São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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Para educadores, desinteresse por cursos e problemas financeiros aumentam a evasão

DA REPORTAGEM LOCAL

Dificuldade para se manter na universidade, desencanto com os cursos e problemas de gestão são algumas das possibilidades citadas por pesquisadores e gestores para explicar o aumento da evasão e do tempo de conclusão dos cursos das instituições públicas.
O presidente da Andifes (associação que reúne as universidades federais), Arquimedes Diógenes Ciloni, afirma que o aumento das matrículas que ocorre desde a década passada fez com que entrassem nas universidades camadas mais pobres da sociedade -que possuem mais dificuldades para seguir no ensino superior.
"Mesmo que o curso seja gratuito, há gastos com transporte, livros, alimentação. Fica pesado, principalmente para os que precisam mudar de cidade. Muitos desistem", afirmou.
O consultor em ensino superior Carlos Monteiro também cita as dificuldades financeiras dos estudantes. "Durante o ensino superior, muitos passam a ser chefe de família e precisam começar a trabalhar. Às vezes não é possível conciliar."
Monteiro aponta também que o modelo do ensino superior pode desagradar. "Na maioria absoluta dos casos, as aulas repetem o modelo do ensino básico. O aluno se cansa."
Para Monteiro, uma das principais medidas para "segurar" os alunos no ensino superior é diversificar o sistema, aumentando os cursos de curta duração, por exemplo.
O pesquisador Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física USP-São Carlos, diz que a queda no número de concluintes ocorre principalmente devido a problema de gestão das universidades. E cita como exemplo o sistema de créditos, no qual o próprio aluno monta sua carga horária de aulas. "Do mesmo modo que dá mais liberdade para o aluno, o que pode ajudá-lo, muitas universidades deixam o estudante solto, e ele acaba se perdendo."

Gestões Lula e FHC
O Ministério da Educação do governo Lula culpou a gestão FHC (1995-2002) pela perda de eficiência nas universidades federais do país. Os tucanos rebateram a crítica.
Para o atual secretário de Ensino Superior, Ronaldo Mota, a queda de concluintes entre 2004 e 2006 é reflexo de "políticas adotadas" na década de 2000. Mota cita as verbas de custeio, que, de acordo com ele, eram, em 2003, cerca de um terço das deste ano.
"O número de concluintes de agora reflete políticas adotadas no período anterior. Com falta de custeio e carência de recursos humanos, as universidades se sentiram pouco estimuladas a repensarem seus modelos acadêmicos e a combaterem a evasão", disse.
Ministro da Educação na gestão FHC, Paulo Renato Souza negou que as universidades tenham sofrido problemas financeiros em seu período.
De acordo com o ex-ministro, a análise apresentada pelo governo Lula desconsidera convênios feitos em 2000 que renderam R$ 500 milhões (valor da época) em equipamentos para as instituições.
"Tanto não houve problema de recursos que o número de alunos nas universidades federais cresceu na minha gestão", afirmou. Segundo dados do MEC, entre os anos de 1995 e de 2002, o número de vagas nesse sistema cresceu 46,43%.
De acordo com o ex-ministro, atualmente deputado federal pelo PSDB-SP, o número de concluintes caiu nas universidades federais "porque não está havendo cobrança do governo" em cima das universidades públicas. (FT)


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