São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

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DENGUE

Desde o início do ano, já foram notificados mais de 10 mil casos no Estado; capital fluminense teve mais 500 registros ontem

Epidemia no Rio é a pior dos últimos 11 anos

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O Estado do Rio está enfrentando a maior epidemia de dengue dos últimos 11 anos. A Secretaria Estadual da Saúde informou ontem que, desde o início do ano, já foram notificados 10.406 casos.
Esse número supera a soma de casos registrados de todos os meses de janeiro de 1992 a 2001, cuja soma chega a 8.390. A última grande epidemia de dengue no Estado ocorreu em janeiro de 1991. Na ocasião, foram notificados 34.636 casos nesse período.
Segundo a secretaria, já foram contabilizados 169 casos da forma mais grave da doença, a hemorrágica, e cinco mortes, todas no município do Rio. A capital fluminense lidera as estatísticas de dengue. Ontem, a Secretaria Municipal da Saúde notificou mais 500 casos, chegando a um total de 3.862, sendo que 74 são da forma hemorrágica. Esse número é 7,6 vezes o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram notificados 504 casos.
O complexo da Maré (zona norte) é o local de maior incidência de dengue no Rio, com 321 casos já notificados desde o início do ano. Os municípios da Baixada Fluminense estão logo atrás da capital em número de notificações. Duque de Caxias está em segundo lugar (1.410 registros) e Nova Iguaçu, em terceiro (1.344).
Para a superintendente estadual de Saúde Coletiva, Yolanda Bravin, a epidemia é explicada pelo aparecimento do tipo 3 do vírus. Segundo ela, dos 25 casos isolados pelo Laboratório Noel Nutels, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde, 95% correspondiam ao vírus do tipo 3. "Quem já teve os tipos 1 e 2 está sensível ao 3", disse.
Yolanda afirmou que o novo vírus apareceu no início de 2001 e que a tentativa de eliminar os focos durante o inverno do ano passado foi frustrada, devido à ausência de um trabalho conjunto entre a população e o poder público. "Não adianta nada um cidadão se prevenir se o seu vizinho não faz o mesmo", disse.
Para Sérgio Arouca, ex-secretário municipal da Saúde, a explosão no número de casos já era anunciada. De acordo com ele, desde 1987 (ano da primeira epidemia), o aumento no número de casos a partir de março tem sido prenúncio de uma epidemia no verão seguinte, como ocorreu em 2001. A prefeitura, segundo ele, sabia disso, mas não fez nada e esperou o verão para agir.
"Antes de deixar a secretaria, apontei uma carência de 1.500 agentes, além de equipamentos. Nada foi feito. Hoje, não há guardas suficientes e os carros estão parados na garagem", afirmou.
Para Antônio Sérgio da Fonseca, médico especializado em saúde pública da Fiocruz, o poder público só resolveu tomar medidas depois que os casos começaram a aparecer com grande incidência.
Procurada pela Folha, a assessoria da Secretaria Municipal da Saúde não havia indicado ninguém para responder às críticas até o fechamento desta edição.



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