São Paulo, sábado, 31 de março de 2007

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Após acusação de furto, Sobel é internado

Segundo boletim médico do hospital Albert Einstein, internação ocorreu devido a "episódios de transtorno de humor"

Rabino foi acusado de ter furtado gravatas nos EUA, onde chegou a ser detido; em nota, ele diz que jamais teve intenção de furtar


PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Acusado de furtar cinco gravatas em lojas de West Palm Beach, Flórida, na sexta-feira (23), o rabino Henry I. Sobel foi internado na madrugada de ontem no hospital Israelita Albert Einstein. De acordo com um boletim distribuído para a imprensa, a internação ocorreu devido a "episódios de transtorno de humor representado por descontrole emocional e alterações de comportamento".
O boletim, assinado pelo superintendente do hospital, José Henrique Germann, e pelo médico-assistente Flávio Huck, informou ainda que Sobel estava sob tratamento e vinha fazendo uso de hipnóticos e diazepínicos, que podem causar confusão mental e amnésia. Sobel, afastado temporariamente da presidência do rabinato da Congregação Israelita Paulista na quinta-feira, foi detido no dia 23 em West Palm Beach sob suspeita de furto. Segundo a polícia, ele furtou gravatas avaliadas em U$ 680 (R$ 1.390). As autoridades americanas o liberaram após pagamento de fiança de U$ 3.000 .
Sobel deve se apresentar para audiência com o juiz de Palm Beach no dia 23 de abril. Um amigo do rabino informou ontem que ele constituirá advogado nos EUA. Anteontem, o rabino emitiu nota em que diz que jamais teve "a intenção de furtar qualquer objeto" e que costuma enfrentar acusações. Líderes da comunidade judaica atribuem a atitude do rabino nos EUA ao seu estado de saúde "delicado".
"As atitudes dele estavam nos preocupando ultimamente. Eu não sou médico, mas afirmo que o comportamento do rabino não tem sido normal", diz o presidente do Congresso Judaico Latino Americano, Jack Terpins. Segundo ele, Sobel cancelou na última hora uma viagem que os dois fariam na quinta-feira a Caracas -e embarcou para Palm Beach.
"A viagem à Venezuela era importantíssima para prestar solidariedade à comunidade judaica local, que vinha sendo tratada com diferença por setores ligados ao (Hugo) Chávez."
Para o secretário municipal de Esportes e conselheiro da federação israelita de SP, Walter Feldman, "não é inimaginável que o rabino tenha agido de maneira involuntária".
"Como médico, acredito que ele passa por alterações físicas, mentais e até medicamentosas. O rabino é um indivíduo bastante dinâmico, e ultimamente andava estressado. Não duvido que, com seu temperamento voluntarioso, tenha alterado a posologia dos medicamentos para se sentir mais tranqüilo."
Para o presidente executivo da Federação Israelita do Estado de SP, Ricardo Berkiencztat, "não há como mensurar as conseqüências disso tudo".
"O rabino é uma figura de forte presença na sociedade brasileira, e sempre foi honrado por uma ética ilibada", diz. Apesar de considerar Sobel "um líder insubstituível na comunidade", Berkiencztat acredita que o nome mais provável para ficar no lugar dele em sua ausência é o de Michael Schlesinger, um dos três rabinos da CIP (Congregação Israelita Paulista). Ele diz que Schlesinger vem sendo preparado pelo próprio Sobel para substituí-lo.
Judeus de orientação mais ortodoxa, que não concordam com a linha liberal adotada por Sobel, também atribuem os atos do rabino a uma "fase difícil". "A repercussão que a imprensa está dando ao caso é um absurdo. É evidente que ele passa por problemas de saúde, e isso deveria ser respeitado", diz o rabino Yossi Schildraut, chefe da sinagoga do Itaim, a maior do Brasil.
Nascido e criado nos Estados Unidos, Schildkraut diz que conhece as leis americanas e que o delito de Sobel lá "é considerado uma ofensa mínima". Na opinião do presidente da Comissão dos Direitos Humanos de SP, José Gregori, Sobel é "o estrangeiro que mais colaborou para a integração da comunidade judaica no Brasil". "O que me deixa aterrado é a polícia americana ter chegado a esse grau de boçalidade. Você, como delegado, tem de saber quem prende", afirma.


Colaborou JULIANA TRAVAGLIA

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