São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Astronauta ou cosmonauta?

"Pegar carona nessa cauda de cometa, ver a Via Láctea, estrada tão bonita, brincar de esconde-esconde numa nebulosa...!" Essa felicidade toda é para saudar o tenente-coronel Marcos César Pontes, primeiro tapuia a ir ao espaço.
Pontes recebeu todo o seu treinamento na Nasa e foi ao espaço de Soyuz. Isso faz dele um astronauta ou um cosmonauta? Bem, se os norte-americanos são astronautas e os russos, cosmonautas, nosso herói pode muito bem ser um espaçonauta. Antes um espaçonauta do que costronauta ou asmonauta, não é mesmo?
Da noite do lançamento até sentar para escrever este texto, conversei exclusivamente com espíritos de porco. Sobre o feito histórico do aviador de Bauru e, naturalmente, torcedor do Santos F. C., só ouvi comentários enfezados, de gente que acha que o dinheiro gasto para enviá-lo à Estação Espacial Internacional poderia ter sido melhor empregado ou que não vê pioneirismo algum na viagem. Minha tresloucada amiga Bucicleide chegou a comentar que, se ele tivesse ido à Lua, ela acharia bacana, mas que ficar girando na órbita terrestre é café pequeno.
Ora, ora. Ir ao espaço não é para qualquer peão, não, dona Buci, digo Cleide. E os US$ 10 milhões pagos pela passagem de Pontes são dinheiro de pinga para um país como o nosso. Fazer parte do exclusivíssimo clube dos exploradores do espaço deveria nos encher de brio. Dá de dez a zero em ganhar uma Copa do Mundo.
Mas, claro, as coisas poderiam ter sido conduzidas de forma melhor. Veja: por estar situada em região equatorial, a base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, oferece inúmeras vantagens. Durante o governo FHC, os EUA quiseram usá-la como base de lançamento para os seus foguetes. Em contrapartida, o Brasil exigiu, além de dinheiro, que os EUA compartilhassem sua tecnologia espacial conosco. Os americanos recusaram e acabaram sendo acusados de oportunistas.
Com o acidente da nave Columbia, a Nasa interrompeu os vôos dos ônibus espaciais, e Pontes ficou a pé. Acabou pegando carona na Soyuz, em troca de US$ 10 milhões mais o uso da base de Alcântara -sem que os russos se disponham a compartilhar qualquer conhecimento conosco. Tudo bem que civis milionários que queiram viajar ao espaço pagam o dobro. Mas só na cabeça de petistas bitolados ceder Alcântara aos russos é bom negócio, e cedê-la aos EUA, que têm muito mais dindim para investir, constitui atentado à soberania.

QUALQUER NOTA

"Mântega"
Nascido na Itália, Guido Mantega chama o deputado de origem italiana Arlindo Chinaglia (pronuncia-se Quinálhia) de Arlindo "Xináguilia". Só falta agora o ministro incorporar o acento circunflexo ao próprio sobrenome.

A ética do rei menino
Alô, Gabriel Chalita! Não me leve a mal, mas será que o senhor poderia parar de me mandar livros? A cada vez que menciono o secretário na coluna, recebo livros autografados de sua autoria. Se ele ainda enviasse a cópia da biografia que escreveu sobre a cantora Vanusa (não é piada), vá lá, eu mataria a curiosidade. Mas, desse jeito, não há saco de lixo que dê conta.


E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/


Texto Anterior: Repercussão
Próximo Texto: Qualidade das praias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.