São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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85 jovens da Febem conseguem fugir de unidade supersegura

Foi a maior fuga do ano; fugitivos são reincidentes de crimes como seqüestro, latrocínio, homicídio e tráfico

Fundação abriu sindicância interna para apurar como dois revólveres, utilizados para render os agentes, entraram na unidade


KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na maior fuga do ano, 85 internos escaparam ontem de uma das quatro unidades do complexo Vila Maria da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), na zona norte de São Paulo. Foi a 22ª fuga do ano da instituição.
Esse complexo é considerado o mais seguro da fundação e abriga os "reincidentes graves", jovens que passaram por outras unidades da Febem por crimes hediondos (seqüestro, latrocínio, homicídio qualificado e tráfico de drogas), além de assaltos. Mais de 70% dos internos do complexo têm mais de 18 anos. Entre os itens de segurança, o complexo conta com muros mais altos e vigilância externa mais intensa.
Até a conclusão desta edição, 57 internos tinham sido recapturados pela PM. A Folha apurou que a Febem desconfia que a fuga tenha sido facilitada por algum funcionário.
Ao lado do complexo fica sediado o GIR (Grupo de Intervenção Rápida), especializado em conter presos em penitenciárias e cedido para a Febem. Os agentes do GIR, que usam cassetete, escudo e capacete e são treinados pela PM, foram chamados, mas não conseguiram impedir a primeira fuga da unidade neste ano.
Testemunhas relataram ter visto dois revólveres serem usados pelos jovens para render os agentes de segurança -que não portam armas.
A instituição abriu sindicância interna para apurar como as armas, levadas com os internos na fuga, chegaram à unidade. Nenhum tiro foi disparado e ninguém se feriu na ação.
"Foi um caso bastante grave, que está sendo objeto de inquérito, porque os jovens estavam com revólver. Temos que analisar com grande cuidado o que aconteceu, até para experiência futura", disse o governador Cláudio Lembo (PFL).
Com capacidade para abrigar cem reeducandos, a unidade estava com 99 internos antes da fuga, ocorrida às 4h50.
A estratégia dos internos começou com uma simulação. Um deles fingiu sentir dores na mão e pediu a um agente que abrisse a porta do módulo onde estava para levá-lo à enfermaria, que funciona 24 horas.
A unidade da Vila Maria possui quatro módulos com capacidade para 25 internos em cada um deles. As portas são fechadas das 22h às 5h30.
Após abrir a porta, o agente foi rendido e ameaçado de morte. Dois internos, armados, obrigaram outros funcionários a abrir os outros três módulos.
Aos gritos de "corre, corre!", os garotos foram em direção à saída -tática chamada de "cavalo doido". Passaram pelo setor administrativo e abriram o portão de seis metros de altura que dá acesso uma avenida paralela à pista da marginal Tietê.
"Só queria passar o Natal com a minha mãe", disse um fugitivo após ser capturado.
A maior fuga da Febem foi em 2005, quando 375 internos saíram de unidade do Tatuapé.


Colaboraram DANIELA TÓFOLI e ROGÉRIO PAGNAN, da Reportagem Local

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