São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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SAÚDE
Desde 1994, é a primeira vez que o índice de pessoas infectadas pelo mosquito Aedes aegypti diminui no país
Combate à dengue reduz em 81% o número de casos no 1º semestre

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

Os casos de dengue registrados no país entre janeiro e junho deste ano caíram 81,4% em relação ao mesmo período de 98. É a primeira vez desde 1994 que o número de pessoas contaminadas pela doença pára de crescer.
Nos primeiros seis meses de 99, pelo menos 80.253 pessoas foram infectadas pelo Aedes aegypti, mosquito que transmite a dengue. No mesmo período do ano passado, 432,5 mil pessoas haviam sido contaminadas.
Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos com exclusividade pela Folha.
Apesar de a redução de 81,4% ser uma boa notícia, o controle da dengue no país ainda está longe de ser realidade (ver textos nesta página).
A marca de 80,2 mil casos registrados até 30 de junho passado ainda é superior aos 72 mil do primeiro semestre de 96 e a todos os casos registrados em 94: 56 mil.
"A gente sabe que ainda não venceu a dengue, 80 mil casos é um número muito alto. Não é hora de fazer oba-oba. Se dormirmos no ponto, a doença voltará com virulência", afirma o ministro da Saúde, José Serra.

Erradicação
Depois de ter erradicado o Aedes aegypti na década de 80, o Brasil assistiu ao ressurgimento da doença a partir de 90. Até 94, a dengue estava restrita a Estados isolados das regiões Sudeste e Nordeste.
Em 1995, a situação se agravou e a dengue passou a crescer sem controle. De janeiro a dezembro foram registrados 128,6 mil casos -um crescimento de 129,6% em relação a 94.
Mesmo com os sinais de alerta de 95, o governo demorou a agir. Embora o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha anunciado em março de 96 que o combate ao Aedes aegypti seria prioridade em seu governo, o plano de erradicação do mosquito só saiu do papel um ano e três meses mais tarde.

Sem saneamento
Além do atraso na liberação das verbas, o combate ao mosquito foi prejudicado por sucessivas mudanças no plano.
Em vez dos R$ 4,3 bilhões que seriam investidos de 97 a 99 em ações de saneamento, combate químico ao mosquito e campanhas educacionais, o governo optou por um plano mais modesto e barato.
As ações de saneamento foram deixadas de lado e o combate ao mosquito ficou restrito aos outros dois itens.
O resultado foi desastroso. Em 97, a dengue já era epidemia nacional, atingindo 254,9 mil pessoas. Apesar de os recursos começarem a ser liberados regularmente a partir de julho daquele ano, 98 foi ainda pior, com 529,4 mil pessoas infectadas.

Lição
A demora na liberação dos recursos para a dengue em 97 e as alterações feitas no plano levaram à demissão do presidente da Fundação Nacional da Saúde à época, Edmundo Juarez, e também contribuíram para o pedido de demissão do ex-ministro Adib Jatene.
Na avaliação de Serra, a lição que fica com a explosão da dengue é que "deixar um problema de saúde se prolongar" para conter gastos é sempre mais custoso para o país.


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