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Obrigatoriedade por si só não melhora ensino, dizem analistas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ampliação da obrigatoriedade da matrícula é positiva,
mas não terá efeito se não vier
acompanhada de maior financiamento e medidas para melhorar o ensino, dizem analistas ouvidos pela Folha.
"Não adianta colocar todo
mundo no ensino médio se não
houver uma garantia de qualidade", afirma Salete Silva,
coordenadora do programa de
educação do Unicef (Fundo das
Nações Unidas para a
Infância) do Brasil.
"A obrigatoriedade, por si só,
não deve resolver o problema
do ensino médio totalmente",
diz Naércio Menezes Filho,
professor da USP e do Ibmec.
"É preciso que os jovens tenham os incentivos corretos
para cursar o ensino médio."
Para Menezes Filho, hoje isso não ocorre por três motivos:
como o ensino de nível médio é
muito formal, o jovem acaba
vendo nesse tipo de nível educacional pouca utilidade para o
seu desenvolvimento profissional; a qualidade da educação
oferecida pela rede pública é
baixa; e, por fim, um mercado
de trabalho aquecido afasta o
jovem da escola.
Maria Auxiliadora Rezende,
presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de
Educação) e secretária estadual da Educação do Tocantins, aprova a proposta de ampliação da obrigatoriedade.
Rezende aponta, por outro
lado, que possivelmente haverá
a necessidade de um aporte de
investimento federal, principalmente para o aumento da
oferta de vagas na pré-escola.
No ensino médio, de acordo
com ela, a cobertura é relativamente maior.
Ensino atraente
A forma de implantação da
obrigatoriedade é outra questão levantada por Daniel Cara,
que participou das discussões
em torno dela no Unicef e coordena a Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
"A perspectiva da obrigatoriedade atende ao princípio da
universalização. O que é preciso debater é a forma como [isso] vai se dar", diz Cara.
Ele aponta que não é tão simples responsabilizar a família
pela matrícula do jovem no ensino médio da mesma forma
que ocorre na pré-escola e no
ensino fundamental.
"A forma como os jovens se
relacionam com as famílias é
diferente da forma como as
crianças se relacionam. O grau
de respeito à decisão familiar
não é o mesmo", afirma.
Por isso, diz Cara, a obrigatoriedade do ensino médio será
mais eficaz quanto mais o nível
educacional for atraente para
os adolescentes.
(AP)
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