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VÔO NOTURNO
Houve cerca de 15 mil casos somente neste ano no Pará; raiva transmitida pelo animal mata 15 só em uma cidade
Morcego multiplica ataques na Amazônia
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
O número de pessoas atacadas
por morcego na região amazônica
aumentou nove vezes em dois
anos. É o que mostram os dados
do Ministério da Saúde. Em 2004,
foram 8.258 agressões, contra 852
em 2003. E o número de mortos
subiu nas últimas semanas.
Esse número foi obtido após 21
pessoas morrerem em surtos de
raiva transmitida pelo animal em
abril de 2004. Houve, então, uma
preocupação por parte dos órgãos
de saúde em acompanhar os ataques a pessoas.
O ministério admite que os ataques não são de hoje, mas que não
existia um acompanhamento dos
órgãos estaduais, por desconhecerem a gravidade do problema.
Entre 2003 e 2004 ocorreram 43
mortes, mas houve mais casos
neste ano. Nos Estados afetados
-Pará e Maranhão- havia uma
subnotificação das agressões. Só
após os técnicos irem a campo é
que os dados alarmantes foram
descobertos.
O Pará, onde teve início os surtos no ano passado, houve 383 registros de agressões de morcegos
a humanos em 2003. No ano seguinte, após as mortes, foram
7.640 ocorrências. Em 2005, são
mais de 15 mil. O Maranhão registrou apenas 108 agressões em
2004. Após o surto deste ano, já
foram mais de 1.100.
As últimas duas vítimas dos
morcegos hematófagos (que se
alimentam de sangue) da espécie
Demodus rotundus são de Cândido Mendes (MA). Morreram há
cerca de 40 dias.
No Estado, outras quatro pessoas morreram em Godofredo
Viana e Carutapera. No Pará, Viseu foi atingida duas vezes: teve
uma morte em 2005 e seis em
2004. Neste ano, houve mais 15 vítimas em Augusto Corrêa; no ano
passado, houve 15 em Portel.
Para o biólogo Wilson Uieda, da
Unesp, doutor em ecologia pela
Unicamp, a doença pode se tornar um grave problema de saúde
pública porque a região Norte é a
última fronteira agrícola ainda
inexplorada no país.
Uieda é pós-doutorado na Cornell University (EUA) e foi assessor científico de um documentário sobre morcegos exibido pela
"National Geographic".
Para ele, a Amazônia está suscetível à proliferação de surtos de
raiva devido ao avanço da agropecuária e "o Pará é a porta de entrada para a região".
"O Pará ainda é acessível. Minha preocupação é com o Amazonas porque trabalhar lá é difícil.
Por enquanto, as populações de
morcegos são pequenas. Não há
oferta de alimento suficiente para
aumentá-las. É a introdução do
gado que vai facilitar isso", diz.
Uieda disse que os órgãos de
saúde têm de pensar "que estão lidando com gente, e não com bicho". E que os surtos poderiam
ter sido evitados se o governo tivesse dado prioridade também a
essa forma de transmissão.
O coordenador da Vigilância de
Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Hage
Carmo, admite que os eventos de
2004 e 2005 "superaram a capacidade de detecção" do órgão, que
ainda estuda uma estratégia para
combater a enfermidade.
Segundo Carmo, o governo federal vem tomando medidas de
contenção. Uma delas consiste
em treinar os agentes de malária a
fazer entrevistas com a população
e, assim, comunicar as agressões
às unidades de saúde.
Premeditados
Uieda diz que os surtos eram
anunciados, pois as pessoas conviviam havia mais de 40 anos com
os morcegos e suportavam os ataques a seus animais e, eventualmente, a elas próprias. "De repente, aparece um vírus lá no meio e
acaba afetando essa relação."
O Ministério da Saúde afirma
que ainda não há um meio de
controlar a população de morcegos. "Na região amazônica, são
pequenas colônias, daí a maior dificuldade. Não funciona por meio
da pasta vampiricida. A gente ainda não tem uma solução", diz.
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