São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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Após ataques, Rio isola chefes de facções

Embora alertado havia mais de um mês, governo não providenciou o isolamento dos presos suspeitos de ordenar atentados

Para secretário estadual, ação de milícias em favelas provocou inédita união de chefes de facções criminosas no Estado

Alessandro Costa/Agência O Dia
Vidraça da biblioteca do Centro Cultural Oscar Niemeyer, no centro de Duque de Caxias (Baixada Fluminense, Rio de Janeiro), que foi atingida na madrugada de ontem; 13 tiros foram disparados

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Mesmo informado com antecedência sobre os ataques, o governo do Rio só providenciou o isolamento dos seis chefes do tráfico que os teriam autorizado depois que 11 pessoas já haviam sido mortas, sete delas carbonizadas em um ônibus.
Os alertas ao governo foram dados pelos serviços de inteligência das secretarias de Administração Penitenciária e de Segurança Pública pelo menos um mês antes do início dos ataques, na noite de quarta-feira.
Só anteontem os supostos chefes da ação foram transferidos para o presídio Bangu 1 (zona oeste), onde entraram no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) por 30 dias.
O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, listou ontem à Folha quem são os seis acusados, chefes de três diferentes facções criminosas, cuja união é inédita. Antes disso, as facções viviam em guerra pelo controle de pontos de drogas.
Os relacionados são Sassá, da ADA (Amigo dos Amigos); Robinho Pinga, do TC (Terceiro Comando); e quatro do CV (Comando Vermelho): Elias Maluco, Isaías do Borel, Porca Russa e Marcinho VP (veja quadro).

Sinal verde
Segundo o secretário, os seis, de dentro do complexo penitenciário de Bangu (zona oeste), deram o "sinal verde" para os ataques. Ele disse que traficantes livres planejaram os ataques em uma reunião no morro da Mangueira (zona norte), mas, antes de pô-los em prática, consultaram os chefes.
"De acordo com as informações da Subsecretaria de Inteligência de Segurança Pública, tomei providências na área penitenciária. A notícia é que haveria rebeliões. Transferi 55 presos, movimentei 11 estabelecimentos prisionais e isolei lideranças, antecedendo ao fato que aconteceu."
No RDD, os chefes só podem receber visitas de pai, mãe e filhos uma vez por semana. Passam 22 horas isolados em uma cela exclusiva, com direito a duas horas de banho de sol.
Ao impedir que os passageiros descessem do ônibus em chamas, os criminosos assinaram a própria sentença de morte, previu ontem o secretário.
Para ele, não interessava aos chefões a morte de inocentes. "Quando ocorre um caso desses eles cobram na comunidade e mandam matar quem fez".
Pereira dos Santos voltou a afirmar que os ataques foram uma retaliação do tráfico à ação miliciana, diferentemente do que sustentou o secretário de Segurança, Roberto Precioso Júnior. "Eles [os traficantes] acham que [o governo] não está enfrentando o problema das milícias. Quando há um ataque a uma delegacia, a um posto policial, eles estão atacando aqueles que estão atacando as comunidades deles."
As milícias a que o secretário se referiu são grupos de policiais, ex-policiais, militares e bombeiros que estão ocupando favelas e expulsando traficantes. As milícias exigem o pagamento de taxas dos moradores.
A governadora do Rio, Rosinha Matheus, admitiu ontem que os ataques podem ter sido uma reação do tráfico às milícias. Para ela, essa hipótese está sendo investigada, assim como uma resposta do crime à troca de governo com o objetivo de tentar impor um regime mais brando nos presídios.

Omissão de dados
A Secretaria de Segurança omitiu da população informações sobre a amplitude dos ataques iniciados na noite de quarta-feira. Na manhã seguinte, o secretário Precioso Júnior já tinha relatos completos.
Mesmo assim, foram deixados de fora, nas informações oficiais prestadas em boletins e em entrevista coletiva, os ataques a pelo menos duas delegacias: a de Repressão a Entorpecentes, no Grajaú e a 29ª DP (Delegacia de Polícia), em Madureira, (ambas na zona norte).
Segundo a secretaria, a omissão não foi proposital, mas motivada por confusão nos registros oficiais originada no acúmulo de informações
A secretaria também não divulgou, como disse que faria, a relação dos sete supostos traficantes mortos em confrontos com policiais nem as circunstâncias e os locais dos tiroteios


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