São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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Obrigatoriedade por si só não melhora ensino, dizem analistas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ampliação da obrigatoriedade da matrícula é positiva, mas não terá efeito se não vier acompanhada de maior financiamento e medidas para melhorar o ensino, dizem analistas ouvidos pela Folha.
"Não adianta colocar todo mundo no ensino médio se não houver uma garantia de qualidade", afirma Salete Silva, coordenadora do programa de educação do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) do Brasil.
"A obrigatoriedade, por si só, não deve resolver o problema do ensino médio totalmente", diz Naércio Menezes Filho, professor da USP e do Ibmec. "É preciso que os jovens tenham os incentivos corretos para cursar o ensino médio."
Para Menezes Filho, hoje isso não ocorre por três motivos: como o ensino de nível médio é muito formal, o jovem acaba vendo nesse tipo de nível educacional pouca utilidade para o seu desenvolvimento profissional; a qualidade da educação oferecida pela rede pública é baixa; e, por fim, um mercado de trabalho aquecido afasta o jovem da escola.
Maria Auxiliadora Rezende, presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e secretária estadual da Educação do Tocantins, aprova a proposta de ampliação da obrigatoriedade.
Rezende aponta, por outro lado, que possivelmente haverá a necessidade de um aporte de investimento federal, principalmente para o aumento da oferta de vagas na pré-escola. No ensino médio, de acordo com ela, a cobertura é relativamente maior.

Ensino atraente
A forma de implantação da obrigatoriedade é outra questão levantada por Daniel Cara, que participou das discussões em torno dela no Unicef e coordena a Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
"A perspectiva da obrigatoriedade atende ao princípio da universalização. O que é preciso debater é a forma como [isso] vai se dar", diz Cara.
Ele aponta que não é tão simples responsabilizar a família pela matrícula do jovem no ensino médio da mesma forma que ocorre na pré-escola e no ensino fundamental.
"A forma como os jovens se relacionam com as famílias é diferente da forma como as crianças se relacionam. O grau de respeito à decisão familiar não é o mesmo", afirma.
Por isso, diz Cara, a obrigatoriedade do ensino médio será mais eficaz quanto mais o nível educacional for atraente para os adolescentes. (AP)


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