São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

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Tropa de elite do IBGE busca "fujões" do Censo 2010

Moradores de condomínios de luxo relutam em atender recenseadores

Em alguns prédios do Rio e de São Paulo, porteiros são orientados a barrar a entrada de funcionários do IBGE

JANAINA LAGE
DO RIO
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nos últimos dias de coleta de dados para o Censo 2010, funcionários do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) insistem para entrevistar os "fujões", pessoas que nunca estão em casa ou que inventam desculpas para não participar.
A Folha acompanhou o Censo em dois bairros de classe média alta: Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e Itaim Bibi, zona oeste de SP.
Em São Paulo, Evelin de Souza, 32, faz parte do grupo de 2.500 recenseadores que tentam ouvir o restante da população. Ela compara a coleta a uma guerra.
"Já teve uma tropa que não conseguiu completar tudo, vieram outras depois, e agora a gente é a tropa de elite, que vai tentar pela última vez. A gente está pegando a bucha da bucha: os resistentes que ninguém conseguiu convencer", disse.
No Rio, das 20 pessoas procuradas na noite de quinta-feira, apenas a psicóloga Gilda Edelman, 55, recebeu as recenseadoras. Com uma rotina atribulada, ela trabalha o dia todo e à noite costuma buscar o filho adolescente nos cursos que ele frequenta. "Quero saber como vivem as pessoas no meu país, mas aqui a maioria tem preguiça de participar", diz.

NÃO, NÃO E NÃO
No condomínio Sunset, no Rio, o porteiro impediu a entrada da recenseadora Solange Vidal, 45, e da supervisora Edilene Silva, 39, dizendo que 21h30 era um horário fora do padrão.
Nesse momento, um morador chega em um carro importado e para ao lado da guarita. A recenseadora Solange pergunta se ele poderia atendê-la. Irritado, responde: "Estou chegando em casa. Nem que o Lula perdesse essa eleição eu parava para falar. Passa aqui outro dia. Agora, de jeito nenhum!" e arranca com o carro.
Desconhecimento, grosseria e histórias inusitadas têm marcado o recenseamento. Ao se apresentar a uma moradora com um "boa noite, sou do IBGE", a recenseadora viu a porta ser fechada com um "Não! Eu não bebo. Eu não bebo!".
Os obstáculos não param por aí. Um morador disse que não podia perder três minutos para responder ao Censo, mas, para minimizar a grosseria, convidou as funcionárias a "comer um bolinho". A oferta foi recusada.
Em São Paulo, o Itaim Bibi lidera o ranking de "fujões", ao lado de Pinheiros, Morumbi e Moema. Nos prédios de luxo, seguranças impedem as funcionárias de falar até com o porteiro.
Sílvia Diogo, 38, não tem tido sorte na empreitada. Ontem, pela terceira vez, ela tentava ouvir os dez moradores que faltam num prédio. Pelo interfone, o porteiro repetia: "O 82 falou que não vai responder, o 123 também não. O 152 não quer".
Até que a aposentada Léa Ariboni, 75, passou pela portaria e, em quatro minutos, respondeu ao questionário.
"Sempre respondi ao Censo, acho normalíssimo e necessário", disse ela, que afirmou não ter sido avisada sobre a visita da recenseadora até então.


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