São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÓCIO

Usuários elogiam, comerciantes faturam menos e motoristas reclamam na primeira de quatro interdições da avenida

Lazer na Paulista opõe público e feirantes

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Transformada em picadeiro, a avenida Paulista ouviu o convite do palhaço João Grandão: "Vamos chegar, pessoal. A rua é nossa!". O volume de público ainda não era respeitável, com o termômetro em 17C, às 10h30 de um nublado domingo -o primeiro de quatro previstos em que a mais famosa via da cidade terá o trânsito interditado, da alameda Casa Branca à Peixoto Gomide, para sediar atividades culturais e recreativas gratuitas, das 9h às 14h.
Mas quem passava por ali atendeu ao chamado do palhaço e parou para ver sua Cia. do Quintal. Como manda a tradição clownesca dos espetáculos de rua, alguns espectadores foram "escalados" para atuar, sem aviso prévio.
É o caso do técnico em telecomunicações Alcides Sae de Oliveira, 47, que "interpretou", sem se vexar, um vaso sanitário, no imaginário domicílio da cena Casa Viva. "É interessante quebrar o gelo da Paulista com um espaço de lazer como esse", disse Oliveira, acompanhado dos dois filhos.
Quem não achou graça no Domingo na Paulista -iniciativa da Prefeitura de São Paulo- foram os expositores das feiras de artesanato e de antigüidades, localizadas em frente ao Masp e em seu vão livre, respectivamente.
"Vou ser franca: quem vem num evento desses é pobre. E pobre não compra", diz Marlene Nara Bonomo, 62, que vende quadros cotados de R$ 10 a R$ 500. "Até agora [12h30], ninguém nem me perguntou preço."
A expositora Sandra Mara Petriceli, 58, diz que a interdição do trânsito afasta os clientes, habituados a estacionar para escolher e transportar as peças. "Vendi apenas um ímã de geladeira, por R$ 5. E para uma estrangeira."
Encabeçando a organização do evento, o presidente da Anhembi Turismo, Celso Marcondes, diz que "é real a preocupação com estacionamento", mas que esse "é um problema perfeitamente contornável, com o estabelecimento de convênios com estacionamentos próximos, por exemplo".
Além do teatro, atividades como ioga, massagem, oficina de jardinagem e sala de leitura, entre outras, tiveram público total de 15 mil pessoas, na avaliação conjunta dos organizadores e da PM, que não registrou ocorrências.
"Alguém aqui precisa gastar energia", diz a auxiliar de enfermagem Cátia Dionísio dos Santos, 33, e aponta o filho João Luca, 4, explicando por que andou de sua casa, na rua da Consolação, até a Paulista. Cátia economizou duas conduções, que a levariam até o parque Ibirapuera, para o lazer de domingo, e aproveitou para atualizar o visual com os voluntários do salão Soho, onde o corte custa R$ 32. Ontem, saía em troca da doação de um agasalho.
Acompanhando as pinceladas do filho Rafael, de 17 meses, depois de tê-lo supervisionado no pula-pula e no cortejo da banda de instrumentos, a pedagoga Vanda Souza de Barros, 37, disse: "Estou achando excelente. Nessa região não há muitas opções de lazer. Se isso fosse feito pelo menos duas vezes por mês, o pessoal da Paulista agradeceria".
Às 13h30, o engarrafamento de carros a partir da rua Itapeva, início do desvio do tráfego bairro-centro, ia até onde a vista alcança. A CET informa lentidão de 300 metros, nos dois sentidos.
"Ninguém merece. Está o caos. Bastam os dias úteis", comentou o casal de publicitários Christian Bachi, 26, e Reggiane Fortunati, 23, que tentavam chegar à feira de antigüidades. Como eles, muitos motoristas reclamaram que a interdição não havia sido suficientemente divulgada.


Texto Anterior: São Paulo: Desmanche explode e mata dois
Próximo Texto: Tráfego é liberado em viadutos e na avenida do Estado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.