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Vítimas de hanseníase começam a receber pensão
Benefício, de R$ 750, é vitalício e virá da União
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Após anos de isolamento em
hospitais-colônia, vítimas de
hanseníase começaram a receber, na semana passada, do governo federal uma pensão
mensal e vitalícia de R$ 750.
Obrigados a se internar nos então chamados leprosários, onde eram confinados e mantidos
sob vigilância, eles terão direito
ao dinheiro que sairá dos cofres
da Previdência Social.
A Secretaria Nacional de Direitos Humanos estima que entre 3.000 e 4.000 pessoas tenham direito à pensão no país.
O primeiro -e um dos mais velhos- a receber o benefício, estabelecido por lei, é José Garcia
da Cruz, 102, de Mato Grosso
do Sul. Ele passou os últimos 66
anos internado no hospital e
antiga colônia São Julião, a 15
km de Campo Grande.
A parcela inicial será paga a
22 dos 56 ex-internos que já tiveram seus requerimentos
aprovados. Os 34 restantes, segundo o governo, receberão até
o final de janeiro. O benefício é
retroativo a maio deste ano,
quando a pensão foi instituída
por medida provisória. A estimativa do governo é de um gasto de R$ 27 milhões por ano.
Desde maio, cerca de 5.000
requerimentos já chegaram à
comissão interministerial encarregada da seleção de beneficiários. "Neste momento, até
mesmo em função do Estatuto
do Idoso, a prioridade é daqueles com idade entre 80 e 100
anos", diz Sueli de Paula Dias,
assessora da secretaria e integrante da comissão.
Consolidada como política
de saúde pública no primeiro
governo de Getúlio Vargas
(1930-1945), a internação compulsória por hanseníase foi
abolida formalmente em 1962,
mas, segundo a assessora, há
registros de casos ocorridos até
meados da década de 1980.
A pensão tem como objetivo,
segundo o governo, reparar
"efeitos causados pela ação do
Estado, ainda que embasada
em teorias científicas vigentes
à época, causadora de danos irrecuperáveis".
Provocada por uma bactéria
(bacilo de Hansen) e transmitida por meio da respiração, a
hanseníase ataca a pele e o sistema nervoso. Entre os sintomas estão o surgimento de
manchas e a perda de sensibilidade em várias partes do corpo.
Se não for tratada a tempo, pode causar seqüelas em mãos,
braços e pernas dos doentes.
Falta de alternativa
A historiadora Vívian Cunha,
que defendeu dissertação de
mestrado na Fiocruz sobre as
políticas de combate à doença
na primeira metade do século
passado, diz que o isolamento
dos doentes ocorria pela falta
de alternativas. "Naquele momento, só havia duas certezas: a
doença era contagiosa e não havia cura."
Segundo ela, os relatos mais
chocantes envolvem crianças.
"Todos os doentes eram retirados das famílias e levados, independentemente da idade. E os
que nasciam nas colônias, filhos de relacionamentos entre
internos, eram imediatamente
separados de seus pais."
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