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Vítima tinha contra-indicações para vacina
Enfermeira que entrou em coma após imunizar-se contra febre amarela tem doença auto-imune e usa corticóides continuamente
Marizete Borges de Abreu, enfermeira-chefe da UTI do Hospital Geral de São Mateus, respira com o auxílio de aparelhos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A enfermeira Marizete Borges de Abreu, 43, que está em
coma em um hospital de São
Paulo com suspeita de febre
amarela vacinal, tinha ao menos três contra-indicações para
a vacina: é portadora de lúpus
-uma doença auto-imune-,
usa corticóide continuadamente e não pretendia viajar para
áreas de risco.
Marizete, enfermeira-chefe
da UTI do Hospital Geral de
São Mateus (zona leste), foi vacinada no dia 17, em uma unidade básica de saúde da zona
leste. Segundo o pai, Francisco
Borges de Abreu, 75, não foi
perguntado à filha se ela tinha
alguma contra-indicação.
A Secretaria Municipal da
Saúde informou ontem que
orienta os funcionários das
unidades de saúde a questionar
sobre possíveis contra-indicações, mas, se a pessoa que será
vacinada não as relata, não há
como impedir a vacinação.
Marizete está internada em
estado grave na UTI do hospital
de São Mateus desde sábado à
noite. Sedada, ela respira com a
ajuda de aparelhos.
"Ninguém perguntou se minha filha tinha alguma doença.
Veja o monte de reações [vacinais] que têm aparecido por aí.
As pessoas não têm informações. Mesmo sendo enfermeira, ela não lembrou que, por
causa da sua doença, não poderia tomar a vacina", diz o pai.
Ao todo, já são 43 os casos de
reações adversas à vacina contra a febre amarela no país. O
número é muito maior do que
os registros da doença confirmados pelo Ministério da Saúde -19 casos desde dezembro,
com dez mortes.
Abreu afirma que três dias
depois de tomar a vacina, sua filha começou a se sentir mal,
com vômitos e febre. "Eu logo
desconfiei que pudesse ser reação da vacina. Falei: "Filha, você
toma Meticorten [antiinflamatório usado no tratamento de
doenças auto-imunes], não deveria ter tomado a vacina". Mas
ela não acreditava que os sintomas fossem por causa disso."
Solteira, Marizete mora com
o pai. Desde sábado, Abreu diz
que a visita três vezes por dia no
hospital. "Estamos orando. Ela
vai sair dessa, tenho fé em Deus
que vai." Uma amostra do sangue de Marizete foi encaminhada ao Instituto Adolfo Lutz
para confirmar se o caso é de febre amarela vacinal.
Segundo o infectologista e
clínico-geral Paulo Olzon, da
Unifesp, o portador de lúpus
(ou qualquer outra doença auto-imune) usa corticóides para
diminuir a imunidade do organismo, ou seja, para que ele não
crie anticorpos contra si mesmo. "Em uma pessoa sem imunidade, o vírus [no caso, o vírus
atenuado da vacina] fica agressivo. Por isso, a vacina é totalmente contra-indicada."
O mesmo se aplica às pessoas
com mais de 70 anos, que fazem tratamento contra câncer,
que tenham doenças reumatológicas ou transplantados.
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