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Polícia flagra 200 por dia sem habilitação em rodovias federais
Número de motoristas multados em estradas sem a CNH subiu 58%; acidentes com inabilitados também crescem
Infração de quem nunca passou em prova para dirigir atinge até veículos mais insuspeitos, como ambulância e ônibus
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
No interior do Piauí, passageiros de um ônibus intermunicipal eram transportados por
um motorista sem habilitação.
O patrão admitiu às autoridades que fez a contratação sem
exigir a CNH, só com base na
crença de que ele sabia dirigir.
No sertão da Paraíba, até
uma ambulância flagrada há
seis meses tinha em seu volante
um condutor sem carteira.
Esse tipo de infração de gente que nunca passou numa prova para dirigir atinge inclusive
veículos insuspeitos e está disseminada também em estradas
-que exigem mais preparo.
Só a Polícia Rodoviária Federal autuou mais de 200 motoristas por dia que não tinham
carteira de habilitação no ano
passado (sem contar as vencidas ou esquecidas em casa).
É uma quantidade 58% superior à de dois anos antes, mesmo sem aumento significativo
no contingente de fiscalização.
No ranking da PRF, essa irregularidade já é a quinta mais
frequente nas rodovias, só perdendo para velocidade excessiva, ultrapassagem pela contramão na linha contínua amarela,
falta de licenciamento e de cinto de segurança do condutor.
A dimensão do problema assusta os especialistas porque a
falta de preparo ao volante, por
vezes com menores de 18 anos,
afeta diretamente a segurança.
"Nas estradas, piora. Uma falha
qualquer não significa uma raladinha do carro, mas destruição, morte", avalia Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia
de transportes pela USP.
Nos últimos anos, as principais intervenções do poder público visaram as falhas na formação dos motoristas nas auto-escolas. A carga horária das aulas aumentou, motoristas tiveram que passar por cursos de
direção defensiva e primeiros
socorros, órgãos de trânsito
adotaram identificação digital
para inibir a venda de carteiras.
Os problemas de formação
continuam, mas a incidência de
condutores sem CNH indica
que a situação é ainda mais grave, pois muitos motoristas sequer passam pelo treinamento.
A multa por dirigir sem possuir a carteira de habilitação é
de R$ 574, além da apreensão
do veículo. Mas só há infração
penal, sujeita a detenção, se
houver "perigo de dano" -por
exemplo, se o condutor estiver
guiando em alta velocidade.
A sensação de impunidade é
a principal razão para que haja
tantos condutores sem habilitação, como admite a autoridade máxima do trânsito. "O pessoal confia na falta de fiscalização, confia que não será parado", diz Alfredo Peres da Silva,
presidente do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
O controle é ainda mais deficiente dentro das cidades, onde
às vezes não há um só policial
para abordar os motoristas.
Estatísticas recebidas pelo
Contran avalizam os sinais de
agravamento do problema.
Em 2008, houve registros de
31.541 motoristas inabilitados
envolvidos em acidentes com
vítimas (dá mais de 86 por dia).
A quantidade é quase duas
vezes a média de anos anteriores. Embora parte da diferença
possa estar ligada ao aumento
de notificação das ocorrências,
há sinais de crescimento dos
"sem CNH" -porque a alta dos
motoristas habilitados em acidentes ficou muito inferior.
A principal explicação de técnicos para esse crescimento é a
expansão das motocicletas.
"Tem quem pague R$ 150 por
mês na parcela de uma moto,
mas que não tem dinheiro para
tirar a carteira", afirma Luiz
Artur Cane, do Movimento
Brasileiro de Motociclistas, em
referência a gastos que costumam passar de R$ 600 com aulas e taxas para ter a CNH.
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