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ÁLCOOL
Acidente causado por motorista bêbado deve ser também atribuído ao estabelecimento onde ele bebeu, diz proposta
Conferência sugere responsabilizar bares
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
A responsabilidade pelo acidente provocado por um motorista
embriagado também deve ser
atribuída ao dono do bar ou restaurante onde essa pessoa bebeu
em excesso. Motoristas iniciantes
perderão a carteira e deverão retornar ao curso teórico se no período experimental de um ano forem surpreendidos com algum
nível de álcool no sangue.
As duas sugestões constam da
lista de propostas finais da 1ª Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos, que terminou ontem em Recife. As propostas serão encaminhadas aos presidenciáveis.
O conceito de redução de danos, no caso do álcool, consiste
em adotar práticas que diminuam
os riscos da bebida, já que boa
parte da população bebe e continuará bebendo.
Entre as propostas está a de um
trabalho conjunto entre os sistemas de saúde e de trânsito e a Justiça, de forma que as notificações
incluam o nível de álcool no sangue, as características da via e do
acidente e o local onde a pessoa
bebeu. Isso permitiria responsabilizar também o dono do bar pelo acidente. A Lei de Contravenções Penais proíbe que se venda
álcool a quem já está embriagado.
De acordo com estudos nacionais, entre 60% e 80% dos acidentes de trânsito tem alguma relação
com álcool. Cerca de 31 mil brasileiros morrem por ano no trânsito
das cidades e nas rodovias.
Embora o álcool ao volante deixe milhares de pessoas incapacitadas e mate em seis anos o que a
epidemia de Aids matou em 20, a
questão ainda não recebeu a devida atenção do governo, segundo
participantes do evento.
O programa nacional de Aids,
por exemplo, tem mais de cem
técnicos e grande visibilidade, enquanto o "projeto de redução da
morbi-mortalidade por acidentes
de trânsito" do Ministério da Saúde tem seis funcionários. "A preocupação com o tema é recente",
diz Eugênia Silveira Rodrigues,
consultora do projeto.
Nas propostas da conferência
de Recife também está a oferta de
transporte público no período
noturno -quando acontecem
mais acidentes-, a inclusão da
educação para o trânsito nas escolas e a transformação dos postos
de gasolina de pontos de venda de
álcool em pontos de informação e
prevenção.
Em Salvador, escolas públicas
municipais vão adotar um posto
de combustível mais próximo, e
um grupo de alunos ficará ali de
quinta a sábado distribuindo material informativo aos motoristas.
"Esse trabalho já vem sendo feito por estudantes de psicologia
em alguns postos", diz Antonio
Nery Filho, da Universidade Federal da Bahia e implementador
do projeto.
Nery é autor de uma pesquisa
que constatou que mesmo um
primeiro acidente não muda o
comportamento das pessoas.
Entre aquelas que estavam alcoolizadas na praia e que voltariam dirigindo, 25% já tinham sofrido um primeiro acidente sob
efeito do álcool.
Entre outras propostas da conferência está uma atenção especial
às populações indígenas, onde o
consumo de cachaça e mesmo de
álcool de limpeza está destruindo
a cultura e a resistência das tribos.
Atenção especial também foi
dada a mulheres, crianças e adolescentes, vítimas do abuso de álcool em muitas situações. A relação entre álcool e violência doméstica e abuso sexual foi relatada em muitos dos trabalhos.
Outra das idéias apresentadas
no congresso foi as "festas virtuais", espécie de jogos desenvolvidos nos EUA e na Nova Zelândia em que o jovem, pela internet,
participa de uma festa, escolhe a
música, a bebida, e vai sendo informado do nível de álcool e dos
riscos a que está sujeito.
O Hospital Albert Einstein criou
há dois anos uma "festa virtual",
que começou com 60 jovens e hoje "tem cerca de 900 acessos diários", disse Beatriz Carlini Marlatt, que participou da criação do
site (www.einstein.br/
alcooledrogas).
Aureliano Biancarelli viajou a convite da
Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos
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