São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Mãe que liberou carro para filho muda versão

LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A desempregada Niva Leite Manoel, 33, foi detida pela Polícia Rodoviária Federal com o filho de 14 anos na via Dutra, no dia 23. Quem dirigia o Gol era o garoto, que, segundo ela, começou a aprender a guiar aos 11 anos. Na delegacia, Niva assinou um termo se comprometendo a comparecer à Justiça.
Ela disse à polícia que costumava levar sempre o filho para treinar aos domingos, pois é habilitada e teria condições de dar as aulas. À Folha Niva contou uma história diferente.
Embora tenha assumido que ensina o filho a dirigir, disse que estava se sentindo mal e, por isso, passou-lhe o volante.  

FOLHA - O que aconteceu?
NIVA LEITE MANOEL
- Estava com o meu rapaz de 14 anos e estava passando mal. Por isso dei o volante ao meu filho. Sou viúva e não tenho ninguém para cuidar de mim em casa. Ou seja, passei mal, dei o volante a ele, e a polícia me parou e apreendeu o carro. Não estava na Dutra, era [uma via] paralela. É um local onde todo mundo aprende a dirigir. Dois minutos que o meu filho pegou o volante, a polícia parou e fez essa palhaçada, com tantos bandidos soltos por aí.

FOLHA - Seu filho dirigia porque a senhora estava passando mal ou vocês estavam treinando direção?
NIVA
- Ele já é apto a dirigir normalmente. Eu estava passando mal. Inclusive não deu tempo de falar isso para o policial. Foi coisa de vertigem que eu estava sentindo. Eu dei o volante na mão dele para que dirigisse até o posto. Falei para meu filho: "Lá, vou tomar uma água, sentar um pouco fora do carro e depois pego a direção".

FOLHA - A polícia disse que a senhora afirmou que estava ensinando seu filho a dirigir. Isso não confere?
NIVA
- Não confere porque eles não falaram nada. Simplesmente olharam no rosto do menino, acharam que era menor de idade e puseram no camburão. Não deu tempo para nada.

FOLHA - O que a senhora acha de menor de idade dirigir carro? As pessoas não podem acabar morrendo?
NIVA
- Com certeza. Acho que dependendo da situação do pai, lógico que uma criança [na direção] é perigoso. Se mulher já é perigo constante, imagina uma criança. Tendo juízo suficiente uma mãe ou um pai têm capacidade para ensinar um filho a dirigir. Acho mais errado dar um volante para o adolescente conduzir o carro sozinho. Desde que a mãe ou o pai estejam do lado, ou em uma emergência, acho que [a polícia] tem que pegar um pouco mais leve.

FOLHA - A senhora nunca deu o carro para ele sair sozinho?
NIVA
- Não.

FOLHA - A senhora está sem carro?
NIVA
- Estou sem carro e sujeita a perder a carta por uma coisa que foi inconseqüência minha, mas estava ciente do que estava fazendo. Não era no meio da semana, era domingo de Páscoa, tudo vazio, não tinha ninguém. Meu filho já dirige desde os 11 anos. Eu estava responsável e estou perdendo meu carro, que está no pátio e não vou ter dinheiro porque já está no valor de R$ 400 para tirar.
Sou viúva e desempregada; fazia vendas na porta de firmas com o carro. Agora tenho um bebê de dez meses que não sei como fazer para dar leite a ele.

FOLHA - A senhora ensina seu filho a dirigir?
NIVA
- O pai dele faleceu. Aos domingos à tarde costumo levar ele para pegar o volante e ir treinando, para se acontecer algo de madrugada ter alguém para pegar o volante. Tiro o carro da vila e levo para um campo deserto para ele praticar.

FOLHA - Não poderia ter acontecido nenhum acidente?
NIVA
- Não, porque eu sou uma pessoa bem consciente do que estava fazendo.


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