São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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Morador de prédio de luxo reclama de ruído

Empreendimentos novos, alguns com custo superior a R$ 500 mil, têm paredes mais finas, o que aumenta o barulho interno

Para atenuar o problema, morador usa protetores auriculares dentro de casa, para dormir, estudar ou não ser incomodado


MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Rodolfo, 32, mudou-se para um apartamento de R$ 500 mil no Morumbi acreditando que, em uma rua arborizada e sem saída, estaria em um éden de paz e qualidade de vida. Logo descobriu, porém, que podia escutar seus vizinhos conversando ou tomando banho e que precisaria incorporar à sua rotina tampões de ouvido.
Segundo especialistas em construção consultados pela Folha, reclamações como as de Rodolfo são comuns hoje por causa das modernas técnicas de construção. Paredes e lajes são finas e oferecem um bloqueio menor ao som (veja ao lado).
Por conta disso, protetores auriculares -antes restritos às fábricas- são hoje vendidos para uso doméstico. São até fabricados sob medida e ajudam quem quer dormir, estudar ou apenas não ser incomodado.
É o caso de Rodolfo, que diz importar protetores especiais para aguentar o barulho de seu prédio. "Se não os uso, acordo várias vezes à noite com o vizinho de cima", diz. Passos durante a noite e até a descarga sendo acionada são alguns dos pesadelos do morador.
Rodolfo, que pediu para não ter o sobrenome divulgado, critica a construção entregue pela construtora Marques em 2008 e afirma que teve de bancar uma obra de revestimento no teto para minimizar o ruído. Gastou R$ 5.000.
O empresário é um dos moradores indignados que procuraram o advogado Waldir Carneiro, especialista em casos de ruídos em edificações. Seu escritório recebe pelo menos duas consultas por semana sobre o tema -que podem acarretar em pedido de indenização ou de desistência do negócio.
As reclamações hoje se concentram em problemas no prédio, segundo Carneiro, e não mais em problemas externos, como o barulho de uma boate.
Ele diz que o projeto falha quando permite um vizinho escutar a vida do outro. "Escutar o dia a dia do vizinho mostra falta de qualidade. Não estamos falando de exceções, como vizinho baterista", afirma.
Quem também se considera uma vítima do boom imobiliário de São Paulo é o administrador de empresas Selmo Araújo, 41. Assim como Rodolfo, ele imaginou que teria tranquilidade em um apartamento no 17º andar em frente ao parque Leopoldina-Villas Bôas, mas passou a conviver com barulho.
No apartamento de R$ 800 mil, acabou gastando mais R$ 9.000 para instalar duas janelas antirruído e para fechar sua varanda com vidros. Tudo para escapar do barulho da marginal Tietê, que fica após o parque.
Além disso, ainda tem de enfrentar o barulho interno no edifício, um projeto recente da construtora Even. "Escuto barulho de torneira e descarga como se fosse aqui no meu apartamento", afirma.
Quem não quer gastar tem como solução acostumar-se ou deixar o prédio. Foi o que fez Cecília Maria, que residiu por 30 meses em um prédio em Moema, usando protetor auricular para dormir e aguentar o "home theater" do vizinho. Mudou-se para uma casa.


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