São Paulo, terça-feira, 31 de julho de 2007

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De saída, brigadeiro critica pista de Cumbica

Presidente da Infraero, que deve deixar o cargo a qualquer momento, diz que ela não é confiável "porque está cheia de remendos'

Ministro Nelson Jobim decidiu demitir Pereira, desgastado durante a crise aérea, mas ainda procura um substituto para o cargo

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Em Cumbica, turistas esperam ônibus que os levaria a Congonhas


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero (estatal responsável pelos aeroportos), disse ontem que a segunda pista de Cumbica (Guarulhos) "não é confiável" e defendeu que os reparos comecem imediatamente, para que ela volte a operar com absoluta segurança no início de 2008. "Começar o ano zerado."
Apesar disso, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) acha que não é possível interditar a pista agora, porque boa parte dos vôos de Congonhas está sendo transferida para Cumbica e para Viracopos (Campinas) e isso tumultuaria ainda mais o setor. A agência defende que as obras só comecem a partir de março de 2008.
À Folha, o brigadeiro -que pode deixar a presidência da Infraero a qualquer momento- disse que uma das duas pistas de Cumbica pode ser considerada "perfeita", mas "a outra tem 20 anos, está cheia de remendos e não há grooving [ranhuras para dar mais atrito e facilitar a frenagem dos aviões] nos remendos".
Ainda segundo Pereira, "essa segunda pista é a mais afastada, que está mais sofrida", e fez uma advertência: "Imagina se um avião pousa e solta uma parte qualquer? Aí, lá vamos nós lá, correndo de novo".
Ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, decidiu mudar o comando da Infraero. A substituição só não havia sido efetivada até ontem porque Jobim ainda procura quem assuma o cargo no lugar de Pereira, desgastado e criticado pela atuação durante a crise aérea.
No domingo, Jobim conversou com Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil e um dos cotados para assumir a Infraero. Mas a articulação, em princípio, não deu certo. Maranhão, segundo assessores de Lula, avisou que compromissos firmados anteriormente o impediriam de assumir a empresa.

Tudo pronto
Pereira disse que a Infraero já tem tudo pronto e planejado para começar as obras já, "até amanhã [hoje], se o governo quiser", e que tem condições de entregar a pista em perfeito estado até dezembro.
"O problema é que a Anac está tentando protelar [as obras] para março. Eles lá estão alegando que, se interditar a pista, vai aumentar o caos aéreo", disse o brigadeiro, antes da reunião de ontem do Conac (Conselho Nacional de Aviação Civil), presidida por Jobim.
Pereira discorda da avaliação da agência e defende soluções rápidas, mas perenes: "As soluções têm de ser consistentes, duradouras. De que adianta resolver as coisas por dois meses?
E depois? As malhas [aéreas] vão encrencar tudo de novo?"
Por meio da assessoria de imprensa, a Anac informou que a decisão sobre a reforma da segunda pista seria discutida durante audiência pública marcada para o último dia 18. Com a queda do avião da TAM em Congonhas em 17 de julho, a audiência foi cancelada e ainda não tem data para ocorrer.
Sobre sua saída da Infraero, Pereira disse que "cargo de serviço público não é vitalício, e tem de ter rodízio mesmo".
Avisou que não vai atirar: "Tenho horror de quem sai chutando o pau da barraca. Quem faz isso não tem consciência sobre o que é cargo público".
Ao chegar para a reunião do Conac, disse aos repórteres: "Eu fui colocado e preciso sair da mesma forma em que fui colocado. Tudo o que entra, sai. Tudo o que sobe, desce".
Para ele, as companhias aéreas estão tentando colaborar, até porque vão manter seus lucros em qualquer hipótese.
Defendeu também mais uma solução para desafogar os aeroportos estratégicos, especialmente Cumbica e Galeão: que os aviões cargueiros voem só de madrugada. "Piloto de cargueiro é igual a caminhoneiro, está sempre pronto, topa tudo."

Colaboraram LETÍCIA SANDER e SHEILA D" AMORIM


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