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ÓCIO
Usuários elogiam, comerciantes faturam menos e motoristas reclamam na primeira de quatro interdições da avenida
Lazer na Paulista opõe público e feirantes
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Transformada em picadeiro, a
avenida Paulista ouviu o convite
do palhaço João Grandão: "Vamos chegar, pessoal. A rua é nossa!". O volume de público ainda
não era respeitável, com o termômetro em 17C, às 10h30 de um
nublado domingo -o primeiro
de quatro previstos em que a mais
famosa via da cidade terá o trânsito interditado, da alameda Casa
Branca à Peixoto Gomide, para
sediar atividades culturais e recreativas gratuitas, das 9h às 14h.
Mas quem passava por ali atendeu ao chamado do palhaço e parou para ver sua Cia. do Quintal.
Como manda a tradição clownesca dos espetáculos de rua, alguns
espectadores foram "escalados"
para atuar, sem aviso prévio.
É o caso do técnico em telecomunicações Alcides Sae de Oliveira, 47, que "interpretou", sem se
vexar, um vaso sanitário, no imaginário domicílio da cena Casa
Viva. "É interessante quebrar o
gelo da Paulista com um espaço
de lazer como esse", disse Oliveira, acompanhado dos dois filhos.
Quem não achou graça no Domingo na Paulista -iniciativa da
Prefeitura de São Paulo- foram
os expositores das feiras de artesanato e de antigüidades, localizadas em frente ao Masp e em seu
vão livre, respectivamente.
"Vou ser franca: quem vem
num evento desses é pobre. E pobre não compra", diz Marlene
Nara Bonomo, 62, que vende quadros cotados de R$ 10 a R$ 500.
"Até agora [12h30], ninguém nem
me perguntou preço."
A expositora Sandra Mara Petriceli, 58, diz que a interdição do
trânsito afasta os clientes, habituados a estacionar para escolher
e transportar as peças. "Vendi
apenas um ímã de geladeira, por
R$ 5. E para uma estrangeira."
Encabeçando a organização do
evento, o presidente da Anhembi
Turismo, Celso Marcondes, diz
que "é real a preocupação com estacionamento", mas que esse "é
um problema perfeitamente contornável, com o estabelecimento
de convênios com estacionamentos próximos, por exemplo".
Além do teatro, atividades como ioga, massagem, oficina de
jardinagem e sala de leitura, entre
outras, tiveram público total de 15
mil pessoas, na avaliação conjunta dos organizadores e da PM, que
não registrou ocorrências.
"Alguém aqui precisa gastar
energia", diz a auxiliar de enfermagem Cátia Dionísio dos Santos, 33, e aponta o filho João Luca,
4, explicando por que andou de
sua casa, na rua da Consolação,
até a Paulista. Cátia economizou
duas conduções, que a levariam
até o parque Ibirapuera, para o lazer de domingo, e aproveitou para atualizar o visual com os voluntários do salão Soho, onde o corte
custa R$ 32. Ontem, saía em troca
da doação de um agasalho.
Acompanhando as pinceladas
do filho Rafael, de 17 meses, depois de tê-lo supervisionado no
pula-pula e no cortejo da banda
de instrumentos, a pedagoga
Vanda Souza de Barros, 37, disse:
"Estou achando excelente. Nessa
região não há muitas opções de
lazer. Se isso fosse feito pelo menos duas vezes por mês, o pessoal
da Paulista agradeceria".
Às 13h30, o engarrafamento de
carros a partir da rua Itapeva, início do desvio do tráfego bairro-centro, ia até onde a vista alcança.
A CET informa lentidão de 300
metros, nos dois sentidos.
"Ninguém merece. Está o caos.
Bastam os dias úteis", comentou
o casal de publicitários Christian
Bachi, 26, e Reggiane Fortunati,
23, que tentavam chegar à feira de
antigüidades. Como eles, muitos
motoristas reclamaram que a interdição não havia sido suficientemente divulgada.
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