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Obras não priorizam acústica, afirma setor imobiliário
Tema não é valorizado por compradores e construtores, diz Secovi; 3% do valor da obra teria de ser gasto para haver bom isolamento
Problema pode ser atenuado em breve, pois regra que começa em maio determina padrão mínimo
e forma de medição
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem reclama do barulho no
prédio é muitas vezes taxado de
chato pelos vizinhos. Especialistas consultados pela Folha,
porém, afirmam que essas
queixas não surpreendem e
que há motivos para existirem.
Em primeiro lugar porque as
técnicas modernas de construção permitem que o som se
propague com mais facilidade
em relação às usadas em prédios com mais de 20, 30 anos.
Em segundo porque as construtoras nunca trataram o conforto acústico como característica primordial de suas obras.
"Culturalmente, no Brasil, o
assunto acústica nunca foi
muito valorizado pelos clientes
e pelos construtores", afirma
Carlos Borges, vice-presidente
de tecnologia do Secovi -entidade que representa o setor
imobiliário no Estado de SP.
Mas não se trata de simples
desinteresse, segundo ele. Faltava uma regulamentação detalhada para balizar parâmetros de desempenho acústico
das edificações. Faltava, porque já há uma norma prevendo
isso, a NBR 15.575, que passa a
valer a partir de maio.
"Essa norma vai obrigar a
construtora a pensar em diversos aspectos da acústica e determina como o resultado tem
que ser medido. É um avanço."
Segundo Borges, o preço dos
investimentos em acústica
sempre foi um empecilho. Mais
de 3% do custo de um empreendimento teria de ser gasto para fazer uma obra acusticamente perfeita. Por isso, apenas alguns edifícios com valores muito altos usam como
chamariz o fato de ter uma
acústica especial em relação a
prédios convencionais.
Mais leves
De acordo com a professora
de tecnologia de construção de
edifícios da Escola Politécnica
da USP Mercia Bottura Barros,
há 20 anos os revestimentos
eram mais espessos.
"As construtoras colocavam
mais material em paredes e lajes para minimizar erros de
prumo ou de alinhamento. Hoje as técnicas construtivas são
mais racionalizadas e precisas e
permitem paredes mais leves e,
como são menos espessas, oferecem um obstáculo menor ao
som", afirma.
Tanto Mercia como Borges
concordam que o uso do dry
wall, estrutura que tem sido
muito difundida na construção,
não implica necessariamente
problemas de acústica.
Leve e fino, o dry wall é constituído de uma estrutura metálica revestida por placas de gesso. Espaços entre essas placas
podem ser preenchidos para
melhorar o isolamento.
Se bem utilizado, afirmam, o
dry wall pode proporcionar um
bom isolamento, tanto que está
presente em divisórias de salas
de cinema.
(MÁRCIO PINHO)
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