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"Só dirijo perto de casa", diz garota de 16 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
Muitos jovens aprendem a
dirigir com parentes e têm autorização para guiar sozinhos
em pequenas distâncias. Luiza
(nome fictício) tem 16 anos e
pratica direção quase todos os
fins de semana na Vila Nova
Mazzei, zona norte de São Paulo. "Quem me ensina é o meu
tio, mas só dirijo nas ruas perto
da minha casa, com ele do meu
lado. Nunca vamos para avenidas movimentadas."
Já Joana (nome fictício), que
fez 18 anos na semana passada
e tenta tirar a CNH, tem autorização para ir bem mais longe.
"Desde que tenho 16 anos meus
pais me deixam ir dirigindo sozinha até o shopping Ibirapuera, que fica a 15 minutos de casa, e até a casa da minha avó."
Acidente em SP
Camilla Friedrich Lauria, 15,
Clare Francis Faricy, 15, e Zaida Schilman, 14, caminhavam
até uma pizzaria de Aldeia da
Serra, na Grande São Paulo,
quando aceitaram carona de
dois garotos de 15 anos num Pálio. O motorista perdeu o controle do veículo em uma curva e
caiu em um lago -as três meninas morreram afogadas.
O acidente foi em maio de
2006, mas está vivo na memória do engenheiro Marco Lauria, 43, pai de Camilla. "Plantamos três árvores para as meninas na margem do lago. Estão
começando a florescer. Paro lá
de vez em quando para cuidar."
Segundo denúncia do Ministério Público, o rapaz de 15 anos
tinha autorização dos pais para
dirigir qualquer carro da família e teria até ganho o Pálio de
presente. Ele e o amigo escaparam do acidente nadando.
Os promotores tentam fazer
com que os pais do garoto respondam por homicídio culposo
(sem intenção de matar), por
não terem proibido o filho de
dirigir. Se a Justiça não acatar
essa denúncia, eles devem responder pelo artigo 310 do Código Brasileiro de Trânsito -que
proíbe motoristas de entregar o
carro a pessoas não habilitadas.
Segundo Fernando Castelo
Branco, professor de direito penal da PUC-SP, a maior parte
dos pais flagrados deixando os
filhos dirigirem é punida pelo
artigo 310. No papel, a pena pode chegar a um ano de prisão,
mas na prática os condenados
prestam serviços comunitários
ou doam cestas básicas.
Segundo o psicólogo Salomão Rabinovich, da associação
das vítimas do trânsito (Avitran), a prática de ensinar os filhos adolescentes a dirigir ou
entregar a eles o carro da família para fazer curtos trajetos é
comum em qualquer cidade
brasileira, mas muito mais intensa em condomínios, onde
não há fiscalização policial.
"Um vizinho meu, em Tamboré, comprou um Ecosport
para o filho de 13 anos", disse
Linda Faricy, mãe de Clare.
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