São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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"Só dirijo perto de casa", diz garota de 16 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Muitos jovens aprendem a dirigir com parentes e têm autorização para guiar sozinhos em pequenas distâncias. Luiza (nome fictício) tem 16 anos e pratica direção quase todos os fins de semana na Vila Nova Mazzei, zona norte de São Paulo. "Quem me ensina é o meu tio, mas só dirijo nas ruas perto da minha casa, com ele do meu lado. Nunca vamos para avenidas movimentadas."
Já Joana (nome fictício), que fez 18 anos na semana passada e tenta tirar a CNH, tem autorização para ir bem mais longe. "Desde que tenho 16 anos meus pais me deixam ir dirigindo sozinha até o shopping Ibirapuera, que fica a 15 minutos de casa, e até a casa da minha avó."

Acidente em SP
Camilla Friedrich Lauria, 15, Clare Francis Faricy, 15, e Zaida Schilman, 14, caminhavam até uma pizzaria de Aldeia da Serra, na Grande São Paulo, quando aceitaram carona de dois garotos de 15 anos num Pálio. O motorista perdeu o controle do veículo em uma curva e caiu em um lago -as três meninas morreram afogadas.
O acidente foi em maio de 2006, mas está vivo na memória do engenheiro Marco Lauria, 43, pai de Camilla. "Plantamos três árvores para as meninas na margem do lago. Estão começando a florescer. Paro lá de vez em quando para cuidar."
Segundo denúncia do Ministério Público, o rapaz de 15 anos tinha autorização dos pais para dirigir qualquer carro da família e teria até ganho o Pálio de presente. Ele e o amigo escaparam do acidente nadando.
Os promotores tentam fazer com que os pais do garoto respondam por homicídio culposo (sem intenção de matar), por não terem proibido o filho de dirigir. Se a Justiça não acatar essa denúncia, eles devem responder pelo artigo 310 do Código Brasileiro de Trânsito -que proíbe motoristas de entregar o carro a pessoas não habilitadas.
Segundo Fernando Castelo Branco, professor de direito penal da PUC-SP, a maior parte dos pais flagrados deixando os filhos dirigirem é punida pelo artigo 310. No papel, a pena pode chegar a um ano de prisão, mas na prática os condenados prestam serviços comunitários ou doam cestas básicas.
Segundo o psicólogo Salomão Rabinovich, da associação das vítimas do trânsito (Avitran), a prática de ensinar os filhos adolescentes a dirigir ou entregar a eles o carro da família para fazer curtos trajetos é comum em qualquer cidade brasileira, mas muito mais intensa em condomínios, onde não há fiscalização policial.
"Um vizinho meu, em Tamboré, comprou um Ecosport para o filho de 13 anos", disse Linda Faricy, mãe de Clare.


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