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ADMINISTRAÇÃO
Hábil nos bastidores, pefelista não era o preferido do prefeito José Serra para dividir a chapa nas eleições
Vice à força, Kassab apostava na renúncia
DA REPORTAGEM LOCAL
Zagueiro do time de futebol do
clube Pinheiros nos anos 70, Beto
era o único dos garotos que nunca
se importou em ficar no banco de
reservas. De lá, estudava os adversários e ajudava a elaborar a estratégia para derrotá-los.
Trinta anos depois, com um
perfil mais rotundo que o da juventude e demonstrando habilidade política nos bastidores, Beto,
como era conhecido Gilberto
Kassab, abandona agora o banco
e chega à maior vitória de sua carreira ao assumir, a partir de hoje, a
Prefeitura de São Paulo.
Assume na carona dos 3,3 milhões de votos obtidos pelo tucano José Serra há um ano e meio e
por uma seqüência de acontecimentos que mistura sorte a um
apurado faro político -ele sempre apostou que o tucano deixaria
o cargo. Em conversas informais,
Kassab repete a frase que define o
seu raciocínio: "Em política, o que
tem lógica acaba acontecendo".
Em junho de 2004, ele entrou na
campanha de Serra pela porta lateral. O pefelista não era o vice sonhado pelo tucano. Foi imposto
pelo PFL na formação da chapa,
dois anos após Kassab ter articulado e emplacado Cláudio Lembo
como vice de Geraldo Alckmin
-hoje presidenciável tucano.
Serra tinha preferência por alguém com menos autonomia política e contra quem não pesassem
suspeitas. Não é o caso de Kassab.
Ex-integrante da tropa de choque de Paulo Maluf na Câmara
Municipal, ex-secretário da gestão Celso Pitta e afilhado político
do senador Jorge Bornhausen
(PFL), Kassab já respondeu a uma
série de acusações.
Empregou parente na administração pública, foi acusado de
enriquecimento ilícito e ficou sob
os holofotes após a polícia
apreender uma mala com US$ 130
mil numa rodovia paulista -valor que, segundo o motorista que
a levava, pertencia a Kassab.
Não sofreu, no entanto, condenação. A apuração sobre o seu patrimônio, que cresceu 316% nos
quatro anos em que foi deputado
estadual e trabalhou com Pitta, foi
arquivada pelo Ministério Público Estadual, que considerou justificável o seu enriquecimento.
"É tudo fruto de meu sucesso
empresarial", costuma dizer Kassab, que tem um patrimônio de
R$ 3,9 milhões, segundo a declaração que ele entregou em 2004 ao
Tribunal Regional Eleitoral.
O futuro prefeito é sócio de quatro empresas, nos setores de engenharia, agropecuária e de transporte. Um de seus irmãos, Pedro,
é consultor na área de transporte
e presta serviços para empresas de
ônibus que operam na cidade.
Formação acadêmica
Formado em economia e engenharia pela Universidade de São
Paulo, Kassab foi vereador por
dois anos (1993-94), deputado estadual por quatro (1995-99) e federal por seis (1999-2004).
Em todos esses anos, o pefelista
apresentou dezenas de projetos
de lei. Exceto nomeações de ruas e
títulos de cidadão, apenas um deles foi aprovado e sancionado
-criando o conselho municipal
de telecomunicações, que nem sequer existe mais.
Algumas de suas propostas ainda tramitam no Congresso, como
a criação de fundos para a universalização dos serviços de telecomunicações, com medidas como
a redução de tarifas.
Chamado por colegas de partido de "um enxadrista político",
Kassab ganhou força no PFL após
apaziguar disputas internas e levar Lembo ao cargo de vice na
chapa de Alckmin. Também participou da composição política
que levou em 2005 o seu amigo e
sócio, o deputado estadual Rodrigo Garcia, à presidência da Assembléia Legislativa -derrotando o candidato de Alckmin.
Perfil
Hábil com as palavras, mas
avesso aos microfones da imprensa, Kassab tem um perfil bem diferente do palmeirense Serra.
Aos 45 anos, o são-paulino Kassab não joga mais futebol. Prefere
jogos de tênis e caminhadas na
pista do clube, que começam às
6h30, logo depois de devorar quatro jornais.
José Serra, por sua vez, é noctívago e costuma mandar e-mails a
assessores de madrugada.
Kassab é solteiro. Diz que nunca
teve um relacionamento duradouro nem filhos porque o trabalho toma todo seu tempo. Serra é
casado e tem dois filhos.
O pefelista é descendente de
imigrantes libaneses. O tucano, de
italianos. Kassab sempre viveu na
área central, em zona nobre da cidade, e estudou em escolas particulares. Serra cresceu na Mooca e
freqüentou colégios públicos na
maior parte da vida.
Kassab diz adorar música sertaneja. De alguns anos para cá, não
tem lido livros, mas apenas relatórios econômicos e jornais. Já o tucano se diz apaixonado por leitura e cinema.
O futuro prefeito não sabe cozinhar. Adora doces, queijos e vinhos e é visto com freqüência em
restaurantes italianos.
Há dois pontos de convergência
na trajetória desses paulistanos. O
primeiro, de natureza territorial:
eles chegaram a morar por anos
na mesma rua, em Alto de Pinheiros, embora nunca tenham se encontrado nas vias do bairro.
O segundo, de natureza política,
num marco histórico que está
programado para ocorrer hoje,
ainda que de maneira figurativa: o
dia em que Serra entregará a Kassab a chave da cidade.
(FABIO SCHIVARTCHE e CONRADO CORSALETTE)
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