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Aprovado não soube dizer onde fica a Bahia
Cerca de 17,6 mil pessoas participaram do concurso; desses, 415 candidatos chegaram à prova oral e 128 foram aprovados
Folha registrou em cartório o nome de três vencedores do concurso para fotógrafo pericial oito dias antes de o resultado ser divulgado
ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
André parecia estar diante do
seu pior pesadelo. Visivelmente nervoso, falhou em grande
parte do teste. Não conseguiu
responder corretamente o que
é um quadrado, como é a fauna
do Pantanal, confundiu-se ao
soletrar assessoria (disse "ascessoria") e também ao responder em qual região fica a Bahia.
Sobre fotografia, o tema específico da teste, recorreu muitas
vezes ao "não me recordo".
Quem assistiu à prova oral de
André, no último dia 1º de julho, pensou ver levantar-se da
cadeira um jovem constrangido e distante de se tornar fotógrafo da Polícia Científica de
São Paulo. Enganou-se: tudo
aquilo era uma encenação, e ele
havia sido aprovado antes mesmo de sentar-se ali.
O nome de André das Eiras
Braiani está numa lista registrada pela Folha em cartório
oito dias antes de o "Diário Oficial" revelar os candidatos
aprovados no concurso para fotógrafo pericial (FTP 01/2008).
Até essa data, nem mesmo o
próprio candidato sabe (ou não
deveria saber) se conseguiu ou
não ser aprovado para trabalhar na polícia paulista.
Além de André, a reportagem registrou os nomes de outros dois candidatos (Cristiane
Naomi Hiroishi e Alessandro
Furtado Pecchia), e eles também foram aprovados, de fato.
Teatrinho
Cerca de 17,6 mil pessoas
participaram do concurso. Desses, 415 chegaram à prova oral
-128 foram aprovados.
Os três candidatos dos quais
a Folha tinha informações de
que seriam aprovados chegaram à prova oral "altamente recomendados", segundo funcionários ligados ao concurso. Essa é, segundo eles, a senha para
aprovação de uma pessoa, a
despeito de seu desempenho.
No caso de André, ainda segundo os funcionários, ele foi
apresentado como sobrinho do
diretor do IC (Instituto de Criminalística), José Domingos
Moreira das Eiras, que é um
dos principais membros da
banca de exame oral.
A Folha, o diretor disse que o
grau de parentesco é menor:
"Um primo de terceiro grau".
Independentemente desse
grau, o parente do diretor conseguiu surpreendentes 76 pontos na prova oral (de um total
de cem), considerando que não
conseguiu responder corretamente à boa parte dos testes.
A reportagem teve acesso aos
DVDs com o registro da prova
oral na última quinta-feira,
após interferência do secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto. Até então, a
diretor da Academia de Polícia,
Adilson José Vieira Pinto, não
permitia que isso acontecesse.
A gravação é feita em evento
aberto ao público como forma
de mostrar "transparência".
Dos três candidatos aprovados (André, Cristiane e Alessandro), a reportagem só pôde
ver o teste dos dois primeiros.
Isso porque, segundo a funcionária que exibiu o material à
reportagem, houve uma "falha
técnica" e o teste de Alessandro
não foi gravado. Este negou à
Folha ter sido ajudado no teste.
O vídeo é o único registro oficial do desempenho do candidato. Oficialmente, não houve
explicação para o que ocorreu.
Pelo vídeo, não é possível dizer que o desempenho de Cristiane tenha sido ruim ou que
ela foi beneficiada pela banca.
A reportagem viu também o
teste de sete outros concorrentes. Entre os quais, o de Rogério
Veras Vianello, que foi ainda
pior que André na prova e, mesmo assim, foi aprovado.
Segundo funcionários, Rogério também chegou à banca
com "alta recomendação" de
"diretores" do IC. O candidato
conjugou um "vós troçais" como sendo no pretérito do verbo
trazer e disse que quem nasce
em Fortaleza é cearense.
Dois funcionários ligados à
Segurança Pública que assistiram às gravações ao lado dos
repórteres da Folha ficaram
incrédulos quando informados
que Rogério e André foram
aprovados.
A corregedora Maria Inês
Trefiglio Valente investigará o
concurso já recolheu todos os
documentos referentes.
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