São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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45 oficiais da PM entregam cargos no Rio

Movimento afirma que, entre os demissionários, estão 14 coronéis; novo comandante assume e diz que não há motim

Grupo quer a volta do coronel Ubiratan, demitido após ato de policiais por reajuste salarial, e a saída do secretário Beltrame

Rafael Andrade/Folha Imagem
O novo comandante da PM, Gilson Lopes, tomou posse ontem, após a saída de Ubiratan Ângelo


ITALO NOGUEIRA
MÁRCIA BRASIL
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Um dia após o governador Sérgio Cabral (PMDB) ter demitido a cúpula da Polícia Militar do Rio de Janeiro, um grupo de oficiais da PM reagiu e pediu exoneração de cargos de comando, ampliando a crise interna da instituição no Estado.
Segundo o Grupo dos Barbonos -referência ao antigo nome da rua Evaristo da Veiga, onde fica o quartel-general da PM- 45 oficiais da PM de diversas patentes entregaram ontem cartas pedindo para deixar as chefias que ocupam. Querem a saída do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e a volta do coronel Ubiratan Ângelo ao comando da corporação.
Em reunião no final da noite de ontem, em uma sala com cerca de 300 pessoas (entre oficiais, parlamentares e familiares de PMs), a Associação dos Militares Oficiais Estaduais do Rio, que congrega os líderes do movimento, amenizou o tom contra Beltrame, em carta a ser enviada ao governador.
Enquanto na reunião de anteontem a saída de Beltrame era "exigida" no texto, na de ontem era "recomendada". A carta abre a possibilidade ainda de que, caso o secretário não seja demitido, fique fora das discussões sobre reajuste dos PMs.
Os líderes do movimento dizem que no grupo há pelo menos 14 coronéis (posto máximo da hierarquia da PM) e 13 tenentes-coronéis que comandam batalhões. No total, a PM tem em seus quadros 2.631 oficiais, e cerca de 70 coronéis e mais de cem postos de chefia.
Nas ruas, o policiamento ostensivo foi mantido normalmente, apesar de pela manhã ter havido tentativas de paralisação por grupos de PMs em quartéis em Jacarepaguá e Belford Roxo, segundo os líderes.
O acirramento das tensões provocou a antecipação da posse do novo comandante da PM, Gilson Pitta Lopes, 53, ex-chefe do serviço reservado. A solenidade, prevista para hoje, foi realizada ontem à noite, no gabinete de comando da PM, com a presença de Beltrame.
Pela primeira vez em 200 anos da corporação, a posse ocorreu em um evento sem convidados. "Não existe motim", disse o coronel Pitta, após assumir o cargo. Ele recusou-se a confirmar o total de oficiais que entregaram os cargos.
"As mudanças ocorrerão e isso servirá para os oficiais jovens alçarem novos postos. Com certeza a corporação dará um salto de qualidade caminhando para a modernidade que a população exige. Não há rebelião nenhuma", disse.
O afastamento da cúpula da PM- comandante Ubiratan e outros oito coronéis- foi anunciada anteontem, após Beltrame ter definido como "insubordinação" protesto de PMs, no domingo, pedindo aumento em uma rua vizinha à da que mora o governador, no Leblon.
Um dos coronéis demissionários, Dario Cony dos Santos -comandante das Unidades Operacionais Especiais, que reúne o Bope e o Batalhão de Policiamento de Choque-, negou que o grupo seja insubordinado. "Somos organizados, não somos insubordinados. Estamos insatisfeitos com a saída do coronel Ubiratan, para nós, um grande líder."
Segundo o movimento, os PMs detidos no Batalhão Especial Prisional iniciarão hoje greve de fome em apoio a eles.
Beltrame procurou contemporizar com o grupo, mas os criticou. "Salário é a espinha dorsal, sem dúvida. Mas temos que ter método, condições e respeito. Acho um exagero a atitude tomada."


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