São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSPORTE

Das 42 empresas, só quatro, segundo a prefeitura, fizeram propostas para participar da contratação emergencial de ônibus

Viações ignoram ameaça e mantêm boicote

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos empresários de ônibus de São Paulo ignorou as ameaças da prefeita Marta Suplicy e não entregou até ontem à noite as propostas para participar da contratação emergencial do sistema de transporte coletivo, válida pelos próximos seis meses.
Segundo a Secretaria dos Transportes, apenas 4 das 42 viações que operam desde janeiro haviam entrado em acordo com a administração petista até as 22h. Os nomes delas não foram divulgados.
O boicote do setor patronal pode levar a prefeitura a assumir a direção das empresas a partir de amanhã -hipótese levantada anteontem pelo secretário municipal dos Transportes, Carlos Zarattini, que, assim como Marta, não quis se manifestar ontem nem anunciar que medidas de emergência poderá tomar.
A Folha apurou que os empresários duvidam dessa possibilidade porque a administração Marta, além de deslocar funcionários, teria que assumir as dívidas e pagar os salários dos motoristas e cobradores já no próximo dia 5 -com gastos de R$ 48 milhões.
A prefeita havia dado um prazo até as 24h de ontem para que as empresas entregassem os envelopes. Quem não aceitasse, disse Marta, estaria fora do sistema.
A prefeitura teve dificuldades para atrair viações de outras regiões por se tratar de um contrato de apenas seis meses, que antecede a licitação que vai selecionar novos operadores por até 25 anos, a partir de julho de 2003.
Apesar da indefinição sobre quem controlará a frota a partir de amanhã, tanto a prefeitura como os empresários dizem que a circulação dos ônibus está garantida. Os atuais contratos emergenciais venceram no último dia 21, mas as viações aceitam manter a prestação dos serviços nessa situação enquanto não há acordo.
Os representantes do Transurb (sindicato das empresas) voltaram a discutir ontem com Marta e Zarattini medidas que aumentem a receita dos consórcios.
"A prefeita disse que não é possível. Não estamos enfrentando a autoridade dela, não estamos descumprindo nenhum contrato. Estamos apenas deixando de participar porque é um problema meramente econômico", afirmou Sérgio Pavani, presidente do Transurb, que, às 20h, ainda não via possibilidade de um acordo.
As viações se dividiram por causa da mudança de remuneração -nos novos contratos, os pagamentos por custo fixo caem de 65% para 30%; os desembolsos pela quantidade de passageiros sobem de 35% para 70%. Os únicos beneficiados com a medida e que podiam aderir à contratação, dos oito consórcios, eram os três das zonas norte e oeste.
"A gente não sabe se alguém vai aceitar. Se eles quiserem arcar, problema deles. O Transurb é democrático", disse Pavani, negando um racha com as viações que fechassem acordo com Marta.

Audiência
Apesar dos problemas com a contratação emergencial, a Secretaria Municipal dos Transportes confirmava até ontem à noite a realização de uma audiência pública hoje, às 9h, na Assembléia Legislativa, para abrir oficialmente os procedimentos de licitação do novo modelo de transporte.
A primeira audiência foi interrompida por motoristas e cobradores, que tentaram agredir Zarattini e destruíram parte do auditório Elis Regina, no Anhembi. Uma segunda convocação chegou a ser feita, mas a prefeitura suspendeu a sua realização por causa das ameaças de protestos dos trabalhadores, que temem a redução da frota e do emprego.
A Secretaria dos Transportes montou um esquema de segurança para hoje. Os motoristas prometem levar 4.000 manifestantes para a Assembléia Legislativa -dos quais 250 devem participar da apresentação. A presença da categoria pode prejudicar a saída de parte dos ônibus das garagens.



Texto Anterior: Para 27,1%, Brasil será pior
Próximo Texto: Melhorias só devem começar após 2005
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.