|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Tropa de elite do IBGE busca "fujões" do Censo 2010
Moradores de condomínios de luxo relutam em atender recenseadores
Em alguns prédios do Rio e de São Paulo, porteiros são orientados a barrar a entrada de funcionários do IBGE
JANAINA LAGE
DO RIO
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nos últimos dias de coleta
de dados para o Censo 2010,
funcionários do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) insistem para entrevistar os "fujões", pessoas
que nunca estão em casa ou
que inventam desculpas para não participar.
A Folha acompanhou o
Censo em dois bairros de
classe média alta: Barra da
Tijuca, zona oeste do Rio, e
Itaim Bibi, zona oeste de SP.
Em São Paulo, Evelin de
Souza, 32, faz parte do grupo
de 2.500 recenseadores que
tentam ouvir o restante da
população. Ela compara a coleta a uma guerra.
"Já teve uma tropa que não
conseguiu completar tudo,
vieram outras depois, e agora
a gente é a tropa de elite, que
vai tentar pela última vez. A
gente está pegando a bucha
da bucha: os resistentes que
ninguém conseguiu convencer", disse.
No Rio, das 20 pessoas
procuradas na noite de quinta-feira, apenas a psicóloga
Gilda Edelman, 55, recebeu
as recenseadoras. Com uma
rotina atribulada, ela trabalha o dia todo e à noite costuma buscar o filho adolescente nos cursos que ele frequenta. "Quero saber como vivem
as pessoas no meu país, mas
aqui a maioria tem preguiça
de participar", diz.
NÃO, NÃO E NÃO
No condomínio Sunset, no
Rio, o porteiro impediu a entrada da recenseadora Solange Vidal, 45, e da supervisora
Edilene Silva, 39, dizendo
que 21h30 era um horário fora do padrão.
Nesse momento, um morador chega em um carro importado e para ao lado da
guarita. A recenseadora Solange pergunta se ele poderia
atendê-la. Irritado, responde: "Estou chegando em casa. Nem que o Lula perdesse
essa eleição eu parava para
falar. Passa aqui outro dia.
Agora, de jeito nenhum!" e
arranca com o carro.
Desconhecimento, grosseria e histórias inusitadas têm
marcado o recenseamento.
Ao se apresentar a uma moradora com um "boa noite,
sou do IBGE", a recenseadora viu a porta ser fechada
com um "Não! Eu não bebo.
Eu não bebo!".
Os obstáculos não param
por aí. Um morador disse que
não podia perder três minutos para responder ao Censo,
mas, para minimizar a grosseria, convidou as funcionárias a "comer um bolinho". A
oferta foi recusada.
Em São Paulo, o Itaim Bibi
lidera o ranking de "fujões",
ao lado de Pinheiros, Morumbi e Moema. Nos prédios
de luxo, seguranças impedem as funcionárias de falar
até com o porteiro.
Sílvia Diogo, 38, não tem
tido sorte na empreitada. Ontem, pela terceira vez, ela
tentava ouvir os dez moradores que faltam num prédio.
Pelo interfone, o porteiro repetia: "O 82 falou que não vai
responder, o 123 também
não. O 152 não quer".
Até que a aposentada Léa
Ariboni, 75, passou pela portaria e, em quatro minutos,
respondeu ao questionário.
"Sempre respondi ao Censo, acho normalíssimo e necessário", disse ela, que afirmou não ter sido avisada sobre a visita da recenseadora
até então.
Texto Anterior: Amiga afirma que colega recebia dinheiro de professora, diz polícia Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros
|