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Mulher branca e rica é maior vítima de crime
Estudo da UFMG aponta que essas são as características de quem tem mais chances de ser vítima de violência no país
Pesquisa mostra ainda que
portar armas e freqüentar
eventos sociais diariamente
aumentam os riscos de
ser roubado ou furtado
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os hábitos de Lygia Horta,
moradora há 54 anos de Moema (zona sul de São Paulo), mudaram bastante por causa do
medo da violência. Ela hoje evita andar a pé pela vizinhança,
usa o carro até mesmo para se
deslocar para um restaurante
no bairro e decidiu fazer de sua
casa uma fortaleza, segundo
sua própria definição, para evitar furtos ou roubos.
Alguns podem até ver exagero em tanta precaução, mas um
estudo realizado pelo Centro
de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da UFMG,
mostra que algumas características de Lygia aumentam as
chances de ser vítima de crimes
como roubos, furtos, arrombamento a residência e roubos a
carros. Ela é mulher, mora numa área nobre, tem nível superior, é branca e vive numa casa.
O estudo, que trabalhou com
dados de uma pesquisa de vitimização feita pelo Ilanud (órgão da ONU sobre delitos e tratamento do delinqüente) e pela
USP em 2002, mostrou que,
além dessas características, outras duas também estão correlacionadas a uma maior chance
de ser vítima desses crimes:
portar arma e freqüentar eventos sociais diariamente.
Para calcular o risco de ser vítima de um desses crimes, Betânia Peixoto, Mônica Andrade
e Sueli Moro procuraram identificar, a partir das respostas
dos entrevistados, fatores que,
isoladamente, aumentavam essa probabilidade.
Essa técnica é necessária
porque a simples comparação
de percentuais poderia levar a
resultados inconsistentes. Se,
por exemplo, na população
branca houver mais pessoas
com maior nível de renda e vivendo em áreas de alto padrão,
é de se esperar que haja mais vítimas de roubos e furtos não
por causa da cor da pele, mas,
sim, por causa dessas outras características.
Ao controlar todas os elementos possíveis, as pesquisadoras tentaram comparar grupos de perfil semelhante. Trabalharam com a pesquisa de vitimização de 2002 porque foi a
última a aplicar o mesmo questionário em quatro capitais
(Rio, São Paulo, Recife e Vitória). A vantagem desse tipo de
pesquisa é que é o entrevistado
quem diz se foi vítima de crime.
Em estatísticas de secretarias
da Segurança, há, para alguns
crimes, alta subnotificação.
O fator que mais contribuiu
para aumentar a chance de ser
vítima de roubo, furto, arrombamento a residências e roubo
a carros é portar arma (119% a
mais de chance de ser vítima).
Betânia Peixoto alerta, no
entanto, que não se pode estabelecer uma relação de causalidade, já que não se sabe se a
pessoa armada é mais vítima
por se expor mais ao perigo ou
se, por já ter sido vítima, decidiu comprar uma arma para se
proteger de eventuais riscos.
Freqüentar eventos sociais
diariamente foi a segunda característica mais determinante
-aumentou em 75% a chance.
Depois, vieram morar em área
de alto padrão (42%), ser mulher (31%) e ser branco (28%).
Jovens
Como a pesquisa de vitimização não investiga homicídios,
esse padrão é bastante distinto
do comumente encontrado entre as vítimas de assassinatos,
que acontecem principalmente
em áreas pobres e entre jovens
e negros.
"No caso de ser jovem, por
exemplo, nossa pesquisa não
encontrou uma relação significativa. Isso sugere que eles são
mais vítimas dos crimes que
analisamos não por serem alvos preferencias pelo fato de
serem jovens, mas, sim, por se
exporem mais a situações de
risco. Jovens com comportamentos mais parecidos com o
de adultos, por exemplo, têm
chances muito próximas de serem vítimas", diz Peixoto.
Como a pesquisa de 2002 foi
feita em quatro cidades, foi possível comparar também a probabilidade de um indivíduo
com as mesmas características
ser vítima de um dos crimes
analisados em cada capital.
Nessa análise, as chances de
ser vítima em Recife e São Paulo se mostraram maiores do
que no Rio ou em Vitória. "Ao
contrário do evidenciado pela
mídia, o Rio não é a capital mais
perigosa do Brasil", dizem as
autoras no estudo.
Queda
A Folha procurou a Secretaria da Segurança Pública de São
Paulo, que respondeu que não
comentaria pesquisas feitas
por outros institutos. No entanto, ponderou que houve
queda em alguns crimes desde
2002. O site da secretaria mostra que de 2002 a 2007, para a
cidade de São Paulo, houve
queda de 20% na taxa de roubos ou furtos de carro e de 12%
na taxa de roubos por 100 mil
habitantes. Os furtos, no entanto, apresentaram aumento
de 15% no mesmo período.
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