São Paulo, terça-feira, 31 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOACYR DE GÓES (1930-2009)

Um educador de pés no chão de terra batida

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao ouvir os pedidos do povo por mais educação, a Prefeitura de Natal justificou-se: a administração atravessava uma época de vacas magras, não haveria dinheiro para levantar escolas de alvenaria.
A solução veio da própria comunidade, e a ideia foi encampada pelo então secretário da Educação naquela década de 60: Moacyr de Góes.
Se alvenaria não dá, erguemos escolas de palha. Foi assim que surgiu o projeto "De pé no chão também se aprende a ler", que atendeu 40 mil alunos até 1964, uniu educação e cultura popular e marcou a carreira de Moacyr.
Amigo de Paulo Freire, desde a época em que estudou direito em Recife, foi ser professor de história após se decepcionar com a advocacia. Em seu mandato, foram construídos nove galpões de palha para as aulas. Em alguns, não havia eletricidade -as salas eram iluminadas com candeeiros; o chão era de terra.
Em 1964, com o golpe militar, Moacyr foi preso, acusado de subversão, e as escolas foram fechadas. Na cadeia, proibido de receber visitas, não soube que seu filho caçula nascia, como lembra a mulher -e também professora de história-, Maria Conceição.
Solto, foi ao Rio, onde deu aulas em colégios e, com a anistia, conseguiu transferir seu antigo cargo de professor para a UFRJ. No fim dos anos 80, foi secretário da Educação no Rio; depois, voltou a ser secretário em Natal por seis meses. Escreveu vários livros.
Na sexta, morreu aos 78, devido a um câncer de bexiga diagnosticado há cerca de três anos. Deixa cinco filhos (entre eles, o diretor de cinema Moacyr Góes) e seis netos.

obituario@grupofolha.com.br


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Amazonas: Queda de turbina causou prejuízos de R$ 31,3 mil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.