São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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SP atende 3 milhões de pacientes de cidades vizinhas

47% dos moradores da região metropolitana que dependem da saúde pública recorrem à rede da capital, segundo pesquisa

Estudo foi encomendado pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo; cidade nem sempre recebe pelos pacientes que vêm de fora

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos moradores da região metropolitana de São Paulo que dependem do sistema público de saúde, perto da metade -47%- recorre à rede de atendimento da capital, e não à de suas próprias cidades.
Descrito pelas autoridades de saúde como "invasão", esse movimento foi calculado por uma extensa pesquisa realizada pelo Ibope e obtida pela Folha.
A região metropolitana de São Paulo tem cerca de 19,6 milhões de habitantes. Excluindo-se a capital, há 8,8 milhões de moradores divididos entre 38 cidades. Desse grupo, segundo a mesma pesquisa do Ibope, 6,3 milhões (72%) utilizam a rede pública de saúde.
Aplicando-se o índice de 47%, as cidades vizinhas "exportam" para a capital quase 3 milhões de pacientes. Eles se juntam aos 7,6 milhões de pessoas que moram em São Paulo e também usam o sistema público da capital (70% dos 10,8 milhões de moradores).
O DataSUS informa que cerca de 13% dos atendimentos médicos realizados em São Paulo são de pacientes de fora da cidade. O levantamento do Ibope sugere que esse índice pode ser bem maior.
A pesquisa foi encomendada ao Ibope pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.
"Até agora, tínhamos poucos dados sobre quem é o "cliente" efetivo do SUS [Sistema Único de Saúde] em São Paulo. Para fazer o planejamento, precisamos desse tipo de informação", explica o secretário da Saúde, Januário Montone.
O SUS, que permite ao cidadão ser atendido gratuitamente em qualquer lugar do país, prevê que os municípios de uma mesma região devam atuar de forma integrada. Cidades pequenas não devem oferecer cirurgias de coração, por exemplo, devido à baixa demanda. Os pacientes que precisam desse tipo de operação são encaminhados para cidades maiores, que recebem o pagamento do SUS pelo procedimento realizado.
"Uma cidade que tem mais condições técnicas e científicas recebe um número maior de pessoas. A cidade de São Paulo é referência para todo o país e, em alguns casos, para a América Latina", diz Cleusa Bernardo, que ocupa no Ministério da Saúde o cargo de secretária substituta de Atenção à Saúde.
Essa força da medicina paulistana se vê na porta do Hospital das Clínicas, onde se concentram ambulâncias com placas de diversas cidades.
Outra evidência é o fato de a capital, com 7,6 milhões de pessoas que usam o SUS, ter emitido 14 milhões unidades do Cartão SUS -muitas pessoas de fora, na hora do cadastro, dão o endereço de parentes da capital.

Postos de saúde
No caso da chamada atenção básica, que inclui os postos de saúde, responsáveis pelos problemas de saúde mais simples e pelas ações de prevenção de doenças, não costuma haver verba extra para os pacientes de fora. Os repasses do SUS ocorrem de acordo com o número de postos na cidade e o tamanho da população. Diversos municípios estão atualmente em negociações para que se pague pelo atendimento desses pacientes a mais.
São Paulo também cuida de pacientes de cidades vizinhas que diariamente chegam à cidade para trabalhar. É o caso da diarista Jô Moraes Cardoso Tavares, 39. Ela mora em Diadema, mas trabalha nos Jardins (zona oeste). Sua referência é um posto de saúde localizado a alguns quarteirões dali, no Itaim Bibi (zona oeste). "Para mim, é mais viável fazer as consultas e pegar os remédios aqui. Só uso o SUS em Diadema em caso de emergência."
A pesquisa do Ibope, realizada entre dezembro de 2007 e fevereiro de 2008, foi domiciliar e incluiu 51.747 pessoas da capital e das cidades vizinhas.


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