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BARBARA GANCIA
Astronauta ou cosmonauta?
"Pegar carona nessa cauda de cometa, ver a Via
Láctea, estrada tão bonita, brincar de esconde-esconde numa nebulosa...!" Essa felicidade toda é
para saudar o tenente-coronel
Marcos César Pontes, primeiro
tapuia a ir ao espaço.
Pontes recebeu todo o seu treinamento na Nasa e foi ao espaço
de Soyuz. Isso faz dele um astronauta ou um cosmonauta? Bem,
se os norte-americanos são astronautas e os russos, cosmonautas,
nosso herói pode muito bem ser
um espaçonauta. Antes um espaçonauta do que costronauta ou
asmonauta, não é mesmo?
Da noite do lançamento até
sentar para escrever este texto,
conversei exclusivamente com espíritos de porco. Sobre o feito histórico do aviador de Bauru e, naturalmente, torcedor do Santos F.
C., só ouvi comentários enfezados, de gente que acha que o dinheiro gasto para enviá-lo à Estação Espacial Internacional poderia ter sido melhor empregado ou
que não vê pioneirismo algum na
viagem. Minha tresloucada amiga Bucicleide chegou a comentar
que, se ele tivesse ido à Lua, ela
acharia bacana, mas que ficar girando na órbita terrestre é café
pequeno.
Ora, ora. Ir ao espaço não é para qualquer peão, não, dona Buci,
digo Cleide. E os US$ 10 milhões
pagos pela passagem de Pontes
são dinheiro de pinga para um
país como o nosso. Fazer parte do
exclusivíssimo clube dos exploradores do espaço deveria nos encher de brio. Dá de dez a zero em
ganhar uma Copa do Mundo.
Mas, claro, as coisas poderiam
ter sido conduzidas de forma melhor. Veja: por estar situada em
região equatorial, a base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, oferece inúmeras vantagens. Durante o governo FHC, os
EUA quiseram usá-la como base
de lançamento para os seus foguetes. Em contrapartida, o Brasil exigiu, além de dinheiro, que
os EUA compartilhassem sua tecnologia espacial conosco. Os americanos recusaram e acabaram
sendo acusados de oportunistas.
Com o acidente da nave Columbia, a Nasa interrompeu os vôos
dos ônibus espaciais, e Pontes ficou a pé. Acabou pegando carona
na Soyuz, em troca de US$ 10 milhões mais o uso da base de Alcântara -sem que os russos se
disponham a compartilhar qualquer conhecimento conosco. Tudo bem que civis milionários que
queiram viajar ao espaço pagam
o dobro. Mas só na cabeça de petistas bitolados ceder Alcântara
aos russos é bom negócio, e cedê-la aos EUA, que têm muito mais
dindim para investir, constitui
atentado à soberania.
QUALQUER NOTA
"Mântega"
Nascido na Itália, Guido Mantega chama o deputado de origem italiana Arlindo Chinaglia
(pronuncia-se Quinálhia) de
Arlindo "Xináguilia". Só falta
agora o ministro incorporar o
acento circunflexo ao próprio
sobrenome.
A ética do rei menino
Alô, Gabriel Chalita! Não me leve a mal, mas será que o senhor
poderia parar de me mandar livros? A cada vez que menciono
o secretário na coluna, recebo
livros autografados de sua autoria. Se ele ainda enviasse a cópia da biografia que escreveu
sobre a cantora Vanusa (não é
piada), vá lá, eu mataria a curiosidade. Mas, desse jeito, não há
saco de lixo que dê conta.
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/
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