São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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Presos driblam bloqueador de celular

Detentos modificam antena para conseguir sinal de dentro do presídio de segurança máxima de Bangu 2

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A presença de bloqueadores de celulares no presídio de segurança máxima Bangu 2 (zona oeste do Rio de Janeiro) não impede que os detentos continuem usando os aparelhos dentro da cadeia.
Registros de apreensões feitas na unidade, aos quais a Folha teve acesso, revelam que, entre os dias 26 de julho e 11 de setembro deste ano, pelo menos 32 telefones celulares foram encontrados.
Em quatro dessas ocorrências, os detentos foram flagrados falando ao celular.
Em uma das apreensões feitas, há a suspeita de que um preso estaria praticando uma extorsão. O detento fazia ameaças e pedia dinheiro quando foi flagrado.
A maior apreensão ocorreu no dia 25 de agosto quando, segundo agentes penitenciários, foram achados 25 celulares e vários carregadores.
Os bloqueadores de telefonia celular foram instalados nos quatro presídios de segurança máxima de Bangu em 2003.
Segundo relatos de guardas de Bangu 2, para driblarem o bloqueador, os presos improvisam as antenas dos aparelhos com antenas de televisão e as alçam sobre os respiradores das celas (buracos no teto) de forma que elas fiquem a uma altura fora da área bloqueada (no caso as galerias e as celas). Com isso, conseguem falar ao telefone normalmente a qualquer hora do dia.
Os aparelhos são repassados de galeria em galeria por meio de buracos que os detentos fazem nas paredes das celas.
Ao contrário dos vizinhos Bangu 1 e 3, o presídio não tem câmeras filmando as galerias, o que facilita a ação dos presos.
Os agentes afirmaram que não tem como fazer o controle porque, por dia, trabalham apenas 11 guardas, sendo que somente quatro ficam nas galerias para tomar conta de cerca de 800 presos.
No dia da apreensão dos 25 celulares, por exemplo, os vigilantes só acharam os aparelhos porque um preso, que estava sendo ameaçado pelos outros, delatou os companheiros.
Os guardas relataram que os telefones costumam entrar nas partes íntimas das mulheres, que vão visitar os detentos. Para evitarem ser descobertas durante as revistas, as visitas estariam usando colas cirúrgicas para manterem os celulares escondidos.
Quando há pente-fino nas celas, os detentos costumam a esconder os aparelhos na rede de esgoto. Bangu 2 é dividido por 18 galerias sendo que apenas 16 estão em funcionamento. Em cada uma, há 32 celas com capacidade para apenas dois presos.
O presídio abriga detentos vinculados à facção criminosa TCP (Terceiro Comando Puro), cuja principal base da atuação é a zona oeste do Rio.
Em Bangu 3, os presos usam radiotransmissores que, segundo a própria Secretaria de Administração Penitenciária, não são bloqueados.
Como esses aparelhos não tem longo alcance, para falar com cúmplices fora da cadeia, os presos do CV (Comando Vermelho) se comunicam com os de outra penitenciária de Bangu onde não há bloqueador de celular -a Vicente Piragibe é uma delas- para que os comparsas façam uma ponte com o pessoal que está nas favelas ou na rua.
No final de agosto, um radiotransmissor foi apreendido com uma mulher que visitaria um preso. Estava escondido nas partes íntimas e enrolado em uma camisinha.
O presídio tem câmeras dentro das galerias que não evitam o uso de rádios nem de crimes. Anteontem, dois presos foram enforcados na cadeia.
No mês passado o traficante Neifrance da Silva Nunes, o Nei Sapo, foi assassinado por oito presos. As câmeras filmaram e gravaram parte do crime, que mesmo assim não foi evitado.


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