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ADMINISTRAÇÃO
Secretaria municipal vai investigar o caso; acordo de cooperação com a Unesco veta a prática de nepotismo
Saúde contrata parentes de coordenador
FABIANE LEITE
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo contratou, por
meio da Unesco (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura), a ex-mulher,
a filha e o companheiro da filha
do atual coordenador de desenvolvimento da gestão descentralizada da pasta, Fábio Mesquita.
A informação foi confirmada
pelo próprio Mesquita, ex-coordenador de DST/Aids do município e cotado para assumir uma
possível secretaria de prevenção
às drogas no Ministério da Justiça.
Mesquita afirma não ver irregularidade. Na contratação da filha,
no entanto, diz que houve ingenuidade. "Tranqüilamente, da
minha parte, eu não mudaria
uma vírgula de nenhuma dessas
situações. Exceto a da Juliana [a filha], embora ela tenha prestado
uma atividade completamente
pontual, mas eu mudaria porque
acho que foi ingenuidade."
A Saúde decidiu abrir uma investigação preliminar para averigüar a suspeita de nepotismo. A
decisão foi anunciada ontem, depois que o responsável pela pasta,
Gonzalo Vecina Neto, foi chamado a dar explicações à Unesco.
Vecina Neto se reuniu, em Brasília, com Jorge Werthein, representante do órgão internacional.
A Unesco informou, pela assessoria de imprensa, que não aceita favorecimentos. Werthein não quis
comentar. O manual de execução
de cooperação e assistência técnica internacional do organismo da
ONU, por exemplo, veta, em
qualquer tipo de contratação, a
relação de subordinação hierárquica entre profissionais com os
seguintes graus de parentesco:
cônjuges ou parceiros de união
estável, pais, filhos e irmãos.
A direção do órgão soube do caso das contratações depois de ter
sido procurado pela Folha.
A prefeitura mantém um acordo de cooperação técnica com a
Unesco para agilizar contratações
de serviços e funcionários no programa de Aids -caso fossem feitas diretamente pelo serviço público, haveria a burocracia das licitações e concursos, explica a secretaria. Mensalmente, cerca de
R$ 200 mil são repassados pela
prefeitura à Unesco para as contratações. Corresponde à metade
do total de recursos que o município recebe do Fundo Nacional de
Saúde para a área de doenças sexualmente transmissíveis e Aids.
Os valores e o total de contratos,
requisitados ontem pela Folha à
secretaria, não foram fornecidos.
Só estão disponíveis para a comissão de investigação, informou.
Dossiê
Nas últimas semanas, circulou
em São Paulo, entre as ONGs que
defendem portadores da Aids,
um dossiê com contratos feitos no
segundo semestre do ano passado
pela secretaria, por meio da Unesco, com Regina de Carvalho Bueno, ex-mulher de Mesquita, com a
filha do coordenador, Juliana
Mesquita, e o companheiro de Juliana, André Frateschi, filho do secretário municipal da Cultura,
Celso Frateschi.
Segundo os documentos recebidos pelas entidades, retirados do
sistema de informações da Unesco, Bueno teria recebido R$ 3.800,
em 18 de setembro do ano passado, pela prestação de serviços no
projeto de redução de danos da
secretaria. Há ainda um segundo
pagamento, em 3 de novembro,
de R$ 2.000.
André Frateschi recebeu R$
2.600, em 22 de outubro último,
segundo mostram os documentos. A Juliana foram pagos R$
2.750, em 22 de setembro.
Os documentos mostram ainda
contratos com Giselda Turienzo
Lopes e Márcio Fernandes Amado, respectivamente prima e namorado da coordenadora financeira do programa, Iêda Cristina
Turienzo Ferreira.
Colaborou CAIO JUNQUEIRA, da Reportagem Local
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