São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Consulta pública sobre nova ortografia recebeu só 12 e-mails

Enviadas ao longo de 3 semanas para e-mail do MEC, nenhuma sugestão sobre como aplicar as novas regras foi aproveitada

Envolvimento de brasileiros contrasta com as reações em Portugal, onde houve abaixo-assinados e debates contra mudanças

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de elaborar o decreto que foi assinado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o MEC (Ministério da Educação) realizou uma consulta pública para que os brasileiros fizessem sugestões de como a nova ortografia deveria ser posta em prática. Ao longo das três semanas da consulta, chegaram ao governo apenas 12 mensagens. Nenhuma delas foi aproveitada.
O MEC recebeu as contribuições no mês passado, pelo e-mail acordoortografico@ mec.gov.br. A consulta pública havia sido noticiada em todo o país por sites e jornais.
A não ser por F.G. (o MEC forneceu à Folha apenas as iniciais dos nomes), que sugeriu que o "senhor ministro da Educação" fizesse um "pronunciamento à nação sobre as mudanças", as mensagens simplesmente não trataram da implementação das novas regras.
V.R. questionou sobre a existência do hífen em "afrodescendente" e "afro-brasileiro". E.B. solicitou uma cópia das novas regras "em PowerPoint".
A maioria dos participantes pediu mudanças no acordo. L.K. se queixou do "abuso na eliminação dos acentos". Para ele, "dar um ar inglês ao português não ajuda a difundir" o idioma. R.M. não gostou de saber que ainda haverá grafias diferentes em Portugal e no Brasil -isso, na opinião dele, "gera transtornos".
D.T. foi ainda mais longe e sugeriu que o português seja escrito tal como é pronunciado. Ele deu exemplos: "caza" em vez de "casa", "xave" no lugar de "chave" e "teliado" em vez de "telhado". "As regras da língua portuguesa são exageradas. Se escrevêssemos como falamos, facilitaria a vida de todo mundo", argumentou.
As sugestões não foram acatadas. "O conteúdo vem de um acordo internacional, que já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado [o decreto legislativo é de 1995]. Não dá para mudar", explica Godofredo de Oliveira Neto, presidente, no MEC, da Comissão de Língua Portuguesa.
O envolvimento dos brasileiros contrasta com as reações que pipocaram em Portugal, onde calorosos debates nos meios de comunicação e abaixo-assinados contra as mudanças mantiveram o tema sempre em evidência.
"Os portugueses reagiram tão fortemente por entender que o acordo seria uma concessão ao Brasil, uma perda política e cultural. Aqui, não houve esse sentimento. Além disso, convenhamos, o acordo altera tão pouca coisa para nós...", diz o professor de língua portuguesa Carlos Alberto Faraco, da UFPR (Universidade Federal do Paraná).


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