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Após ataques, Rio isola chefes de facções
Embora alertado havia mais de um mês, governo não providenciou o isolamento dos presos suspeitos de ordenar atentados
Para secretário estadual, ação de milícias em favelas provocou inédita união de chefes de facções criminosas no Estado
Alessandro Costa/Agência O Dia
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Vidraça da biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer, no centro de Duque de Caxias (Baixada Fluminense, Rio de Janeiro), que foi atingida na madrugada de ontem; 13 tiros foram disparados
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo informado com antecedência sobre os ataques, o governo do Rio só providenciou o
isolamento dos seis chefes do
tráfico que os teriam autorizado depois que 11 pessoas já haviam sido mortas, sete delas
carbonizadas em um ônibus.
Os alertas ao governo foram
dados pelos serviços de inteligência das secretarias de Administração Penitenciária e de Segurança Pública pelo menos
um mês antes do início dos ataques, na noite de quarta-feira.
Só anteontem os supostos
chefes da ação foram transferidos para o presídio Bangu 1 (zona oeste), onde entraram no
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) por 30 dias.
O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, listou ontem à
Folha quem são os seis acusados, chefes de três diferentes
facções criminosas, cuja união
é inédita. Antes disso, as facções viviam em guerra pelo
controle de pontos de drogas.
Os relacionados são Sassá, da
ADA (Amigo dos Amigos); Robinho Pinga, do TC (Terceiro
Comando); e quatro do CV (Comando Vermelho): Elias Maluco, Isaías do Borel, Porca Russa
e Marcinho VP (veja quadro).
Sinal verde
Segundo o secretário, os seis,
de dentro do complexo penitenciário de Bangu (zona oeste), deram o "sinal verde" para
os ataques. Ele disse que traficantes livres planejaram os ataques em uma reunião no morro
da Mangueira (zona norte),
mas, antes de pô-los em prática, consultaram os chefes.
"De acordo com as informações da Subsecretaria de Inteligência de Segurança Pública,
tomei providências na área penitenciária. A notícia é que haveria rebeliões. Transferi 55
presos, movimentei 11 estabelecimentos prisionais e isolei lideranças, antecedendo ao fato
que aconteceu."
No RDD, os chefes só podem
receber visitas de pai, mãe e filhos uma vez por semana. Passam 22 horas isolados em uma
cela exclusiva, com direito a
duas horas de banho de sol.
Ao impedir que os passageiros descessem do ônibus em
chamas, os criminosos assinaram a própria sentença de morte, previu ontem o secretário.
Para ele, não interessava aos
chefões a morte de inocentes.
"Quando ocorre um caso desses eles cobram na comunidade
e mandam matar quem fez".
Pereira dos Santos voltou a
afirmar que os ataques foram
uma retaliação do tráfico à ação
miliciana, diferentemente do
que sustentou o secretário de
Segurança, Roberto Precioso
Júnior. "Eles [os traficantes]
acham que [o governo] não está
enfrentando o problema das
milícias. Quando há um ataque
a uma delegacia, a um posto policial, eles estão atacando aqueles que estão atacando as comunidades deles."
As milícias a que o secretário
se referiu são grupos de policiais, ex-policiais, militares e
bombeiros que estão ocupando
favelas e expulsando traficantes. As milícias exigem o pagamento de taxas dos moradores.
A governadora do Rio, Rosinha Matheus, admitiu ontem
que os ataques podem ter sido
uma reação do tráfico às milícias. Para ela, essa hipótese está
sendo investigada, assim como
uma resposta do crime à troca
de governo com o objetivo de
tentar impor um regime mais
brando nos presídios.
Omissão de dados
A Secretaria de Segurança
omitiu da população informações sobre a amplitude dos ataques iniciados na noite de quarta-feira. Na manhã seguinte, o
secretário Precioso Júnior já tinha relatos completos.
Mesmo assim, foram deixados de fora, nas informações
oficiais prestadas em boletins e
em entrevista coletiva, os ataques a pelo menos duas delegacias: a de Repressão a Entorpecentes, no Grajaú e a 29ª DP
(Delegacia de Polícia), em Madureira, (ambas na zona norte).
Segundo a secretaria, a omissão não foi proposital, mas motivada por confusão nos registros oficiais originada no acúmulo de informações
A secretaria também não divulgou, como disse que faria, a
relação dos sete supostos traficantes mortos em confrontos
com policiais nem as circunstâncias e os locais dos tiroteios
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