São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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Polícia flagra 200 por dia sem habilitação em rodovias federais

Número de motoristas multados em estradas sem a CNH subiu 58%; acidentes com inabilitados também crescem

Infração de quem nunca passou em prova para dirigir atinge até veículos mais insuspeitos, como ambulância e ônibus


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

No interior do Piauí, passageiros de um ônibus intermunicipal eram transportados por um motorista sem habilitação. O patrão admitiu às autoridades que fez a contratação sem exigir a CNH, só com base na crença de que ele sabia dirigir.
No sertão da Paraíba, até uma ambulância flagrada há seis meses tinha em seu volante um condutor sem carteira.
Esse tipo de infração de gente que nunca passou numa prova para dirigir atinge inclusive veículos insuspeitos e está disseminada também em estradas -que exigem mais preparo.
Só a Polícia Rodoviária Federal autuou mais de 200 motoristas por dia que não tinham carteira de habilitação no ano passado (sem contar as vencidas ou esquecidas em casa).
É uma quantidade 58% superior à de dois anos antes, mesmo sem aumento significativo no contingente de fiscalização.
No ranking da PRF, essa irregularidade já é a quinta mais frequente nas rodovias, só perdendo para velocidade excessiva, ultrapassagem pela contramão na linha contínua amarela, falta de licenciamento e de cinto de segurança do condutor.
A dimensão do problema assusta os especialistas porque a falta de preparo ao volante, por vezes com menores de 18 anos, afeta diretamente a segurança. "Nas estradas, piora. Uma falha qualquer não significa uma raladinha do carro, mas destruição, morte", avalia Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia de transportes pela USP.
Nos últimos anos, as principais intervenções do poder público visaram as falhas na formação dos motoristas nas auto-escolas. A carga horária das aulas aumentou, motoristas tiveram que passar por cursos de direção defensiva e primeiros socorros, órgãos de trânsito adotaram identificação digital para inibir a venda de carteiras.
Os problemas de formação continuam, mas a incidência de condutores sem CNH indica que a situação é ainda mais grave, pois muitos motoristas sequer passam pelo treinamento.
A multa por dirigir sem possuir a carteira de habilitação é de R$ 574, além da apreensão do veículo. Mas só há infração penal, sujeita a detenção, se houver "perigo de dano" -por exemplo, se o condutor estiver guiando em alta velocidade.
A sensação de impunidade é a principal razão para que haja tantos condutores sem habilitação, como admite a autoridade máxima do trânsito. "O pessoal confia na falta de fiscalização, confia que não será parado", diz Alfredo Peres da Silva, presidente do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
O controle é ainda mais deficiente dentro das cidades, onde às vezes não há um só policial para abordar os motoristas.
Estatísticas recebidas pelo Contran avalizam os sinais de agravamento do problema.
Em 2008, houve registros de 31.541 motoristas inabilitados envolvidos em acidentes com vítimas (dá mais de 86 por dia).
A quantidade é quase duas vezes a média de anos anteriores. Embora parte da diferença possa estar ligada ao aumento de notificação das ocorrências, há sinais de crescimento dos "sem CNH" -porque a alta dos motoristas habilitados em acidentes ficou muito inferior.
A principal explicação de técnicos para esse crescimento é a expansão das motocicletas.
"Tem quem pague R$ 150 por mês na parcela de uma moto, mas que não tem dinheiro para tirar a carteira", afirma Luiz Artur Cane, do Movimento Brasileiro de Motociclistas, em referência a gastos que costumam passar de R$ 600 com aulas e taxas para ter a CNH.


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