evitam
o uso de rádios nem de crimes.
Anteontem, dois presos foram
enforcados na cadeia.
No mês passado o traficante
Neifrance da Silva Nunes, o Nei
Sapo, foi assassinado por oito
presos. As câmeras filmaram e
gravaram parte do crime, que
mesmo assim não foi evitado.
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