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Morador de prédio de luxo reclama de ruído
Empreendimentos novos, alguns com custo superior a R$ 500 mil, têm paredes mais finas, o que aumenta o barulho interno
Para atenuar o problema, morador usa protetores auriculares dentro de casa, para dormir, estudar ou não ser incomodado
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Rodolfo, 32,
mudou-se para um apartamento de R$ 500 mil no Morumbi
acreditando que, em uma rua
arborizada e sem saída, estaria
em um éden de paz e qualidade
de vida. Logo descobriu, porém,
que podia escutar seus vizinhos
conversando ou tomando banho e que precisaria incorporar
à sua rotina tampões de ouvido.
Segundo especialistas em
construção consultados pela
Folha, reclamações como as de
Rodolfo são comuns hoje por
causa das modernas técnicas de
construção. Paredes e lajes são
finas e oferecem um bloqueio
menor ao som (veja ao lado).
Por conta disso, protetores
auriculares -antes restritos às
fábricas- são hoje vendidos
para uso doméstico. São até fabricados sob medida e ajudam
quem quer dormir, estudar ou
apenas não ser incomodado.
É o caso de Rodolfo, que diz
importar protetores especiais
para aguentar o barulho de seu
prédio. "Se não os uso, acordo
várias vezes à noite com o vizinho de cima", diz. Passos durante a noite e até a descarga
sendo acionada são alguns dos
pesadelos do morador.
Rodolfo, que pediu para não
ter o sobrenome divulgado, critica a construção entregue pela
construtora Marques em 2008
e afirma que teve de bancar
uma obra de revestimento no
teto para minimizar o ruído.
Gastou R$ 5.000.
O empresário é um dos moradores indignados que procuraram o advogado Waldir Carneiro, especialista em casos de
ruídos em edificações. Seu escritório recebe pelo menos
duas consultas por semana sobre o tema -que podem acarretar em pedido de indenização
ou de desistência do negócio.
As reclamações hoje se concentram em problemas no prédio, segundo Carneiro, e não
mais em problemas externos,
como o barulho de uma boate.
Ele diz que o projeto falha
quando permite um vizinho escutar a vida do outro. "Escutar
o dia a dia do vizinho mostra
falta de qualidade. Não estamos
falando de exceções, como vizinho baterista", afirma.
Quem também se considera
uma vítima do boom imobiliário de São Paulo é o administrador de empresas Selmo Araújo,
41. Assim como Rodolfo, ele
imaginou que teria tranquilidade em um apartamento no 17º
andar em frente ao parque Leopoldina-Villas Bôas, mas passou a conviver com barulho.
No apartamento de R$ 800
mil, acabou gastando mais R$
9.000 para instalar duas janelas antirruído e para fechar sua
varanda com vidros. Tudo para
escapar do barulho da marginal
Tietê, que fica após o parque.
Além disso, ainda tem de enfrentar o barulho interno no
edifício, um projeto recente da
construtora Even. "Escuto barulho de torneira e descarga como se fosse aqui no meu apartamento", afirma.
Quem não quer gastar tem
como solução acostumar-se ou
deixar o prédio. Foi o que fez
Cecília Maria, que residiu por
30 meses em um prédio em
Moema, usando protetor auricular para dormir e aguentar o
"home theater" do vizinho.
Mudou-se para uma casa.
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